Tudo o que Ella toca e principalmente o que Ella compra vira ouro. Presidente da Fontails Cisneros Art Foundation (CIFA), em Miami, Ella Cisneros é hoje uma espécie de Midas do mercado das artes. A empresária nascida em Cuba e criada na Venezuela fundou em 2003 o seu próprio museu, Miami Art Central (MAC) e vem sendo celebrada como uma das maiores colecionadoras do mundo. Graças a Ella, ao menos em parte, Miami cresceu como pólo de artes visuais. Por 33 anos, Ella foi casada com o magnata da mídia venezuelana Oswaldo Cisneros, dono de uma fortuna de US$ 6 bilhões, de quem se divorciou em 2001. De lá pra cá, alçou voo próprio, sermpre rodeada por uma comunidade de expoentes da arte contemporânea. Há três anos não vai a Caracas. Passa grande parte do tempo em Cuba. Ella se diz triste com a insegurança, a política e a economia do país comandado por Nicolás Maduro e vê com esperança o fim do embargo econômico em Cuba, onde se impôs a missão de divulgar os artistas locais. Em recente temporada no Brasil, esteve no aniversário de Carolina Andraus Miranda, em São Paulo, onde falou à coluna. Em terras brasileiras, teve um espanto: ficou impressionada com a alta nos preços das obras de artistas nacionais. Culpa dos novos ricos que querem imitar os velhos ricos. A expressão “por la ora de la muerte não é corrente em espanhol. Mas é mais ou menos isso que diz do mercado de arte brasileiro a milionária colecionadora.”

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ISTOÉ – Como você avalia a arte no Brasil?
Ella –
Há anos compro arte brasileira. Tenho artistas magníficos: os concretos todos, (Iberê) Camargo, (Helio) Oiticica, Jac Lerner. Entre os jovens, gosto da Carla Chaim. Gosto da Maria Fernanda Gomes. Adoro arte brasileira, é uma grande potência. O problema é o preço.

ISTOÉ – Por quê?
Ella –
Os preços subiram muito aqui. A arte no Brasil está muito cara. Brasileiros compram brasileiros e o preço das obras acompanha um mercado interno forte. Aqui se acostumaram com dólares. Fui ver Luiz Zerbini (na galeria Fortes Vilaça, em São Paulo). Pelo amor… US$ 275 mil? Até perguntei: “Por que não me diz em reais?”

ISTOÉ – Por que você acredita que os preços poderiam ser mais razoáveis?
Ella –
Olha, os artistas emergentes da America Latina têm seus preços na faixa de US$3 mil, US$5 mil. Aqui, um artista emergente custa US$12 mil, US$13 mil. É duas ou três vezes mais caro do que em qualquer outro país.

ISTOÉ – O que determina o preço das obras?
Ella –
É a força interna do mercado. O que determina o preço é quem é o seu galerista e quanto tempo e dinheiro o mercado vai investir na sua arte. Funciona assim. No Brasil, todo mundo tem dinheiro e todo mundo paga. Creio que, na economia brasileira, como em qualquer país emergente, há cada vez mais novos ricos. É uma quantidade de gente nova com dinheiro. O que quer essa gente? Comprar o que os outros compravam antes. E os preços sobem. Todos esses novos milionários querem ter obras que outros milionários já têm. É mais ou menos assim: “O que tem você? Ah, também quero.” Ou então: “Ah, você quer algum dos artistas concretos? Eu também!” Hoje há 12 mil novos ricos querendo comprar concretos. Mas agora, com a alta do dólar, os preços devem baixar.

ISTOÉ – Você passa a maior parte do seu tempo em Cuba. O fim do embargo econômico fará crescer o mercado de arte lá?
Ella –
Cuba não tem um mercado de arte. Não tem colecionadores, não tem dinheiro, não tem nada. O mercado cubano é formado por gente como eu e poucas pessoas que compram sua arte. Agora as coisas estão mudando. Este ano e ano passado, cresceu o número de americanos comprando artistas cubanos.