Os Estados Unidos foram a primeira potência mundial a sair da grande crise econômica de 2008. Depois de dois anos de recessão, o país voltou a crescer a partir de 2010 e, desde então, registrou cinco altas consecutivas do Produto Interno Bruto (PIB). Na semana passada, a longa sequência de indicadores positivos foi interrompida. Segundo dados do Departamento do Trabalho, em março foram criados, em todo o território americano, 126 mil postos de trabalho, o que corresponde a pouco mais da metade do que previam os especialistas. Pior ainda: a taxa de participação da população economicamente ativa encolheu para 62,7%. Trata-se do percentual mais baixo em quatro décadas. O recuo do emprego se deve sobretudo à redução dos investimentos das empresas. Eles avançaram 4,7% no quarto trimestre do ano passado – uma enormidade perto da paralisia do mercado brasileiro, mas pouco diante dos padrões americanos. Para efeito de comparação, no trimestre anterior os investimentos corporativos subiram 8,9%. Os dados acima levantam algumas questões. A maior economia do mundo perdeu o fôlego ou enfrenta um deslize momentâneo? O Brasil poderá ser afetado pelos indicadores negativos do governo de Barack Obama?

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NÃO HÁ VAGAS
Desempregados em busca de uma vaga em Nova York: cenário de incertezas

Na terça-feira 7, poucos dias depois de saírem os dados do emprego nos Estados Unidos, o Fundo Monetário Internacional publicou um relatório que prevê um período de crescimento baixo para a economia mundial. O documento adere à tese da “estagnação secular”, defendida desde o ano passado pelo ex-secretário do Tesouro americano, Larry Summers, e que consiste em projeções pessimistas para os próximos anos. De acordo com o FMI, as grandes economias vão crescer 1,6% ao ano entre 2015 e 2020, bem menos do que a média de 2,25% verificada antes da crise financeira de 2008. Os Estados Unidos, que vêm avançando a uma taxa anual de 2,2%, podem inclusive reduzir esse ritmo. Quando a economia americana vai mal, muitos outros países são afetados, especialmente os emergentes, que dependem do comércio internacional com as grandes potências. Os números divulgados na semana passada também serviram de combustível para a oposição republicana. Na terça-feira 7, o senador Rand Paul lançou oficialmente sua pré-candidatura às eleições presidenciais de 2016 com duras críticas à política econômica de Obama.

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No Brasil, a resposta foi imediata. A cotação do dólar, que vinha batendo seguidos recordes, caiu. Na quarta-feira 8, a moeda americana fechou seu valor de venda em R$ 3,0563 – o menor em mais de um mês. Os economistas, porém, defendem a ideia de que se trata de um impacto passageiro. “A queda do dólar é momentânea”, diz Roberto Luis Troster, professor da FIPE e ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos. “Existem fatores mais importantes influenciando na desvalorização do real.” Nessa conta deve entrar a instabilidade política e o próprio caos econômico. Por ora, a boa notícia para o mercado brasileiro é o provável adiamento da alta dos juros americanos. A consultoria Guide Investimentos esperava que a decisão do Federal Reserve de aumentar a taxa ocorreria em junho próximo, mas alterou a previsão para outubro. “O Brasil ganhou alguns meses para colocar a casa em ordem, recuperar a confiança do mercado e não perder investidores para os Estados Unidos”, diz o economista Ignácio Rey.

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O Brasil tem seus próprios demônios para controlar. Na quarta-feira 8, o IBGE divulgou a inflação oficial de março. O resultado confirma que a pressão inflacionária é o maior entrave econômico do País. No mês passado, o IPCA subiu 1,32%. No acumulado dos últimos 12 meses, o índice chegou a 8,13%, o maior em 11 anos. Não é só. Considerando apenas a inflação do mês de março, trata-se da maior alta desde a implementação do Plano Real. Segundo o IBGE, o setor que teve maior impacto no aumento do IPCA foi o elétrico, que disparou 22% em março. Nesse caso, é óbvia a má gestão do governo, que represou preços com o discurso de que estava estimulando a economia. O tempo mostrou que era exatamente o oposto. Agora o Brasil precisa pagar essa conta.

Fotos: Frances M. Roberts; Carolyn Kaster/AP Photo