Uma ajuda da vacina contra o tétano – doença grave causada pela bactéria Clostridium tetani – mostrou-se decisiva para aumentar de maneira significativa o tempo de vida de pacientes com o tipo mais letal de câncer cerebral. O imunizante foi adicionado ao tratamento de portadores de glioblastoma, enfermidade cujo prognóstico é geralmente muito ruim. A sobrevida após o diagnóstico é de pouco mais de um ano. A associação da vacina antitétano ao tratamento permitiu, no entanto, que um dos pacientes vivesse quase seis anos mais. Outro, a americana Sandra Hillburn, 68 anos, permanece viva mais de oito anos depois de saber que estava doente.

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SUCESSO
Kristen e Sampson conduziram a experiência. A recuperação
de Sandra (acima) é a que mais chama a atenção

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A experiência foi feita por médicos da Universidade de Duke (EUA) e relatada na última edição da revista científica Nature. Os cientistas tiveram a ideia de usar o imunizante contra o tétano porque queriam dar mais eficácia à imunoterapia – estratégia cada vez usada contra vários tipos de tumores e que tem como objetivo ativar o sistema de defesa do paciente para atacar as células doentes. Eles prepararam uma vacina a partir de células do sistema imunológico extraídas do doente e transformadas de forma a ajudar as outras células do exército de defesa a destruir o glioblastoma.

Estas células foram reinjetadas nos doze participantes do experimento. Antes, porém, parte dos voluntários recebeu duas doses da vacina contra o tétano. O restante teve uma dose administrada. Elas foram ministradas um dia antes da aplicação das injeções da imunoterapia (leia mais no quadro).

A diferença no tempo de sobrevida entre os que foram medicados com as duas doses da antitetânica e os que receberam o imunizante uma vez foi expressiva. Entre este último grupo, 50% teve sobrevida de 18,5 meses. Os números entre os imunizados duas vezes são bem diferentes. “Metade viveu entre 4,2 anos e 8,4 anos”, disse John Sampson, líder da pesquisa, que teve a participação de Kristen Batich. O caso de Sandra Hillburn foi o que mais chamou a atenção. Quando recebeu o diagnóstico, em 2006, foi informada de que teria três meses de vida. Hoje, vive cercada pelos cinco netos em New Jersey.

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Acredita-se que a antitetânica tenha servido como um alarme para deixar o sistema de defesa mais alerta, aumentando a eficiência da imunoterapia. No Brasil, o oncologista Fernando Maluf, chefe do Departamento de Oncologia Clínica do Hospital São José-Beneficência Portuguesa, em São Paulo, acha que o experimento reforça a importância do método. “Suas conclusões fortalecem a estratégia da imunoterapia. Ela será o futuro do tratamento”, afirma.

Os médicos planejam expandir o experimento para mais pacientes. “Estamos otimistas quanto à futura aplicação do tratamento”, disse Duane Mitchell, co-autor do artigo sobre a experiência.

Fotos: Seth Wenig/AP Photo; Shawn Rocco/Duke Medicine