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Filho de um metalúrgico e de uma dona de casa, Kim Patroca Kataguiri, de 19 anos, é o garoto que está por trás do Movimento Brasil Livre, um dos articuladores dos protestos que pedem a saída da presidente Dilma Rousseff. Na semana passada, ele recebeu a ISTOÉ numa produtora no centro de São Paulo, vestindo camisa xadrez de manga curta, bermuda cargo e meias brancas, sem tênis. É lá que ele grava vídeos satíricos, que fazem sucesso na internet. “É como se fosse uma linguagem de esquerda só que defendendo os valores certos”, diz. “Quero mostrar que é possível ser jovem, liberal e legal.” Depois de abandonar o curso de Economia na Universidade Federal do ABC, ele agora quer juntar dinheiro para estudar no exterior.

ISTOÉ – Há base jurídica para o impeachment da presidente Dilma Rousseff?
Kim Kataguiri – Ainda que ela não seja impichada por dolo, pode sê-lo por culpa. Foram oito anos no Conselho de Administração da Petrobras e ela não responsabilizou seus subordinados. E, uma vez que se impede o livre exercício dos três poderes, o presidente pode ser impichado. O Petrolão é exatamente isso. O governo usa dinheiro de estatais para submeter o Legislativo ao Executivo. Cria-se uma ditadura. 
 
ISTOÉ – Você está convicto de que Dilma é corrupta?
Kataguiri – Sem dúvida. Não há como chegar à posição em que ela chegou sem se envolver em todos os esquemas que a circundam. 
 
ISTOÉ – Com a divulgação da lista do Janot, que inclui o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, você acha que ainda há chance de o Congresso abrir um processo de impeachment?
Kataguiri – Sim. O PMDB é um partido corrupto, mas não é um partido que obstrui a democracia. Ainda que eles estejam envolvidos, há como passar o impeachment livrando-se do processo do Petrolão. O impeachment é um processo político que depende da aprovação das duas casas e o PMDB tem a maioria nelas.
 
ISTOÉ – Se Dilma for impichada, quem assume a presidência é o vice, Michel Temer. Ele seria capaz de fazer um governo melhor?
Kataguiri – Um governo menos pior. Apesar de provavelmente continuar com uma economia “neokeynesiana”, com intervencionismo e expansão monetária, o PMDB não vai fazer um governo totalitário, porque é a democracia que o manteve até agora.
 
ISTOÉ – O economista Luiz Carlos Bresser Pereira definiu a polarização das eleições de 2014 como “um ódio coletivo da classe alta, dos ricos, contra um partido e uma presidente.” Você concorda com isso?
Kataguiri – Não. Quem mais sofre com a crise econômica gerada pelo PT são os pobres. Não adianta um miserável receber Bolsa Família se o dinheiro dele é corroído pela inflação.
 
ISTOÉ – Qual é o seu sentimento em relação à Dilma e ao PT?
Kataguiri – Não é algo movido pela emoção. Estou vendo o que está acontecendo, estou vendo ela passando por cima do Legislativo, a inflação disparando, ela apoiando a Venezuela, ela querendo dialogar com o Estado Islâmico. É muito mais racional que um sentimento, um ódio. Não é infantil. Quem sente ódio é a militância petista. Tanto que quando passo nas ruas, as pessoas me reconhecem e falam: “Lá vai o molequinho branco de classe média, lá vai o fascista”.
 
ISTOÉ – Além do governo do PT, o que mais o indigna? A falta d’água em São Paulo, por exemplo?
Kataguiri – Claro. Sou a favor da privatização do sistema de água. Mas não posso colocar uma pauta por cima da outra. O momento é de indignação com o PT. 
 
ISTOÉ – Hostilizar a presidente é uma estratégia de protesto válida? Você concorda com as pessoas que xingam a presidente?
Kataguiri – Não. O campo de bater é nas ideias. Quando começa a atacar a pessoa, perde a razão. Temos que atacar as medidas antidemocráticas dela, o Estado inchado, não ela em si.
 
ISTOÉ – Você se considera um reacionário?
Kataguiri – Depende da definição de reacionário. Como diria Nelson Rodrigues, eu reajo contra tudo que não presta. Ou, como diria Eça de Queirós, “só um cadáver não reage aos vermes que o corroem”. Se for nesse sentido, sim. 
 
ISTOÉ – Você já foi agredido desde que iniciou o movimento?
Kataguiri – Fisicamente não. Só verbalmente na rua e pela internet.
 
ISTOÉ – Como você define sua ideologia?
Kataguiri – Sou um liberal. Defendo o liberalismo econômico, a redução dos impostos, do Estado, privatização das estatais, sistema de voucher para a saúde e para a educação.
 
ISTOÉ – Quando você defende o Estado mínimo, defende também a não intervenção do Estado na vida privada? É favor do casamento gay, da legalização da maconha?
Kataguiri – Eu sim, mas não falo pelo movimento. 
 
ISTOÉ – Do aborto também?
Kataguiri – Não, porque entra numa questão filosófica. O ser humano é um ser permanente contínuo? Essa é uma discussão que é levada muito superficialmente. 
 
ISTOÉ – Você é contrário ao salário mínimo?
Kataguiri – Sim, ele cria uma distorção de mercado. Quando você cria um salário mínimo, você limita o emprego para as pessoas que possuem menos capacidade de produzir. Mas os empresários não vão explorar a mais valia? Não. Você pode ver que no Brasil só 10% da população recebe o salário mínimo, o resto recebe mais. Se a teoria da mais valia fosse verdadeira, todo mundo receberia o salário mínimo, porque o empresário ia querer lucrar ao máximo em cima daquela pessoa. Ou seja, o que cria o verdadeiro piso salarial é o mercado em si, a competição dos empregadores pelos empregados e não a canetada de um burocrata em Brasília.
 
ISTOÉ – O que você leu da obra de Milton Friedman?
Kataguiri – Agora você me pegou. Faz tempo que não leio Friedman. Comecei a ler por conta própria. As obras que mais me influenciaram foram as de (Ludwig von) Mises, “As Seis Lições”, “O Caminho da Servidão”, de (Friedrich) Hayek, e “A Política da Prudência”, de Russell Kirk. 
 
ISTOÉ – E Karl Marx, você tem algum interesse em ler?
Kataguiri – Já li “O Capital” e “O Manifesto Comunista”. Não tem embasamento nenhum. Tanto que se lê Marx em Ciências Sociais, em Filosofia, só não se lê em Economia. E é um livro de economia, não de filosofia. É uma piada internacional em termos econômicos.
 
ISTOÉ – Você tem alguma ambição política? Pensa em se candidatar no futuro?
Kataguiri – Por enquanto, não penso nisso. 
 
ISTOÉ – Você já foi convidado a entrar em algum partido?
Kataguiri – Por incrível que pareça, pelo Psol, no ano passado.