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Durante depoimento de cinco horas na CPI da Petrobras, nesta terça-feira (10), o ex-gerente de serviços da estatal Pedro Barusco, um dos delatores do esquema de corrupção na empresa, afirmou que parte do dinheiro desviado de contratos foi destinada à campanha eleitoral da presidente Dilma Rousseff em 2010.

Barusco disse aos parlamentares que foram solicitados à empresa holandesa SBM Offshore recursos para campanha eleitoral e que os valores foram repassados ao PT, via o tesoureiro João Vaccari Neto.
 
"Foi solicitado a SBM um patrocínio de campanha, só que não foi dado por eles diretamente. Eu recebi o dinheiro e repassei num acerto de contas em outro recebimento", disse o delator. Ainda segundo Barusco, o total de recursos solicitados foi de R$ 300 mil.
 
Mais cedo, o ex-gerente da Petrobras afirmou que começou a receber propina ainda na década de 1990, por iniciativa pessoal, e que o esquema se institucionalizou em 2003. "Comecei a receber propina em 1997, 1998. Foi uma iniciativa pessoal, minha, junto com um representante comercial da empresa. (…) De forma mais ampla, em contato com outras pessoas da Petrobras, de forma mais institucionalizada, foi a partir de 2003, 2004. Não sei precisar a data."
 
O relator Luiz Sérgio insistiu para que o ex-gerente desse detalhes sobre o pagamento de propinas ocorrido ainda na década de 1990. Pedro Barusco argumentou que ocupava cargo menor e não fechava contratos. "Em relação a esse período eu não vou dar mais detalhes porque existe uma operação em curso e eu me reservo o direito de não comentar".
 
O ex-gerente também afirmou que os pagamentos de propinas eram feitos no exterior. "Eu recebia tudo [as propinas] no exterior, em contas na Suíça. Eu nunca paguei ou transferi recursos para ninguém."
 
O ex-gerente relatou que a divisão geralmente envolvia 2% do valor de contrato. Metade ficava "com a casa", como eram identificados funcionários da Petrobras, e o restante ficava com o PT, responsável pela indicação de Renato Duque, ex-diretor de serviços também acusado de envolvimento. "Eu cuidava da parte desse 0,5% que cabia a mim e ao Duque. E o restante o tesoureiro do PT cuidava".
 
Pedro Barusco negou que tenha acusado o PT de ter recebido US$ 100 milhões em propinas. "O que eu disse foi que eu estimava [com base no que eu recebi e no que vi na planilha]", afirmou. "Não tenho conhecimento [se o PT de fato recebeu]." O ex-gerente estima que o partido tenha sido beneficiado com valores entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões em propinas.
 
Barusco disse à CPI da Petrobras que não tinha outras contas no exterior para receber a propina arrecadada no esquema de corrupção. "Tudo o que tinha na Suíça eu devolvi", afirmou, referindo-se aos US$ 97 milhões que se comprometeu a devolver em seu acordo de delação premiada.
Em diversas ocasiões, Barusco reiterou que a divisão da propina era para o PT (através do ex-diretor de Serviços Renato Duque) e o dinheiro para PP e PMDB era gerenciado pelo ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa. Segundo ele, o controle da propina era feito em planilha e depois o "acerto de conta" era feito com os operadores.
 
Barusco é engenheiro e trabalhava ao lado de Renato Duque, ex-diretor de Serviços da estatal, indicado para o cargo pelo PT. Em suas delações, afirmou que ele e Duque dividiram propinas em "mais de 70 contratos" da Petrobras entre 2005 e 2010.  O esquema de propinas da estatal começou com o primeiro contrato de navio-plataforma com a holandesa SBM Offshore, em 1997, durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB).