pedro-barusco-cpi-zeca-ribeiro-ag-camara.jpg

 

A CPI da Petrobras na Câmara ouve nesta terça-feira, 10, o ex-gerente da estatal Pedro Barusco. Um dos delatores da Operação Lava Jato, que investiga esquema de desvios envolvendo contratos da Petrobras, ele é o primeiro a prestar depoimentos à nova comissão.

No início do depoimento, Barusco afirmou que começou a receber propina ainda na década de 1990, por iniciativa pessoal, e que o esquema se institucionalizou em 2003. ""Comecei a receber propina em 1997, 1998. Foi uma iniciativa pessoal, minha, junto com um representante comercial da empresa. (…) De forma mais ampla, em contato com outras pessoas da Petrobras, de forma mais institucionalizada, foi a partir de 2003, 2004. Não sei precisar a data."
 
O relator Luiz Sérgio insistiu para que o ex-gerente desse detalhes sobre o pagamento de propinas ocorrido ainda na década de 1990. Pedro Barusco argumentou que ocupava cargo menor e não fechava contratos. "Em relação a esse período eu não vou dar mais detalhes porque existe uma operação em curso e eu me reservo o direito de não comentar".
 
O ex-gerente também afirmou que os pagamentos de propinas eram feitos no exterior. "Eu recebia tudo [as propinas] no exterior, em contas na Suíça. Eu nunca paguei ou transferi recursos para ninguém."
 
O ex-gerente relatou que a divisão geralmente envolvia 2% do valor de contrato. Metade ficava "com a casa", como eram identificados funcionários da Petrobras, e o restante ficava com o PT, responsável pela indicação de Renato Duque, ex-diretor de serviços também acusado de envolvimento. "Eu cuidava da parte desse 0,5% que cabia a mim e ao Duque. E o restante o tesoureiro do PT cuidava".
 
Pedro Barusco negou que tenha acusado o PT de ter recebido US$ 100 milhões em propinas. "O que eu disse foi que eu estimava [com base no que eu recebi e no que vi na planilha]", afirmou. "Não tenho conhecimento [se o PT de fato recebeu]." O ex-gerente estima que o partido tenha sido beneficiado com valores entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões em propinas.

Barusco disse à CPI da Petrobras que não tinha outras contas no exterior para receber a propina arrecadada no esquema de corrupção. "Tudo o que tinha na Suíça eu devolvi", afirmou, referindo-se aos US$ 97 milhões que se comprometeu a devolver em seu acordo de delação premiada.

Em diversas ocasiões, Barusco reiterou que a divisão da propina era para o PT (através do ex-diretor de Serviços Renato Duque) e o dinheiro para PP e PMDB era gerenciado pelo ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa. Segundo ele, o controle da propina era feito em planilha e depois o "acerto de conta" era feito com os operadores.

Barusco é engenheiro e trabalhava ao lado de Renato Duque, ex-diretor de Serviços da estatal, indicado para o cargo pelo PT. Em suas delações, afirmou que ele e Duque dividiram propinas em "mais de 70 contratos" da Petrobras entre 2005 e 2010.  O esquema de propinas da estatal começou com o primeiro contrato de navio-plataforma com a holandesa SBM Offshore, em 1997, durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB).