No dia 12 de setembro de 1984, Leda Flora, repórter do jornal “O Estado de S. Paulo”, adentrou muito nervosa à sede da campanha presidencial de Tancredo Neves, em Brasília, com uma “bomba”. A redação do jornal estava recebendo telefonemas anônimos dizendo que um pistoleiro boliviano rumava para Goiânia, onde Tancredo faria um comício em dois dias, encarregado da missão de matá-lo. “Ele pediu 
que não houvesse nenhum esquema especial para que o atentado fosse impedido”, diz o jornalista José Augusto Ribeiro, assessor de Tancredo na época e autor de “Tancredo Neves – A Noite do Destino”, que está sendo lançado pela editora Civilização Brasileira.

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QUASE LÁ
Tancredo Neves no período de lançamento de sua
canditatura à presidência do Brasil, em 1984

Com a volta das eleições democráticas no Brasil em 1984, Tancredo foi escolhido como representante da oposição ao governo militar por uma coligação de partidos. Acabou sendo eleito por voto indireto em 1985, morrendo antes da posse. O episódio das ameaças, nunca antes revelado, abre o livro, resultado de quase vinte anos de pesquisa do jornalista, testemunha ocular de boa parte do que narra nas quase 900 páginas da biografia. Ribeiro estava no escritório da campanha no dia da descoberta do furo, que o Estadão não publicaria depois da consulta feita ao canditato de Minas Gerais, símbolo da campanha pela volta das eleições diretas. Nos dias que se seguiram, a informação vazou. Mas o consenso de que a divulgação de uma ameaça do tipo estimulariao aparecimento das outras imperou nas redações concorrentes. Assim como Carlos Chagas, à época chefe da sucursal de Brasília do Estadão, todos as chefias dos outros veículos seguraram a notícia da ameaça de morte de Tancredo.

José Augusto Ribeiro se tornou assessor do político depois de acompanhar sua carreira como repórter. Desde então, portanto, o biógrafo reuniu material diretamente do personagem que considera um dos maiores estadistas do Brasil. Para a revista “Status”, em 1983, por exemplo, Tancredo contou para Ribeiro como havia ajudado a tirar Fernando de Noronha do controle dos norte-americanos durante a Guerra Fria. Algo que só fica comprovado agora, com a publicação do livro.

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COMOÇÃO
Acima, funeral no Palácio do Planalto, em abril de 1985:
o presidente morreu antes de assumir a presidência

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No curto período em que atuou como primeiro-ministro, em 1961, Tancredo teria recebido um telefonema do então embaixador dos EUA, Licoln Gordon, para a renovação de um combinado para manter a base militar na ilha brasileira. Tancredo não queria renovar o acordo. Discretamente, ele conseguiu estabelecer um combinado com o embaixador, segundo o qual a base seria retirada. “Encontrei um único documento, um ofício secreto não assinado de 19 de janeiro de 1962, que comprovava a história”, diz o jornalista.

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Foto: Folhapress, Ag. o Globo


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