Em pouco mais de dois meses no cargo, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, já enfrentou tormentas mais agudas do que seu antecessor, Guido Mantega, titular da pasta por quase nove anos nos governos Lula e Dilma. Nomeado com a missão de recolocar a economia do País nos trilhos, Levy conseguiu desagradar a pessoas e setores de polos extremos da sociedade. Por tomar medidas necessárias para deixar as contas em dia, ele passou a ser visto como um vilão pelas centrais sindicais. Também é criticado por representantes de grandes empresas, insatisfeitos com o ajuste fiscal que aumenta a carga tributária. Para completar o cenário negativo, o trabalho do ministro sofre rejeições de parlamentares do próprio PT. Em meio ao fogo amigo, militantes do partido chegaram ao ponto de pedir sua saída, como se o ministro fosse um quadro da oposição. O sucesso de Levy depende, claro, da aprovação de seu plano. Mas, além da indisposição do presidente do Senado, Renan Calheiros, a própria base aliada – principalmente os petistas – demonstra que não se sacrificará para salvar o pacote de Levy. Na quinta-feira 5, o ministro disse que a rapidez do Congresso na aprovação das medidas econômicas é fundamental para o País voltar a crescer.

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LAMÚRIAS
O ministro Joaquim Levy: as centrais sindicais condenam os cortes dos
direitos trabalhistas e os empresários reclamam do aumento da carga tributária

Assim que chegaram ao Congresso, as MPs 664 e 665 – que modificam as regras de concessão de benefícios trabalhistas e previdenciários – enfrentaram a rejeição de quatro senadores e nove deputados do PT. No Senado, Lindbergh Farias (PT-RJ), Paulo Paim (PT-RS), Marta Suplicy (PT-SP) e Ângela Portela (PT-RR) formaram a bancada de críticos. “Essa estratégia de retomada do crescimento tem que ser da presidenta Dilma”, afirma Lindbergh. “Não vamos admitir que cortem investimentos.” Na Câmara, o mal-estar com as políticas que tiram direitos dos trabalhadores é ainda maior. Até agora, os ministros da Casa Civil, Aloizio Mercandante, das Relações Institucionais, Pepe Vargas, e da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rosseto, não conseguiram quebrar o gelo entre a bancada do PT e o ministro da Fazenda. “O governo terá que dinamizar a política de emprego para se submeter os trabalhadores às regras novas”, diz a deputada Benedita da Silva (PT-RJ).

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Patrocinador das medidas impopulares, Levy ficou sozinho na defesa de seu pacote. Por duas vezes, foi escalado para uma atividade que lhe é estranha: reunir parlamentares para explicar pessoalmente a necessidade das mudanças. Os encontros marcados para segunda-feira 2 e quarta-feira 4 foram cancelados. Os deputados alegaram falta de tempo. Já os líderes do partido no Senado, Humberto Costa (PE), e na Câmara, Sibá Machado (AC), usam o impreciso gerúndio “estamos negociando” para fugir do tema. Nas reuniões com o governo, porém, eles argumentam que as novas regras trarão impacto político devastador, com risco de afetar a votação dos correligionários nas eleições municipais de 2016.

Menos refratários do que os petistas, os caciques do PMDB receberam Levy, há duas semanas, no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente da República, Michel Temer. Diante da hospitalidade dos peemedebistas, o ministro saiu confiante do encontro. O otimismo o estimulou a soltar a língua contra a desoneração da folha de pagamento promovida por Dilma em seu primeiro mandato. “Essa brincadeira nos custa R$ 25 bilhões por ano, e estudos mostram que não tem criado nem protegido empregos”, afirmou. A ousadia verbal de Levy foi repreendida pela presidente, que, em defesa de seu passado, praticamente deu caráter transitório ao pacote de Levy. “A desoneração foi importantíssima e continua sendo. Se ela não fosse importante, tínhamos eliminado e simplesmente abandonado. Acho que o ministro foi infeliz no uso do adjetivo”, afirmou Dilma. Levy mandou assessores dizer que se desculpava e reconheceu que errou na forma, “coloquial demais”, mas não retocou o conteúdo da crítica.

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O maior golpe contra o ministro da Fazenda foi dado na terça-feira 3, quando o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), um dos presentes na reunião do Jaburu, devolveu ao governo a medida provisória que alterava a política de desoneração da folha de pagamento. Representantes da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), que já haviam divulgado notas reclamando dos rumos da política econômica do governo, aplaudiram a rebeldia de Renan. O Planalto se apressou em enviar um projeto de lei com o mesmo conteúdo da MP, para desespero do empresariado. Mesmo em outro formato, a proposta depende da aprovação da Câmara e do Senado. Pelas dificuldades encontradas até agora – dentro e fora do governo, na oposição e na base aliada – Levy ainda terá muitas decepções pela frente. 


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