bebidas_alcoolicas_shutter 2.jpg

 

Muito se fala sobre overdose por drogas como cocaína ou heroína, mas poucos associam o consumo do álcool a uma intoxicação ou superdosagem. A morte do estudante universitário Humberto Moura Fonseca, de 23 anos, durante uma festa, repercutiu em todo o País e chamou a atenção pela quantidade de álcool ingerida por ele: 25 doses de vodca em poucos minutos, segundo a polícia. Isso equivale a mais de 1, 25 litro da bebida.

De acordo com o Dr. Marcio Dias de Almeida, hepatologista e coordenador clínico do departamento de transplante de fígado do Hospital Israelita Albert Einstein, a ingestão do álcool por si só dificilmente leva à morte. “Não é comum a morte por ingestão de álcool, mas sim pelas alterações provocadas pelo álcool”, explica. Fonseca, segundo o laudo necroscópico, sofria de uma doença do coração que, associada à intoxicação por álcool, pode ter levado à morte.

O maior risco, segundo Almeida, ocorre quando a pessoa vomita pelo excesso de álcool e, estando com o nível de consciência baixo, aspira a substância e sofre asfixia. O alerta é ecoado pelo Dr. Ronaldo Laranjeira, médico coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas na Escola Paulista de Medicina na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e PhD em dependência química. “Mais gente morre por aspirar o vômito do que por coma alcoólico”, diz.

Laranjeira ainda faz uma ressalva sobre os remédios antiémeticos (Engov e similares), que costumam ser ingeridos justamente para evitar os efeitos indesejados do álcool, como o vômito. Ele explica que o álcool é extremamente irritante para o sistema gástrico e que essa categoria de medicamento corta esse primeiro alerta. A pessoa, então, pode ir direto para um estado de inconsciência e ter uma parada respiratória.

O Dr. Ronaldo e o Dr. Márcio responderam a dúvidas comuns sobre o consumo excessivo de álcool em um curto espaço de tempo. Confira:

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Quais são as etapas do álcool dentro do organismo?
Após a ingestão, ele é absorvido pelo trato digestivo mais alto – estômago e intestino fino – e depois passa pelo fígado, entra na corrente sanguínea e chega até o sistema nervoso central, provocando queda gradual de consciência.

Quais os primeiros efeitos?
Isso depende de cada pessoa, conforme algumas variáveis (confira abaixo), mas os estágios costumam ser:
1- Euforia e/ou desinibição. Quando perdem o senso crítico, algumas pessoas ficam violentas;
2- Sedação leve;
3- Rebaixamento de consciência. Aqui pode haver um apagão e a pessoa fica incapacitada;
4- Coma alcoólico, inconsciência total, sem resposta nenhuma a estímulos, com perigo de asfixia;
5- Em casos mais graves, edema cerebral.

Quais os órgãos mais afetados por um consumo excessivo de álcool em curto prazo?
Primeiro, o sistema gástrico, já que o álcool irrita o trato digestivo. Fígado e cérebro também sofrem.
No longo prazo, pode haver danos severos a fígado, sistema respiratório e até mesmo coração. Existem doenças cardíacas e cerebrais que são consequência direta do consumo de álcool em excesso, como a cardiopatia alcoólica e a neuropatia alcoólica.

Quanto tempo o organismo precisa para metabolizar o álcool?
Em média, o corpo precisa de 1 hora para metabolizar 1 dose de bebida destilada ou 1 copo de cerveja. Ou seja, se você ingeriu 10 doses, haverá álcool circulando no seu organismo ao longo de 10 horas. O ideal é tomar 1 copo de água para cada dose de bebida alcoólica.
Os efeitos do álcool também variam de acordo com gênero, raça, porte da pessoa e até mesmo o grau de hidratação e alimentação.
Mulheres e orientais têm menos enzimas para a metabolização do álcool e estão mais suscetíveis aos efeitos da bebida. Pessoas maiores (tamanho ou peso) podem ter mais resistência. Pessoas com estômago vazio também absorvem mais rápido a substância.

Há alguma forma de acelerar o metabolismo do álcool dentro do corpo?
Não existe nada que acelere a eliminação do álcool. É importante manter a pessoa hidratada e controlar a glicemia. Café, banho gelado ou doces apenas ajudam a despertar, mas não eliminam o álcool do sangue e não acabam com a intoxicação.

Beber muito em um intervalo de tempo curto piora os efeitos?
Sim. Como o álcool é metabolizado a uma taxa fixa, a grande quantidade de bebida em pouco tempo vai aumentar a concentração no organismo, resultando em embriaguez mais rapidamente.

Em que momento a pessoa alcoolizada deve ser levada para o atendimento médico?
Quando a pessoa estiver extremamente sonolenta e não responder mais a comandos, já pode ser preciso cuidado especial. Mas é importante saber se ela está apenas sonolenta ou perdendo a consciência. Muitas vezes, amigos colocam a pessoa para deitar e dormir, quando na verdade ela já está com um nível de consciência bem baixo. Aí é que está o maior perigo, pois nesse momento ela pode vomitar e aspirar o líquido, o que leva à asfixia.

Caso a pessoa durma ou perca a consciência, é importe não deixá-la deitada de barriga pra cima, mas sempre de lado.

Que tipo de cuidado pessoas muito alcoolizadas recebem no hospital?
Não há muito o que fazer. Não existe medicação para isso. É preciso observação e controle da intoxicação. Basicamente, controla-se a hidratação e a glicemia por via venosa.

Fontes

Dr. Ronaldo Laranjeira, médico psiquiatra, coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas na Escola Paulista de Medicina na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e PhD em dependência química pela Universidade de Londres.

Dr. Marcio Dias de Almeida, hepatologista e coordenador clínico do departamento de transplante de fígado do Hospital Israelita Albert Einstein.


 


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias