Nos últimos 100 anos, o Rio de Janeiro passou por três grandes transformações. A primeira delas se deu no começo do século XX, sob o comando do prefeito-engenheiro Francisco Pereira Passos, quando a cidade promoveu a recuperação do degradado centro histórico. “Naquele momento, o Rio deixava de ser uma cidade colonial para se tornar uma metrópole nos modelos europeus”, diz o arquiteto Luiz Fernando Janot. A inspiração vinha, sobretudo, das reformas de Paris encomendadas por Napoleão III. Era a “belle époque” carioca. A partir dos anos 60, a cidade decidiu investir na conveniência do automóvel. Nesse período, nasceram os túneis que interligam a cidade, como o Rebouças (da zona sul à zona norte) e o Santa Bárbara, que conecta Catumbi a Laranjeiras. Agora, aos 450 anos, que serão completados neste 1º de março, o Rio vive a sua terceira e talvez mais radical transformação. Tudo graças à Olimpíada. As obras para a maior festa do esporte mundial marcam a valorização da zona oeste, especialmente da Barra da Tijuca, aproximando-a do restante da cidade. Do Parque Olímpico, com arenas e o estádio aquático, à Vila dos Atletas, as principais atividades acontecerão lá. Isso levou à criação da linha 4 do metrô, que vai ligar a Barra a Ipanema, na zona sul, e das linhas de ônibus articulados que circulam em vias seletivas, os chamados BRTs. “Desde a década de 60 que não se rea-liza simultaneamente no Rio um conjunto de obras tão vigorosas e relevantes para o futuro da cidade”, diz Luiz Fernando Janot, do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil.

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FUTURO MELHOR
O prefeito Eduardo Paes no Porto Maravilha:
“O Rio não é uma cidade perfeita, mas agora há novas perspectivas”

O Rio de Janeiro é hoje uma cidade de bem com a vida. Associada ao surgimento de uma nova realidade urbana vem uma retomada econômica sem precedente. Basta observar uma série de indicadores para perceber a dimensão do fenômeno. Nos próximos anos, o Rio tem confirmados investimentos da ordem de R$ 614 bilhões. A cidade já absorve um quarto de todo o dinheiro estrangeiro aplicado no Brasil e ostenta a menor taxa de desemprego do País. A solidez financeira vem também da chamada economia criativa, que engloba o setor de serviços, a cultura e, especialmente, o turismo. A pujança tem atraído levas de novos imigrantes. Resultado: os imóveis no Rio foram os mais valorizados no mundo em 15 anos. Entre 2000 e 2014, segundo levantamento da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), a alta de preços do setor foi de impressionantes 620%. Para o prefeito Eduardo Paes, o Rio finalmente se livrou do trauma de ter perdido o posto de capital federal para Brasília. “Os últimos 50 anos talvez tenham sido os piores da história do Rio”, diz Paes. “Agora vivemos o oposto. É uma cidade perfeita? Longe disso. A questão é que agora há novas perspectivas.”

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HORIZONTE
O governador Luiz Fernando Pezão: sintonia com o prefeito Paes para
atrair centenas de bilhões de dólares em investimentos

Durante os Jogos, a cidade será dividida em quatro zonas olímpicas: Barra da Tijuca, Complexo de Deodoro, Copacabana e Maracanã. Deodoro abrigará um ginásio de cinco mil lugares para provas de esgrima e o circuito de canoagem. Em Copacabana, serão realizadas as competições de praia e o Maracanã sediará as cerimônias de abertura e encerramento. Mas é na Barra que se concentrará metade das atividades esportivas. “A Olimpíada reforça um eixo de lazer e consumo que estava sendo direcionado para a zona oeste desde os anos 70”, diz João Masao Kamita, professor do curso de arquitetura e urbanismo da PUC-Rio. A ocupação da Barra na época conduziu investimentos para condomínios residenciais, grandes shopping centers e casas de shows. Agora ela ganhará mobilidade, além do metrô, com as vias expressas Transolímpica, que a ligará a Deodoro, a Transoeste, com conexão ao bairro do Campo Grande, e a Transcarioca, que levará ao Aeroporto do Galeão.

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“Quando deixou de ser a capital federal, o Rio passou anos procurando sua identidade”, diz Fabiana Izaga, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e secretária-geral do Instituto de Arquitetos do Brasil. “Brasília ficou com a política e o centro financeiro se afirmou em São Paulo. Com os grandes eventos, a cidade ganhou um norte.” Ela cita os sucessos da Jornada Mundial da Juventude, que, em 2013, recebeu o papa Francisco e dois milhões de visitantes, e a Copa do Mundo, com um saldo de 886 mil turistas no ano seguinte. Enquanto tudo isso acontece, uma nova cidade começa a nascer.

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Fotos: Felipe Varanda/ Ag. Istoé,Stefano Martini; Marco Teixeira 


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