Seu personagem fala palavrão, trai a mulher e conserva uma indisfarçável barriga de quem não chega perto da academia. Mas tem o Brasil aos seus pés. O cantor e ator Alexandre Nero, o Comendador José Alfredo Medeiros da novela “Império”, da Rede Globo, se tornou o sex symbol da estação com seu primeiro papel principal, aos 45 anos de idade e menos experiência na tevê que jovens modelos que vinham alimentando os papéis masculinos nos folhetins, como Cauã Reymond (leia na página ao lado), um dos egressos de sucesso de “Malhação”.

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FALTA HOMEM
Para Alexandre Nero, a imagem de homem real de seu personagem
é responsável pela grande visibilidade que ganhou nos últimos tempos

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“Ser protagonista ou não é uma questão mais do público do que minha. Eu vou trabalhando conforme as coisas vão me emocionando, me instigando, e se me sinto capaz de fazê-las, eu vou fazendo”, diz Nero, em entrevista à ISTOÉ (leia ao lado).
Domingos Montagner, como Nero, também tem pouco tempo de TV. Ator de teatro com longa experiência no circo, é outro bonitão de meia-idade com a agenda lotada de convites, que devem se multiplicar a partir da estreia de “Sete Vidas”, no dia 9 de março. “É um privilégio ter sido escolhido pela autora e pela direção”, diz Montagner, que vai interpretar o velejador solteirão que descobre ser pai de uma ninhada de sete filhos biológicos. Para o ator, a fama de galã não é uma questão de escolha. “A fantasia é do público”, acredita o ator de 53 anos, casado e pai de três filhos.

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Mas não é só a idade. Nero e Montagner trazem para os seus papéis uma presença e um envolvimento com os personagens e seus relacionamentos que alguém que acabou de sair da escola de teatro não é capaz de alcançar. E nem um nem outro vive exclusivamente da própria imagem. Os especialistas dizem que a escassez de galãs acontece em ciclos. “Nesse caso, trata-se da falta de gente dessa idade mais madura na televisão”, avalia Maria Immacolata Vassallo de Lopes, coordenadora do centro de estudos de telenovela da Universidade de São Paulo (USP). “É muito difícil perceber um galã a partir de uma aposta da “Malhação”, como aconteceu com o Cauã, que é um rapaz de estampa, mas para se tornar galã é preciso sustentar uma novela, ter talento. Isso exige um desenvolvimento da potencialidade do ator”, continua a pesquisadora. 

É tão raro o perfil no mercado que, mal “Império” entrou na reta final, Nero, que canta na banda Maquinaíma, emendou com a emissora seu próximo papel, outro protagonista na nova novela de João Emanuel Carneiro, “Favela Chique”, ainda sem data de estreia. “Em geral, assim que se sai de uma produção é comum se afastar um pouco e respirar. Essa sequência mostra a dificuldade em achar novos potenciais”, diz Maria Immacolata.

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PÃO DE CIRCO
Domingos Montagner vai dividir atuação no circo Zeni e no Grupo
La Mínima com o papel de protagonista em

Nero, que está no segundo casamento, acredita que o sucesso está mais nas características de seu personagem, o comendador, do que em seus predicados pessoais. “Eu não tenho os moldes de um galã tradicional, mas o José Alfredo acabou tendo um sex-appeal, uma pegada máscula que fez sucesso”, diz o ator. Mauro Alencar, membro da Academia Internacional de Artes e Ciências da Televisão de Nova York (EMMY), concorda com o potencial do tipo rústico “O jeitão bruto sempre funcionou e continua funcionando, a despeito de toda a mudança tecnológica e social”, explica Alencar. “Trata-se de um arquétipo masculino.” Que, também na tevê, anda em entressafra.

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Fotos: Sergio Santoian; Paulo Belote, João Cotta – Globo