Depois de livrar-se de 17 processos judiciais, que incluíam denúncias dos tempos do impeachment e ações por sonegação de impostos, o ex-presidente Fernando Collor (PTB) voltou a ser envolvido como suspeito num caso de corrupção. Desta vez, o caso é o suposto recebimento de propina em contratos da Petrobras intermediados por apadrinhados seus na estatal. O acusador de Collor é o doleiro Alberto Youssef. Ele disse em depoimento ao Ministério Público que o ex-presidente da República recebeu R$ 3 milhões de um negócio fechado pela BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras. O negócio teria ocorrido em 2012, quando Collor já era senador e mantinha na empresa o amigo José Zonis, que comandava a área de operações e logística. Collor teria recebido os R$ 3 milhões por intermédio do empresário Paulo Leoni Ramos, que já havia aparecido na investigação da Operação Lava Jato como sócio oculto de Youssef no laboratório Labogen. PP, como Leoni Ramos é conhecido, é dono da GPI Investimentos e Participações e amigo de longa data do senador. Quando Collor era presidente, PP ocupou a Secretaria de Assuntos Estratégicos.

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CANTILENA
Alvo de nova denúncia, Collor voltou a alegar inocência 

Segundo contou o doleiro, o negócio custou R$ 300 milhões e consistia na mudança de marca de uma rede de postos de combustíveis de São Paulo, que passou a integrar o grupo ligado à Petrobras. Emissários de Collor teriam cobrado o percentual do senador em espécie, enquanto o afilhado do ex-presidente na estatal, José Zonis, seria o intermediário com os empresários. Zonis, aliás, deu diversas demonstrações de fidelidade ao parlamentar alagoano enquanto esteve no cargo, entre 2009 e 2013. Uma delas foi a liberação de mais de R$ 200 milhões em um contrato com o usineiro João Lyra em 2010, que na época era um dos maiores caciques do PTB em Alagoas e aliado de primeira hora do senador. Lyra tinha patrimônio declarado de R$ 240 milhões, mas afirmou à BR Distribuidora que sofrera prejuízos milionários em suas usinas por conta das chuvas e foi socorrido no mesmo dia pela estatal a pedido de Fernando Collor.
A volta do ex-presidente ao centro das investigações de corrupção começou antes mesmo do depoimento de Alberto Youssef ao Ministério Público. No ano passado, a Polícia Federal identificou comprovantes bancários que mostravam depósitos feitos pelo doleiro na conta do senador. Segundo a PF, o repasse foi dividido em oito depósitos em espécie, que somaram R$ 50 mil. A denúncia foi encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF) e se transformou no Inquérito 3883, que tramita desde agosto de 2014. Collor é investigado por lavagem de dinheiro e os novos depoimentos do doleiro sobre o caso da BR Distribuidora serão anexados ao processo de 67 páginas que investiga as primeiras denúncias contra o senador.

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O ex-presidente nega as acusações feitas pelo doleiro desde o início da Operação Lava Jato. Ele acredita que a falta de provas levará o caso contra ele mais uma vez ao arquivamento. Enquanto o Ministério Público reúne provas e documentos, Collor segue com prestígio político inabalável. Em outubro, embora suas relações com o doleiro tenham sido exploradas durante o horário eleitoral gratuito, o senador foi reeleito com 689.266 votos, ou 55,69% do total válido. No mês passado, foi alçado a líder do PTB no Senado e vem sendo convidado a participar das articulações sobre divisão de cargos e votações. Até o fim das investigações, o ex-presidente vai continuar alegando inocência, enquanto seus correligionários seguem prestigiando-o e minimizando seu retorno ao rol dos investigados em ações judiciais.  

Foto: Marcos Oliveira