Uma das mídias de entretenimento mais lucrativas do mundo, os jogos de videogame ganham espaço no mercado apelando para uma das mais antigas diversões: a literatura. O jogo Device 6, vencedor do último Apple Design Awards, é um dos exemplos mais bem sucedidos dessa nova vertente, que encontra no Brasil o terceiro maior público no planeta: 45 milhões de usuários. Como num romance, a trama de Device 6 se desenvolve em torno da protagonista Anna, que acorda desmemoriada em um castelo e tenta descobrir como foi parar ali. Ao longo de seis capítulos, o game mistura referências de Franz Kafka e Lewis Carroll, usando o texto de maneira criativa, com frases se movendo na tela em diferentes sentidos.

Muito criticado, o popular Dante’s Inferno baseia-se na descrição de Dante Alighieri do tártaro em sua “Divina Comédia”. “Em termos de mecânica, não é um bom jogo, e lembra muito God of War, que já usava diversas fontes literárias”, explica Flávia Gasi, autora de “Videogames e Miltologia” (editora Marsupial). Flávia, cujo livro nasceu de uma tese de doutorado para a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), defende a ideia de que os jogos não precisam se ater a suas fontes de inspiração. Ela afirma que é comum os jogadores acabarem lendo e pesquisando as influências dos títulos originais. “Muita gente entrou em contato com a mitologia grega, por exemplo”, diz.

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Espelhos
Alice, a personagem mais famosa de Lewis Carroll (abaixo), serviu de
inspiração tanto para American McGee’s Alice (acima) quanto
para o premiado Device 6 (abaixo)

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Mais respeitado por jogadores e especialistas é American McGee’s Alice, de 2000. A história se passa depois do fim de “Alice Através do Espelho”, último da série de Lewis Carroll, quando um incêndio destrói a casa da personagem e mata seus pais. Com apenas sete anos de idade, Alice acaba sendo internada em um hospício até reencontrar o coelho branco – ainda sob tratamento – dez anos depois, que a leva de volta para o País das Maravilhas. Outros exemplos criativos do gênero incluem BioShock, de 2009, que usa conceitos da escritora russo-americana Ayn Rand sobre liberdade individual ao retratar uma sociedade aquática, e The Binding of Isaac, de 2011, baseado na Bíblia, que causou polêmica no lançamento ao mostrar uma mãe religiosa atormentada por vozes que ordenam ela a matar o filho.

Dois jogos independentes recentes mergulharam mais fundo na fonte literária. O primeiro é uma versão de “Ulysses”, de James Joyce, criada para que o jogador consiga entender melhor a intricada trama. O outro é Elegy For a Dead World, criado especificamente para escritores, no qual o objetivo é trocar histórias sobre civilizações antigas. Parece que a indústria de games entendeu que boas histórias rendem, ainda mais quando o consumidor pode participar de seu rumo.

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Fotos: Divulgação 


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