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Vint Cerf é vice-presidente do Google e um dos criadores da internet 

O septuagenário Vint Cerf provavelmente passaria despercebido pela pequena multidão de jovens que todos os anos vem a São Paulo participar da Campus Party. Dono de uma vasta calva e de uma sempre bem aparada barba branca, este vice-presidente do Google se parece muito mais com um executivo do mundo financeiro do que com um dos homens responsáveis pelo o que é a internet hoje. Foi Cerf, em conjunto com o engenheiro Bob Kahn, quem criou todo o sistema que deu origem à rede mundial de computadores. Não à toa, um dos criadores do Google, Eric Schmidt, não se cansa de dizer que Vint Cerf é uma das pessoas vivas mais importantes da história. Por isso, quando Vint Cerf fala, em geral, o mundo da tecnologia – em especial o adulto – para tudo para ouvir o que ele tem a dizer.

Cerf falou na semana passada. Fez previsões sombrias. Para ele, o mundo vive o risco de enfrentar o que chamou de uma “era das trevas digitais” se mecanismos de proteção das informações que estão sendo armazenadas digitalmente não forem aprimorados. E de forma rápida. Vint Cerf acredita que o barateamento e a popularização de mecanismos de armazenamento, como os discos rígidos cada vez maiores, são também um risco pelo fato de estarem ficando obsoletos cada vez mais rápido. “Talvez seja mais seguro imprimir suas fotos do que simplesmente guardá-las em um HD”, disse ele, brincando.

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Hoje, mais de 95% de todo o conhecimento do mundo está armazenado de forma digital. E isso vai de livros, teorias, projetos e fórmulas a plantas de edifícios ou esquemas de montagem de um avião supersônico, por exemplo. Há 15 anos, quando a internet já era uma realidade em praticamente todo o mundo, apenas 25% do conhecimento humano estava arquivado no meio digital.

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Ninguém sabe ainda muito bem como resolver essa questão. Há quem defenda, como o faz Cerf, que sejam criados “pergaminhos digitais”, uma série de instruções e imagens de sistemas atuais em funcionamento que permitam que máquinas do futuro simulem os programas de hoje. Um dos membros do projeto Rosetta, que pretende esculpir milhares de páginas de textos em diversas línguas em uma placa compacta para garantir sua conservação, o doutor Kurt Bollacker sugere duas soluções: escolher tecnologias de armazenamento de dados de forma inteligente e criar mecanismos para acessar o passado no futuro. “Nenhum desses processos garante a sobrevivência dos dados, mas não utilizá-los quase garante que as informações serão perdidas.”

Apesar das teorias tão complexas, por enquanto parece haver apenas duas saídas para preservar de forma mais segura o que está guardado em HDs, pen-drives, DVDs ou mesmo disquetes. Uma é transformar toda a informação digital em analógica, imprimindo tudo o que for possível imprimir.

A outra é fazer sucessivas cópias. “Parece que não há como evitar voltar ocasionalmente a esses tipos ‘ultrapassados’ de mídia”, diz Kurt Bolacker. “Este processo realmente parece envolver muito mais esforço que meus avós tinham quando enfiavam fotos em uma caixa de sapatos no sótão há décadas, mas talvez seja um dos custos dos milagres da era digital”, diz.


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