Dilma Vana Rousseff é a ministra-chefe da Casa Civil, a gerentona do governo que o presidente Lula escalou para tocar com mão de ferro o Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC. Valter Luiz Cardeal de Souza é o ferro da mão de Dilma no setor elétrico, a área que para ela é a que importa. De direito, Valter Cardeal, como é chamado, é apenas o diretor de Engenharia da estatal Eletrobrás. Mas de fato está controlando todo o setor. Desde janeiro, Cardeal acumula os cargos de diretor e de presidente-interino da Eletrobrás. Nessa função, está decidindo R$ 5 bilhões em investimentos diretos da estatal este ano. Dilma também o escalou para ser presidente do Conselho de Administração de Furnas, estatal responsável pela geração de energia no Sudeste. Nessa função, toca R$ 1,2 bilhão em obras e outro R$ 1 bilhão em custeio este ano. Cardeal foi igualmente escalado para presidir o Conselho de Administração da Eletronorte – mais R$ 940 milhões em investimentos e outro bilhão de reais em custeio. Se não bastasse, ele ainda controla, de forma direta ou indireta, todos os conselhos, grupos de trabalho ou estatais menores do setor, como a Eletrosul e a Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica (CGTEE), do Rio Grande do Sul.

Mesmo interino em todas essas funções, ele está mandando de fato, apoiado na força que Dilma, lhe dá. Na Eletrobrás, já brigou com os três colegas da diretoria. Gaúcho grandalhão, desbocado e desengonçado, ganhou dos diretores o apelido de Fred Flinstone. Em Furnas, a estatal onde o PMDB conseguiu emplacar como presidente o ex-prefeito do Rio Luís Paulo Conde, Cardeal se faz presente. Conde reclama que Cardeal monitora todos os seus movimentos. “Não mando nada aqui”, desabafou a um amigo. “Só o pessoal do cafezinho sobe na minha sala. Eu chamo os diretores e eles mandam dizer que estão viajando. Estão é com o Cardeal.” Dias atrás Conde tentou nomear um novo chefe da auditoria interna. Cardeal soube e o desnomeou. Na Eletronorte, ocorre o mesmo. Os diretores nomeados pelo PMDB também não podem se movimentar. Somente o diretor de Engenharia, Ademar Palocci, irmão do ex-ministro da Fazenda e filiado ao PT, tem alguma liberdade.

Os cardeais do PMDB estão chateados com o Cardeal de Dilma. Quatro deles estão irados – os senadores José Sarney, Renan Calheiros e Romero Jucá, e o deputado Jader Barbalho. Há uma lista de 26 cargos a serem entregues ao partido. O quarteto exige dez cargos no setor elétrico. Eles acham que Dilma está usando Valter Cardeal para impedir que sejam efetivadas suas indicações. Jader Barbalho, por exemplo, tenta nomear o afilhado Lívio Rodrigues de Assis, atual diretor do Detran do Pará, para a presidência da Eletronorte. Ele já tem na estatal o atual presidente, Carlos Nascimento, e o diretor de Gestão, Manoel Ribeiro. Jader quer trocar o presidente porque Nascimento ficou muito ligado à turma de Dilma. José Sarney, por sua vez, já tem na Eletronorte o diretor Financeiro Astrogildo Quental. Agora quer alçálo para a presidência da Eletrobrás, no lugar de Cardeal. Em Furnas, Renan quer manter o diretor Financeiro, Henrique Melo (não tem força para pedir mais), e Romero Jucá quer trocar o atual diretor de Administração, Luis Fernando Couto, indicado pelo ex-senador Nei Suassuna, por alguém do seu próprio time. Ele acha que Couto está por demais ligado a Cardeal. Para a presidência da Eletrosul, Renan e Jucá querem enviar o ex-governador de Santa Catarina Paulo Afonso Vieira. Mas Dilma tem seu próprio candidato, o ex-deputado do PT Mauro Passos. “A Dilma está numa manobra inteligente”, observa um político do PT próximo a Lula. “Ela está aproveitando todos os impasses políticos para manter sua hegemonia no setor elétrico.” Valter Cardeal, por exemplo, está interino em todos os cargos desde janeiro, aguardando a nomeação política dos titulares. Dilma vai procrastinando as nomeações.

Uma situação ilustra bem o estilo de Cardeal. Depois que emplacou Luís Paulo Conde, o governador Sérgio Cabral está empurrando para Furnas tudo quanto é patrocínio de ações do governo do Rio. Cabral acaba de bancar o Festival de Cinema do Rio e pediu a Conde que Furnas banque também a Parada Gay, em novembro. Quando soube, Cardeal reagiu ao melhor estilo gaúcho: Daqui a pouco, vão querer transformar Furnas num reduto de marrecas.”

UM PODER DIGNO DO ALTO CLERO
O que está nas mãos de Cardeal administrar

-Caberá a ele, na Eletrobrás, Furnas e Eletronorte, orientar o destino de R$ 243 bilhões em investimentos nos próximos 12 anos
-Até o final do governo Lula, serão R$ 47 bilhões em investimentos do PAC no setor elétrico
-Só para as obras do complexo do rio Madeira, a previsão de recursos é de R$ 36 bilhões em 10 anos
-Na Eletrobrás, o orçamento de investimentos para este ano gira em torno de R$ 5 bilhões
-Em Furnas, é mais R$ 1,2 bilhão
-Na Eletronorte, R$ 940 milhões

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias