Depois de dez anos dentro de caixas, mais de dez mil documentos pertencentes a Rosa Parks, a mãe dos direitos civis nos Estados Unidos, vêm a público. O acervo, incorporado à Biblioteca do Congresso Nacional dos EUA, conta uma história menos conhecida da costureira do Alabama que, ao se recusar a ceder o lugar no ônibus para um branco em 1955, deflagrou o processo que mudou a lei americana de segregação. Interpretada no cinema pela apresentadora Oprah Winfrey no filme “Selma – Uma Luta pela Igualdade”, parceira do pastor Martin Luther King Jr. na condução da NAACP (Associação Nacional para o Avanço da Pessoa de Cor), Parks foi alvo bastante frágil das avaliações históricas sobre o movimento que convulsionou os Estados Unidos entre as décadas de 1950 e 1960. Por uma disputa de espólio entre a família dela e o Instituto Rosa e Raymond Parks, o retrato de quem foi a mulher de olhar destemido por traz dos óculos na fotografia tirada no dia de sua prisão (que ilustra a página anterior) estava incompleto. Havia até quem julgasse que Rosa Parks calculara a ação que lhe mandou para a cadeia, justamente por contar com a pressão da opinião pública para colocar nas ruas o movimento. Mas não. Ela só estava cansada.

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SÍMBOLO
A ativista que mudou a história americana

A prisão e o processo lhe custaram o emprego na loja de departamentos em que trabalhava na época (para onde, aliás, rumava no ônibus no qual tudo começou). Segundo a principal biógrafa da ativista, Jeanne Theoharis, os registros que revelam a fragilidade de sua saúde (ela sofria de úlceras) e sua luta contra a pobreza também mostram o quanto ela continuou pagando pela desobediência, mesmo quando já era tida como símbolo de uma luta legítima. Julian Bond, ex-presidente da NAACP, disse ao jornal “The New York Times”, no dia da abertura da coleção, que foi um crime levar tanto tempo para liberar os documentos. Não restam dúvidas de que Rosa Parks escreveu seus diários para a posteridade.

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RECONSTITUIÇÃO
Acima, Rosa Parks e Luther King na Marcha sobre Washington.
Abaixo, o movimento retratado no filme "Selma – Uma Luta pela Igualdade"

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Uma das revelações inclusive é a hesitação na futura exposição da vida pessoal. Em algumas passagens, a ativista questiona se sua vida privada poderia decepcionar a multidão pró-igualdade que ela encorajou à luta. Cartas de crianças em idade escolar do acervo comprovam que Rosa Parks foi uma heroína de seu tempo. Mas os diários confirmam que, no fundo, ela só estava cansada de dizer sim, senhor.

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Fotos: Gene Herrick/AP; Johnson Publishing Company/llc; Atsushi Nishijima 


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