André Sarmento/Robson Fernadjes/AE
José Eduardo, que está em Madri, é acusado pela polícia de ter mandado explosivos em nome dos skinheads

O professor de educação física José Eduardo Bernardes da Silva, ex-secretário da seção brasileira da Anistia Internacional, fez 16 denúncias de perseguição à polícia. Dizia-se vítima de skinheads desde 1999 por defender os principais alvos das gangues neonazistas: gays, judeus, negros e nordestinos. Em setembro do ano passado, três atos terroristas simultâneos chocaram São Paulo: uma bomba fora enviada para a sede da Anistia em São Paulo, outra para o presidente da Associação da Parada Gay – acompanhada de carta assinada em nome dos skinheads – e uma terceira para a casa de José Eduardo, com uma suástica nazista. Os explosivos foram desativados. José Eduardo admitiu desconfiar que a “encomenda” era um explosivo por ele ser filho de militar e ter feito um curso sobre bombas na PM.

Quatro meses depois de muita pressão feita pela Anistia para acelerar as investigações, a polícia surpreendeu a entidade. Concluiu que o autor dos atentados fora o próprio José Eduardo. Ele teria endereçado todas as bombas. O motivo ainda é uma incógnita. Na ocasião, mostrou-se perturbado. Disse ter engordado 35 quilos e perdido a namorada. Ele também foi o responsável pelas inscrições feitas nos petardos e pelas cartas ameaçadoras enviadas para várias entidades. Na época, chorou e disse que queria mudar-se para a Europa. No fim do ano passado, conseguiu ser transferido para o Comitê em Madri e está sob proteção da Anistia.

AP

A polícia suspeitava de José Eduardo desde o início. Na quarta-feira 31, o secretário de Segurança, Marco Vinício Petreluzzi, divulgou o resultado do laudo grafotécnico em que os peritos concluíram que o ativista foi o responsável pelas cartas e pelos bilhetes anexados às bombas. Um funcionário dos Correios, apesar de o remetente dos explosivos não ter tirado o capacete, reconheceu José Eduardo pelos olhos e por sua moto. Nos bastidores da Anistia, ele ajudou a agravar a crise entre a seção brasileira e a sede em Londres. Para os ingleses, a seção agia com muita autonomia. Teria contratado a empresa de um familiar de um diretor para traduzir para o português o material da Anistia, além de ferir o estatuto ao criar o Centro de Assessoramento a Programas Educacionais para a Cidadania, que seria mantido pelo governo federal. Em 1999, o Comitê Executivo resolveu mudar a equipe brasileira, para a qual José Eduardo trabalhava como secretário. De acordo com Márcio Gontijo, presidente da seção brasileira, “o Comitê de Londres nunca declarou a razão da ingerência e agiu de forma arbitrária”. Gontijo nega ter demitido José Eduardo em julho passado. Segundo ele, o secretário pediu afastamento e, logo depois, passou a atuar sob o comando direto de Londres. Quanto aos motivos para enviar as bombas, Gontijo afirmou: “Ele quis chamar a atenção para deixar o País.” José Eduardo não foi localizado em Madri. A polícia vai acionar a Interpol. Ele foi indiciado por tentativa de homicídio, perigo de explosão e falsa comunicação de crime.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias