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Eduardo Cunha (PMDB), candidato à Presidência da Câmara

O loteamento da Esplanada dos Ministérios entre dez partidos da base aliada da presidente Dilma Rousseff foi insuficiente para dar ao governo a tranquilidade de que precisava na eleição do próximo presidente da Câmara dos Deputados. Os parlamentares vão neste domingo (1º) ao plenário definir a disputa mais acirrada pelo posto em uma década.

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A briga se dá pela primeira vez entre PT e PMDB, os dois principais partidos do governo. Além disso, há o agravante de que, apesar dos esforços dos ministros para atrair votos para o petista Arlindo Chinaglia (SP), o Palácio do Planalto corre o risco de ver eleito seu grande desafeto, o peemedebista Eduardo Cunha (RJ).

 
Apoiado por DEM, PSC, PRB, Solidariedade, PTB e PP – anunciado sábado (31) à noite -, além de seu próprio partido, o líder do PMDB é favorito na disputa contra Chinaglia, que tem a adesão de PT, PDT, PC do B, PSD, PROS e PR, este também definido ontem à noite. Também estão na luta o líder do PSB, Júlio Delgado (MG), que conta com PSDB, PPS e PV, e Chico Alencar (PSOL-RJ).
 
A disputa deve ser ser voto a voto. Aliados tanto de Cunha quanto de Chinaglia passaram os últimos dias fazendo contas – sabando que a declaração de apoio não garante adesão integral do partido. A escolha do presidente e e de outros dez cargos da Mesa Diretora será secreta, em 14 urnas eletrônicas, a partir das 18 horas.
 
Cunha vem trabalhando sua candidatura há mais de ano. Lançado em dezembro, enquanto os adversários ainda pensavam o que fazer, o peemedebista montou uma estrutura de campanha semelhante à de um candidato ao Planalto. Rodou todos os Estados do País com gastos bancados pelo Fundo Partidário. Obteve um acordo com o governo, que suspendeu nomeações de segundo escalão – usadas para obter votos para o candidato favorito do Planalto.
 
Nesse meio tempo, surgiram informações de que delatores da Lava Jato, como o doleiro Alberto Youssef, haviam dito que tinham repassado dinheiro de propina para Cunha. O deputado rebateu as acusações e apontou motivação política na divulgação dessas informações.
 
Já Chinaglia tem uma vantagem – o poder de influência do Planalto – e uma desvantagem – a atual rejeição ao PT na Câmara e ao governo, do qual foi líder na Casa. O deputado chegou a dizer que a ação do Planalto a favor dele poderia significar a "morte" da candidatura. Foi uma força de expressão na tentativa de reduzir os efeitos do antipetismo. Chinaglia repetiu Cunha e também percorreu o País, com gastos bancados pelo Fundo Partidário.
 
Voz externa
 
Candidato que corre pela terceira via, Delgado sabe que pode levar a disputa para o 2.º turno. Com campanha mais modesta que as de Cunha e Chinaglia, adotou o discurso de representante da renovação e rememorou a seus pares a "voz das ruas", adaptando para a eleição interna a estratégia que seu partido usou na eleição presidencial do ano passado, quando o candidato era Eduardo Campos (PE), morto em um acidente aéreo em agosto.
 
Delgado conta principalmente com os 54 votos do PSDB, terceira maior bancada da Câmara, atrás de PT (70) e PMDB (66). Mas, às vésperas da eleição, viu focos de dissidência defenderem o "voto válido" em Cunha já no 1.º turno.
 
Chico Alencar se lançou candidato a menos de uma semana para a eleição. É a terceira tentativa. O melhor desempenho, em 2011, rendeu 16 votos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo
 
Pela 4ª vez, Renan é favorito no Senado
 
Dois dias após o 2º turno da eleição de 2014, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou: "Eu, sinceramente, não sou candidato (à reeleição). Já fui três vezes presidente do Senado Federal, nós estamos concluindo essa obra e essa decisão (sobre candidatura) é uma decisão que ficará para janeiro". Três meses depois, é considerado favorito para mais um mandato no comando da Casa, em votação marcada para a tarde deste domingo (1º).
 
Na véspera da decisão, ele se dedicou a uma visita ao presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (PSDB-MG), Ouviu dele que o partido já se havia manifestado em favor do candidato rival, o também peemedebista Luiz Henrique (SC). Ao sair, Renan negou que tivesse ido pedir votos e rebateu a acusação do adversário de estar cometendo "atos de desespero".
 
Em outubro, Renan era um dos raros senadores do PMDB satisfeitos com o resultado das urnas: fez seu primogênito, Renan Filho, governador de Alagoas com apenas 34 anos. Hoje, sai candidato respaldado por mais 14 colegas de bancada.
 
O despiste na declaração de outubro já era parte da estratégia para adiar ao máximo o lançamento da candidatura no Senado. A ideia era repetir a fórmula de ser ungido pelos pares adotada por José Sarney (PMDB-AP) e evitar ser "vidraça" – em setembro, o Estado revelou que Renan foi citado pelo ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa em sua delação premiada no âmbito da Operação Lava Jato.
 
Depois de se ver forçado, sete anos atrás, a renunciar ao mesmo cargo que ocupa hoje, por ter a pensão de uma filha fora do casamento paga pelo lobista de uma empreiteira, o peemedebista encheu-se de cautela. Para ser reeleito, aposta no discurso de "austeridade" nos gastos e promete enxugar a máquina administrativa do Senado – de 2013 para cá, economizou R$ 530 milhões. Mas, por ter usado jatinhos da FAB para fazer um implante capilar e ir ao casamento da filha de um aliado político, Renan é alvo de ação de improbidade na Justiça Federal em Brasília.
 
Mercadorias
 
Aliados próximos dizem que o poder de Renan vem de sua capacidade de atender aos pedidos que recebe: desde um gabinete mais amplo ou uma rampa de acessibilidade, até outros mais difíceis, como comandar a aprovação do projeto que permitiu ao governo flexibilizar o cálculo do superávit primário. Como define um colega de bancada, é um "entregador de mercadorias".
 
Essa característica rende frutos ao senador. Do governo, obtém cargos e, se não é atendido, ameaça dificultar a vida do Planalto – no início de janeiro, ele disse a ministros que, se não pudesse fazer indicações para o segundo escalão, o PMDB no Senado deixaria a base para ser "independente". Dos senadores atendidos, exige fidelidade silenciosa. Com os desafetos, evita deixar as mágoas transparecerem e chega a pedir voto até de quem outrora era tido como inimigo político.
 
Mas a cinco dias das eleições, o peemedebista viu Luiz Henrique se lançar candidato, ao contrário do que havia feito em 2013, quando abriu mão em favor de Renan. Apoiado pela oposição, e por alguns senadores da base, o catarinense avisou-o de que disputaria a presidência e ainda lhe pediu o voto.
 
Ironia
 
O temor de Renan é que o voto secreto ajude Luiz Henrique. Seria uma ironia para quem foi favorecido pelo dispositivo não só nas três vezes em que foi eleito presidente da Casa, mas principalmente nas duas votações em que poderia ter sido cassado, em 2007, em decorrência da acusação de ter as despesas pessoais pagas por um lobista.
 
Para evitar surpresas – nos governos do PT, nunca um candidato do Planalto perdeu a disputa pela presidência do Senado -, Renan e aliados tentaram enquadrar Luiz Henrique, para que acatasse a decisão da bancada de eleger Renan.
 
Não adiantou: o catarinense confirmou sua candidatura, com apoio da oposição e até de senadores governistas. Sinal claro de que uma nova reeleição de Renan não é consenso na base aliada foi a falta de definição da bancada do PT.
 
O catarinense tem apoio de PSDB, DEM, PSB, PDT, PP, PSOL e PPS, além de três peemedebistas. O bloco foi confirmado após o senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) abrir mão da disputa em favor de Luiz Henrique. Dois dias antes, Valadares tinha recebido telefonema de Renan que, sem ainda ter-se lançado oficialmente, falou do que pretendia fazer no comando do Senado até 2017. "Renan parece um candidato em off", disse Valadares. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.