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ALERTA
Trinta centímetros de neve em Nova York (abaixo)
e reservatório totalmente seco em São Paulo

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Duas das maiores metrópoles do mundo têm vivido o efeito prático do aquecimento global. Em Nova York, pela primeira vez em 110 anos, as mais de 400 estações do metrô foram fechadas na noite da segunda-feira 26, e assim ficaram por todo o dia seguinte, sob a ameaça de uma tempestade de neve gigantesca. Naquele dia, a previsão era de que a maior cidade dos Estados Unidos enfrentaria a pior nevasca já registrada, o que não se concretizou. Enquanto no Hemisfério Norte foi montada uma operação de guerra para enfrentar neve e frio extremos, em São Paulo, a maior cidade do Hemisfério Sul, a população atravessa o mais tórrido verão da história, com uma sensação de calor nunca antes experimentada.

Os extremos vividos por São Paulo e Nova York nos últimos dias são um bom exemplo das dificuldades que o mundo deve enfrentar nos próximos anos caso o avanço na emissão de gases estufa não seja contido e o planeta continue a ficar cada vez mais quente. Os cientistas ainda são reticentes em afirmar que fenômenos isolados, como a seca paulista, que anuncia o pior racionamento de água da história da cidade (leia reportagem na pág. 43), ou a ameaça de uma tempestade de neve histórica em Nova York, sejam resultado direto do aquecimento global. Mas o que nenhum climatologista tem dúvida é de que situações como as vividas por duas das maiores metrópoles do mundo se tornarão cada vez mais frequentes se o planeta continuar no processo de aquecimento em que se encontra.

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TRANSTORNO
A população de Nova York foi aconselhada a
não sair às ruas: o transporte público não funcionou

Em Nova York, as mudanças climáticas têm se manifestado por meio do aumento de tempestades, furacões e nevascas, tanto em quantidade quanto em força. Três das cinco maiores tempestades de neve da história da cidade aconteceram nos últimos 20 anos. A meganevasca acabou não acontecendo – a cidade foi atingida por menos de 30 centímetros de neve –, mas tanto estradas quanto comércio continuaram fechados durante toda a terça-feira 27, que não foi considerado um dia comercial pelos governantes. E a mítica Times Square, invariavelmente cheia de turistas, ficou praticamente vazia. “Eu prefiro estar em uma situação em que podemos dizer que demos sorte à outra em que não nos preparamos, não damos sorte e alguém morre”, declarou o governador Andrew Cuomo, que comandou a operação de emergência.

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Tanta preocupação teve um preço. Sem metrô e com as estradas fechadas, cerca de 3,9 milhões de pessoas que dependem do sistema de transporte público da cidade não puderam sair de suas casas, o que, segundo o jornal “The New York Times”, pode custar US$ 160 milhões (mais de R$ 410 milhões) em mão de obra. A brasileira Paula Bonfatti, que foi morar na cidade há seis meses para fazer mestrado em estudos urbanos na Universidade da Cidade de Nova York, conta que um dia antes da tempestade prevista as pessoas lotavam os supermercados, se preparando para os dias que ficariam presas em casa. “Recebi alertas de emergência quase de hora em hora pelo telefone, o que cria um sentimento de insegurança. As pessoas ficam mais atentas e estavam esperando pelo pior”, diz.

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Se os americanos enfrentam problemas pelo excesso de zelo dos governantes e pelo frio, São Paulo passa por uma crise oposta. No último dia 19, enquanto registrava a maior temperatura do verão e a sexta maior de sua história, 36,5ºC, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a cidade era atingida por um apagão que afetou cerca de 11 Estados e o Distrito Federal durante a tarde, causado por um pico no consumo de energia que atingiu níveis recordes nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. O calor tem sido tão grande que os paulistanos buscam alívios em ventiladores e aparelhos de ar-condicionado, o que gera o aumento de consumo durante o dia. Uma pesquisa realizada pelo site de comparação de preços Zoom indica um aumento de 213% na procura por ventiladores e de 204% na busca por aparelhos de ar-condicionado nos primeiros 21 dias de janeiro, em comparação ao mesmo período de dezembro. E, em meio ao calor do asfalto, os moradores da capital paulista buscam se refrescar em parques e piscinas públicas.

No começo de janeiro, a Nasa e a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA (Noaa, da sigla em inglês), duas das maiores organizações de monitoramento climático do mundo, se juntaram à Agência Meteorológica Japonesa para determinar que 2014 foi o ano mais quente de que se tem notícia. Desde 1880, quando os registros começaram a ser feitos, a Terra apresentou um aumento de 0,8ºC em sua temperatura média. Parece pouco, mas não é. De acordo com os cientistas que estudam as mudanças climáticas, um aumento de 2°C na temperatura média do planeta seria uma catástrofe, com poucos precedentes para os seres humanos. Para o coordenador de mudanças climáticas e energia da ONG WWF no Brasil, André Nahur, o fenômeno tem a tendência global de aumento de temperatura, mas também favorece a formação de climas mais agudos. “Essas oscilações alteram como um todo a temperatura do planeta e causam fenômenos extremos, como nevascas mais fortes e tempestades perigosas”, afirma.

Será necessário mais tempo e mais dados para estabelecer uma relação de causa e efeito entre o aquecimento global e as crises enfrentadas por duas das maiores cidades do mundo. Mas enquanto se discute as mudanças climáticas, o planeta esquenta. Tanto que Nasa e Noaa concordam que os dez anos mais quentes da história aconteceram desde 1998.

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Fotos: Cem Ozdel/Anadolu Agency; Nelson Antoine/Fotoarena; AP Photo/Jim Cole 


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