abre.jpg

Na terça-feira 20 o presidente americano, Barack Obama, fará o tradicional discurso para deputados senadores explicando suas prioridades e seus planos na condução do país para o ano que se inicia. Conhecido como “State of the Union”, algo como o Estado da União em tradução livre, o encontro anual entre Executivo e Legislativo é repleto de formalidades, simbolismos e uma chance importante para Obama tentar se aproximar de um Congresso composto em sua maioria pela oposição feroz dos republicanos. Ao contrário dos anos anteriores, em que temas econômicos, sociais e de política externa dominaram a fala do presidente americano, desta vez Obama vai trazer à tona um assunto poucas vezes tratado no âmbito do Estado: as ameaças de ataques virtuais por hackers espalhados pelo mundo.

Até pouco tempo atrás, ataques cibernéticos eram uma preocupação prioritariamente de empresas e pessoas. Os piratas virtuais concentravam boa parte de seus esforços em roubar dados de consumidores para acessar contas bancárias, realizar compras ou dar golpes em instituições financeiras. Havia também um grande número de ataques a empresas ou mesmo sites governamentais na tentativa de ridicularizar essas entidades. Nos últimos anos, no entanto, um número cada vez maior de ataques cada vez mais complexos e com grande potencial destrutivo têm sido realizados por hackers ligados a grupos interessados não só em dinheiro ou fama.

HACKER-02-IE.jpg
DEFESA
Obama quer criar uma rede integrada de proteção
unindo grandes empresas e nações contra os piratas virtuais 

O último deles ocorreu na semana passada, quando a página no Twitter do Comando Central Americano, um órgão ligado ao Pentágono, foi invadido por simpatizantes do Estado Islâmico, o grupo muçulmano ultrarradical que controla uma vasta área no Iraque e a Síria. O ataque não causou prejuízos de grande monta, mas deixou claro que mesmo setores estratégicos do Exército mais poderoso do mundo não estão imunes. Como não estava imune a gigante Sony, atacada por hackers ligados à Coreia do Norte, em novembro. Nesse caso, os criminosos digitais roubaram várias informações secretas do estúdio na tentativa de impedir que o filme “A Entrevista”, que faz uma paródia do ditador norte-coreano, Kim Jon Um, fosse lançado.

Obama quer criar uma série de mecanismos para fazer com que situações como essas sejam evitadas ou, ao menos, dificultadas. O presidente americano vai propor mudanças na legislação que busquem aumentar a colaboração entre governo e setor privado no combate a ataques virtuais, reforço da autoridade de agências que combatem esses crimes e o aumento de transparência de empresas em casos de invasão e vazamento de dados de indivíduos. “Nem o governo nem o setor privado conseguem defender a nação sozinhos. É preciso uma missão conjunta, em que ambos trabalharão de mãos dadas”, disse Obama na última semana ao antecipar as medidas que pretende criar.

grafico1.jpg

Para o especialista em segurança digital Bruce Schneier, membro do Centro Berkman de pesquisa de internet da Universidade de Harvard, os projetos anunciados por Obama parecem estar no caminho correto, mas é impossível evitar todos os ataques. O especialista em cibersegurança H.D. Moore, que desenvolveu softwares de proteção para o Departamento de Defesa dos EUA, é ainda mais pessimista. “Governos tentam melhorar a própria segurança ao criar leis que criminalizam más atividades, mas isso não funciona.”

Obama pediu apoio dos países ocidentais na sua nova cruzada contra os hackers. Mas tanto ele quanto os especialistas em segurança na internet sabem que essa será uma guerra de longo prazo. “Não se trata de crimes comuns, sobre os quais podemos ter estratégias claras, como roubos ou assassinatos”, diz Schneier. “Não podemos evitá-los, mas podemos reduzi-los e isso requer investigação, investimento e repressão”. O tempo dirá se isso será, de fato, o suficiente.

grafico2.jpg

Fotos: Shutterstock; Yuya Shino / Reuters