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ÀS RUAS
Milhões de franceses tomaram a capital
francesa para mostrar que a liberdade não teme o terror

No lugar do medo e do recuo, a coragem e a tomada das ruas. Na semana que passou, a França deu mostras inegáveis de que se recuperou dos atentados à sede do jornal satírico “Charlie Hebdo” e a um supermercado judaico, além dos três dias de perseguições policiais, que deixaram 17 mortos, com a liberdade como resposta. Mais de 3,7 milhões de pessoas saíram às ruas de todo o país em solidariedade às vítimas. Liderada pelo presidente francês, François Hollande, a passeata histórica de Paris no domingo 11, reuniu ex-presidentes e grandes líderes mundiais, como a chanceler alemã, Angela Merkel, e o primeiro-ministro britânico, David Cameron. Estiveram presentes também figuras antagônicas no cenário mundial, como o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas. A ausência do presidente americano, Barack Obama, foi amplamente criticada pela imprensa internacional, mas, na sexta-feira 16, o secretário de Estado, John Kerry, o representou num encontro com o presidente Hollande.

Os sobreviventes do “Charlie Hebdo” também desafiaram o medo. Na capa da edição especial pós-atentado, uma caricatura do profeta Maomé derramando uma lágrima e segurando um cartaz onde estava escrito o lema dos manifestantes, “Eu sou Charlie”, sob a manchete “tudo está perdoado.” O jornal, com cinco milhões de exemplares disponíveis em seis idiomas, se esgotou com facilidade nas bancas da capital francesa. A tiragem habitual é de 60 mil unidades.

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Ainda assim, o alerta máximo contra o terrorismo continuou ligado no continente durante a semana. Na quinta-feira 15, policiais da Bélgica mataram dois extremistas suspeitos de planejar atentados em grande escala no país e prenderam mais 13 pessoas. Na Alemanha, dois homens de origem turca foram detidos pelo suposto envolvimento num atentado na Síria e outro homem pela suposta ligação ao grupo fundamentalista Estado Islâmico. A França, por sua vez, deteve ao menos 12 pessoas acusadas de fornecer armas e veículos aos criminosos e endureceu uma lei contra o discurso favorável ao terror. Seguindo a nova legislação, mais de 100 pessoas estão sendo investigadas e 54 foram presas desde os ataques – entre elas, o comediante Dieudonné M’Bala M’Bala, acusado de “apologia ao terror”. De acordo com o jornal americano “The New York Times”, um homem de 28 anos de origem tunisiana foi condenado a seis meses de cadeia depois de expressar apoio aos terroristas na frente de uma delegacia em Bourgoin-Jallieu, distrito próximo à cidade de Lyon. O debate sobre os limites da liberdade de expressão está aberto.

Enquanto isso, na Nigéria
Terroristas do boko haram promovem massacre mais letal da história

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Ogrupo radical islâmico Boko Haram, o mesmo que sequestrou 276 meninas na Nigéria no ano passado, voltou a atacar. Na semana passada, foram divulgadas imagens do que a Anistia Internacional classificou como o “massacre mais letal” da história da milícia. Cerca
de duas mil pessoas foram mortas em dois ataques nas cidades de Baga e Doron Baga, no nordeste do país. Para o Exército nigeriano, o número é bem menor – 150 –, mas satélites capturaram a devastação do local que teve mais de 3.700 construções destruídas. Pelo menos 16 assentamentos foram incendiados e 20 mil pessoas deixaram suas casas. O objetivo dos extremistas é estabelecer um Estado Islâmico na região. Para isso, só em 2014, estima-se que tenham assassinado mais de dez mil pessoas, inclusive mulheres e crianças.