abre.jpg
HÓSPEDES
Dealberto (à esq.) e Fernando compartilharam o mesmo quarto
no hotel Reina Roja, em Playa Del Carmen, próximo de onde ocorreria o festival

Praias paradisíacas, amigos reunidos e festas programadas. Assim começavam as férias de fim de ano dos irmãos brasileiros Dealberto Jorge da Silva, 35 anos, e Fernando Luis da Silva, 33 anos. A foto do passaporte e das passagens publicada nas redes sociais na sexta-feira 2 anunciava o destino tão aguardado: Cancún, no México. Naquele país, o engenheiro civil e o advogado de Jaraguá do Sul, pequena cidade de 150 mil habitantes a 182 quilômetros de Florianópolis (SC), iriam para um casamento de amigos e, em seguida, com a estadia prolongada, aproveitariam para participar de um festival de música eletrônica em Playa Del Carmen, na Riviera Maya, a 68 quilômetros ao sul de Cancún. Na madrugada do domingo 11, porém, o entusiasmo vivido nos primeiros dias do ano foi interrompido pela morte trágica de Dealberto, que, segundo a polícia mexicana, caiu de uma altura de dez metros de um prédio residencial. A Procuradoria-Geral de Justiça do Estado mexicano de Quintana Roo, responsável por investigar o caso, divulgou um boletim no qual conclui que a morte do jovem empresário foi acidental. “Fernando Luis e Dealberto, juntamente com outras duas pessoas, entre elas uma mulher, consumiram de maneira exagerada drogas e álcool, o que resultou em um delírio de perseguição”, diz Gaspar Armando García Torres, procurador de Justiça.

CANCUN-05-IE-2355.jpg

No início das férias, os irmãos ficaram hospedados no hotel Dreams Riviera Cancun Resort & Spa para participar das bodas. Dias depois, viajaram até Playa Del Carmen, para o festival de música, e se hospedaram no hotel Reina Roja. As festas começaram na sexta-feira 9 e um dia depois Dealberto, também conhecido como Felfinha, foi encontrado morto em um condomínio residencial. Antes disso, porém, uma série de mensagens divulgadas pelo WhatsApp levantou hipóteses de sequestro, perseguição e até sobre um suposto envolvimento do engenheiro com uma russa. Um áudio que teria sido enviado por ele mostra o desespero do empresário antes de morrer: “Meu irmão, estou para ser sequestrado por aquela amiga do Marquetti, a russa. Tem muita gente, está muito estranho. Avise a Polícia Federal, alguma coisa assim. Estou passando em frente ao Hotel Royal, em Cancún, Playa Del Carmen, e está todo mundo me olhando. Só avise a imigração de problemas, por favor, avise a polícia, muito estranho…”

3.jpg

A troca de mensagens pela rede social transformou o caso em uma incógnita. De acordo com uma amiga próxima, Dealberto teria conhecido Ekaterina Vasileva por meio de um amigo brasileiro em comum, que trabalha como DJ em clubes noturnos. Ela contou, em depoimento às autoridades mexicanas, que teve uma desavença com o namorado e que, por intermédio do amigo, teria conseguido se hospedar no mesmo hotel em que os irmãos estavam. Dealberto, Fernando e Ekaterina passaram a tarde e a noite da sexta-feira consumindo álcool, ecstasy e cocaína durante a festa. Ao voltarem para o hotel, exaltado em uma discussão com a colega russa, Fernando começou a se sentir perseguido e ameaçado. Ao anoitecer, segundo as autoridades mexicanas, os irmãos abandonaram os celulares, para não serem rastreados, e os sapatos. Depois, se separaram para se esconder. Em depoimento, Fernando afirmou que ouviu pessoas comentando sobre a morte de uma pessoa – que poderia ser o irmão. Depois daquela madrugada, ele voltou de táxi a Cancún, onde passou duas noites, até acabar o dinheiro. Em seguida, fez o primeiro contato com a família em Jaraguá do Sul. Para a polícia, o advogado admitiu que nunca houve sequestro e perseguição e que tudo havia sido resultado do efeito das drogas.

2.jpg

De acordo com o advogado Juliano Girolla, amigo dos irmãos, os dois não costumavam usar drogas. “E nunca foram de frequentar festas raves, isso não existe aqui em Jaraguá do Sul”, diz. Solteiros, ambos eram extremamente sociáveis – Fernando um pouco mais que Dealberto, considerado menos extrovertido. Amigos da família contam que, como o município não oferece tantas opções de lazer, eles costumavam frequentar festas na casa de amigos. “Formavam uma dupla de workaholics e estavam indo bem nos negócios”, diz uma amiga de Dealberto, que prefere não se identificar. Eles eram sócios de uma empresa cujo nome é formado pelas iniciais dos prenomes de ambos, DF, uma consultoria para instalação de centrais hidrelétricas de pequeno porte. Moravam com a mãe, Marina Leier, e o pai, também chamado Dealberto, com quem saíam frequentemente – eram vistos na igreja matriz da cidade, próxima à casa deles, no centro. Descendentes de húngaros por parte de mãe e de portugueses por parte de pai, os irmãos Felfa, como eram chamados, se mudaram para Jaraguá em 1995, vindos de Cascavel (PR), e tinham o hábito de frequentar academias de ginástica e gostavam de correr para manter a forma. Viviam cercados de amigos que conservavam desde a infância. Um dos programas preferidos era ir às praias de Florianópolis e de Balneário Camboriú. “Não havia quem não gostasse de Dealberto”, diz outro amigo dos irmãos. “Eles sempre eram convidados para todas as festas, casamentos e formaturas da cidade.” Ambos tiveram namoradas, não só em Jaraguá do Sul, mas em cidades vizinhas, como Balneário Camboriú e Joinville (SC) e Curitiba e Cascavel (PR).

Testemunhas disseram à polícia que, na noite fatídica, viram Dealberto se equilibrando no alto de um edifício residencial por volta das 23h40 e que o empresário parecia estar tonto. Vizinhos relataram à polícia que não ouviram barulho de festa no prédio. “Após se sentirem observados e perseguidos, os irmãos correram para diversos lugares para se esconder”, afirmou o procurador García Torres. “Dealberto entrou no condomínio Mamitas, local onde perdeu a vida ao cair de uma escada”, informou. O laudo, divulgado por peritos mexicanos, informou que a causa da morte do empresário foi traumatismo cranioencefálico grave. O documento esclareceu ainda que não havia sinais de violência no corpo. O engenheiro foi encontrado com o passaporte do irmão, mas horas depois uma amiga o reconheceu. Comumente utilizado em festas raves, o ecstasy é uma droga psicoativa que deixa os usuários em estado de alerta, euforia e bem-estar. Mas nos dias seguintes ao uso as pessoas podem sentir dificuldade de concentração, ansiedade e fadiga. “Misturado com álcool, o ecstasy costuma causar grandes problemas porque o usuário tende a ter alucinações e se sente perseguido”, afirma Florence Kerr Corrêa, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp). O corpo de Dealberto foi cremado a pedido da família, mas o Consulado-Geral do Brasil no México não informou o dia e o local do procedimento. A família e os amigos afirmam que enquanto Fernando não volta à rotina na cidade de Jaguará do Sul, em Santa Catarina – seu retorno ao Brasil estava previsto para domingo 18 –, os mais próximos irão apoiá-lo para que supere da melhor forma possível a ausência do irmão.

grafico.jpg

Fotos: Reprodução