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HOMEM-BOMBA
Na quinta-feira 15, Nestor Cerveró, preso na madrugada
do dia anterior no Rio, demonstrou que não pretende ficar em silêncio

Personagem central do escândalo de corrupção na Petrobras, o ex-diretor da área internacional da estatal Nestor Cerveró sobreviveu dois meses incólume até ser preso, na quarta-feira 14, ao desembarcar no aeroporto Tom Jobim, no Rio de Janeiro, oriundo de Londres. O Ministério Público Federal identificou nos passos de Cerveró um comportamento de quem planejava uma fuga, a exemplo do que fez Henrique Pizzolato, o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil que fugiu para a Itália e hoje está solto no país europeu. Além de tentar realizar uma operação de resgate de um fundo de Previdência no valor de R$ 463 mil, transferindo-o para a conta de sua filha, o que lhe traria um prejuízo de R$ 100 mil, Cerveró passou para o nome dos demais filhos três apartamentos, todos em Ipanema, bairro de classe alta na zona sul do Rio de Janeiro. Os imóveis, segundo a Polícia Federal, estão avaliados em R$ 7 milhões.

Mas não são essas operações, responsáveis pela prisão de Cerveró, que preocupam o PT e o governo. O ex-diretor da Petrobras é um arquivo vivo e detentor dos segredos mais ocultos da Petrobras. Talvez o principal deles –, ao menos para o governo: a compra da refinaria de Pasadena, no Texas. Foi Cerveró que redigiu o parecer que avalizou o negócio. A aquisição gerou um prejuízo de R$ 1,6 bilhão à Petrobras. Na época, Dilma era presidente do Conselho de Administração da estatal. Antes de deixar o País, Cerveró ameaçou revelar toda a verdade sobre o negócio. Mas, procurado por emissários do governo, selou um acordo para ficar calado. Em troca, a CPI no Congresso aliviaria para ele. O script foi seguido à risca. Até a madrugada da quarta-feira 14, quando ele foi preso. Agora, o governo teme que ele seja mais um a celebrar um acordo de delação premiada com os investigadores da Lava Jato, assim como já fizeram o ex-diretor de abastecimento, Paulo Roberto Costa, e diretores de empreiteiras. Seria o pior dos mundos para o Palácio do Planalto. Na quinta-feira 15, Cerveró deu demonstrações de que pretende fazer a delação. Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, nas dependências da PF em Curitiba, o ex-diretor da área internacional da Petrobras contou que o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, atuava nas diretorias de abastecimento e de gás e energia da estatal. A diretoria de abastecimento foi comandada por Paulo Roberto Costa entre 2004 e 2012, e a diretoria de gás e energia foi ocupada por Ildo Sauer de 2003 a 2007, e pela atual presidente da companhia, Maria das Graças Foster, entre 2007 e 2012.

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NO COLO DA ESTATAL
Para a UTC, de Ricardo Pessoa, se cartel
houve, seu principal agente seria a Petrobras

Cerveró relatou a dois delegados da PF em Curitiba que conheceu Baiano em 2000 e que o lobista “continuou frequentando a Petrobras representando outras empresas, tendo se dirigido a outras diretorias, como a de abastecimento e a de gás e energia”. O ex-diretor afirmou ainda aos delegados que Baiano indicou o empresário Júlio Camargo, da Toyo Setal, para o fornecimento de navios-sonda para a Petrobras. “Foi agendada uma reunião por volta de 2006 no gabinete da diretoria internacional no Rio de Janeiro, ocasião em que estavam presentes o declarante, Júlio Camargo, um diretor da Mitsui-Toyo, um diretor da Samsung”, declarou. Mas foi a declaração dada para justificar a transferência de imóveis aos seus filhos que acendeu a luz amarela de alerta no governo. Ao responder a questionamento dos investigadores, Cerveró mencionou a atual presidente da companhia, Graça Foster. “Ela realizou operações semelhantes, transferindo imóveis aos filhos dela”, afirmou. Para tentar justificar suas condutas, Cerveró alegou estar passando por dificuldades financeiras.

À medida que a Justiça aperta o cerco, os envolvidos no esquema rompem acordos e resolvem falar. Na última semana foi a vez de a UTC questionar a parcela de responsabilidade da Petrobras na rede de corrupção. Proibida de firmar novos contratos com a estatal, a empreiteira divulgou nota afirmando que a companhia seria uma líder, se a formação de cartel for comprovada. “Se cartel houve, seu principal agente seria a Petrobras, sendo o suposto clube no máximo um instrumento das ações dela mesma”, atacou a UTC, cujo principal acionista, Ricardo Pessoa, está preso desde o fim do ano passado, apontado como coordenador do cartel. A empresa alega que o processo de contratação de fornecedores e as regras das licitações eram ditados pela companhia.

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Fotos: Jonathan Campos/Ae; Marcos Bezerra/FUTURA PRESS