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A EQUIPE QUE A PRESIDENTE QUERIA ESCALAR
Luiza Trajano, dona do Magazine Luiza, Josué Gomes,
da Coteminas, Abilio Diniz, presidente do conselho deadministração da
BRF, senador Blairo Maggi e Luiz Trabuco, presidente do conselho do Bradesco

O loteamento de cargos de ministros carrega a imagem de uma disputada guerra entre partidos e autoridades interessadas nos mais altos cargos da República. Essa impressão decorre do prestígio proporcionado por esses postos, das benesses inerentes às funções e da possibilidade de se dar um salto na carreira política com o uso da máquina pública. Observando-se a distância, parece impossível resistir aos encantos do poder proporcionados aos ministros de Estado. Entretanto, as dificuldades enfrentadas pela presidente Dilma Rousseff na montagem de um Ministério ao seu gosto e as negativas recebidas nas sondagens e nos convites mostram que as coisas não são bem assim. As vantagens de tornar-se ministro hoje são minimizadas pelos riscos de desgaste pessoal e profissional dos escolhidos e pela má fama do estilo de gestão centralizadora da presidente, que vem tornando esses cargos cada vez menos autônomos e atraentes.

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NÃO DEU
O estilo centralizador da presidente Dilma Rousseff
afugentou os candidatos aos cargos de primeiro escalão

Não por acaso, o Ministério montado por ela para o segundo mandato é uma colcha de retalhos que enfrenta desgaste já na largada do novo governo. No Planalto, não é segredo que nem mesmo Dilma Rousseff está satisfeita com a equipe formada. O desenho da distribuição dos cargos ficou bem diferente do que ela imaginara inicialmente para seu segundo mandato. A presidente insistiu na fórmula de ceder ministérios a aliados seguindo o velho critério do fisiologismo e da distribuição de poder em nome da governabilidade. Ao mesmo tempo, precisou digerir o fato de que alguns dos nomes que realmente pretendia atrair para sua equipe declinaram dos convites sem-cerimônias. O mais recente caso de negativa recebida pela presidente foi do seu piloto oficial, brigadeiro Joseli Camelo, que acumula 12 anos de serviços aos presidentes da República. Ele recebeu pessoalmente o convite de Dilma para se tornar ministro-chefe do gabinete de segurança institucional. Substituiria José Elito Siqueira, cujas relações com a presidente são protocolares e marcadas por muitas reclamações sobre sua atuação. Na função, Joseli seria o responsável pela segurança presidencial, ganharia um gabinete ao lado de Dilma e teria o comando da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o serviço secreto do Brasil. A conversa aconteceu no dia 8 de janeiro, durante o voo de retorno a Brasília, depois de um breve recesso da presidente com sua família na Base Naval de Aratu, na Bahia. O brigadeiro declinou do convite e lembrou a presidente que seu maior projeto profissional era tornar-se ministro do Superior Tribunal Militar. Sobre a negativa, Camelo pouco comentou. “Estou sendo indicado para o STM e serei sabatinado pelo Senado. Se os senadores aprovarem meu nome, serei um juiz”, afirmou. Nos bastidores, entretanto, sua resistência a integrar o primeiro escalão do governo foi creditada aos problemas enfrentados por José Elito e às pressões que o ministro do GSI recebe diariamente, seja por falhas na segurança, seja por falta de recursos destinados a projetos e treinamentos dos funcionários do gabinete. Joseli Camelo é conhecido por sua discrição e pela preferência em manter-se distante de problemas e polêmicas, comuns entre quem vive muito próximo ao poder.

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RECUSAS
O brigadeiro Joseli Camelo recebeu o convite
de Dilma parase tornar ministro-chefe do GSI. Mas os
problemas enfrentados por José Elito o desencorajaram. 

O que afugenta o empresariado e os grandes executivos dos cargos governistas são as desvantagens inclusas no pacote do prestígio ministerial. Para assumir um ministério é preciso afastar-se oficialmente do comando de empresas, mesmo que sejam os donos. Nesses casos, os empresários não poderiam participar de conselhos ou associações do setor privado. Ao assumir o cargo, as empresas que pertencem a eles ficam impedidas de fazer negócios com o governo. Uma perda nem sempre vantajosa para quem, além dos salários na área privada, acumula milhões em lucros e pode transitar facilmente nos órgãos públicos. Isso sem contar com as pressões políticas e com o fatiamento dos ministérios por partidos, que tentam nomear apadrinhados até nas pastas que não lhes cabe no fatiamento da máquina estatal.

Foi esse conjunto de restrições que atrapalhou a realização de outro desejo de Dilma na composição do ministério. Ela contava com um empresário de sucesso à frente do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Pretendia dar à pasta um caráter empresarial, numa tentativa de resgatar as relações com os setores produtivos. Para isso, mandou seus ministros sondarem a disposição de Josué Gomes da Silva, filho caçula do falecido ex-vice-presidente José Alencar, de integrar sua equipe. O presidente da Coteminas informou que não tinha interesse em afastar-se do seu grupo empresarial e recusou o convite para assumir a pasta ainda no ano passado.

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RECUSAS
Aloizio Mercadante sondou Blairo Maggi para
os Transportes, mas ele também declinou

Enquanto tentava desenhar o esboço de sua equipe para o segundo mandato, Dilma convidou o empresário Abílio Diniz, ex-dono do Grupo Pão de Açúcar e presidente do conselho de administração da BRF, para o órgão. Foi a segunda tentativa de atraí-lo, uma vez que em 2010 Dilma já havia mandado intermediários para sondá-lo. Diniz negou o convite alegando que contribuiria mais sendo um empresário aliado. Mas, nos últimos meses, as críticas feitas por ele ao governo foram interpretadas no Planalto como um sinal de que ele deixara de ser um entusiasta do governo Dilma. Mesmo assim, a presidente chegou novamente a cogitar seu nome em uma reunião em novembro do ano passado com os ministros da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e da Justiça, José Eduardo Cardozo. Seria a saída para neutralizar opositores do setor privado e abrir um canal de diálogo do governo com o alto empresariado. Segundo assessores próximos a Dilma, ela teria ficado irritada com as declarações dadas por ele em dezembro, criticando a medida provisória 627, que alterou a forma de tributação das companhias com produção no exterior. Diniz disse a empresários que o governo estava atrapalhando o setor. Dilma desistiu de tentar atraí-lo para o governo. Terminou entregando a pasta do Desenvolvimento ao senador Armando Monteiro (PTB-PE), que não deve conseguir a aproximação e o consenso tão sonhados com o setor empresarial.

A presidente também pretendia colocar o senador Blairo Maggi (PR-MT) à frente da pasta de Transportes. No primeiro mandato, ele já havia sido cogitado e no fim do ano passado, o ministro Aloizio Mercadante recebeu a missão de sondá-lo mais uma vez. Maggi repetiu que pretendia manter-se à frente do seu império econômico no agronegócio. Outro sonho de consumo de Dilma é a dona da gigante rede varejista Magazine Luiza, Luiza Trajano. No inicio de dezembro, ela se reuniu com a empresária e pediu que ela ajudasse na aproximação entre o governo e o empresariado. No dia 11 de dezembro, Luiza coordenou um encontro presidencial com cerca de 100 empresárias que formam o grupo Mulheres do Brasil.

No jantar, em clima descontraído, a presidente repetiu por duas vezes às empresárias que Luiza em breve seria integrante do seu governo e que, por escolha pessoal da empresária, ainda não estava na equipe. Referia-se ao convite, feito ainda em 2011, para que ela comandasse a Secretaria da Micro e Pequena Empresa, que ainda seria criada. A vaga terminou ficando com Guilherme Afif, que este ano rejeitou a proposta de ser transferido para o Ministério do Desenvolvimento para abrir espaço para Luiza Trajano. Dilma então decidiu mantê-lo no cargo para evitar que deixasse o governo.

A carreira no setor privado e a possibilidade de sofrer um desgaste para tentar tirar as contas públicas do atoleiro também fizeram Dilma receber uma negativa de Luiz Trabuco, presidente do conselho de administração do Bradesco. Em conversa com a presidente Dilma Rousseff no Palácio da Alvorada em 19 de dezembro, Dilma afirmou que o queria no comando da economia para “organizar as contas” e acreditava que ele saberia como fazer sem causar danos à imagem do governo. Depois de ouvir elogios e tomar um copo de suco, Trabuco disse que estava focado no seu futuro dentro do Bradesco, mas que teria prazer em conversar e trocar ideias com a equipe econômica que ela escolhesse. Foi nesse cenário de restrições e alguns nãos, que Dilma Rousseff seguiu montando até aqui um ministério alvo de muitas críticas. Um dos conselheiros da presidente neste segundo mandato resume o cenário: “Esse foi o Ministério possível”.

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Fotos: André Dusek/Estadão Conteúdo; Agência Força Aérea; Marcelo Casal Jr./abr