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EXIGÊNCIA
Agora, as grávidas terão um cartão com dados do
pré-natal e um documento que mostra a evolução do trabalho de parto

O Brasil é líder mundial em cesarianas. O índice desse tipo de parto vem subindo, chega a 84% dos casos em hospitais privados e a 41,9% em instituições públicas, enquanto a média recomendada pela Organização Mundial da Saúde é de 15%. Para tentar reverter esse quadro, o governo lançou um conjunto de normas para incentivar o nascimento natural e desestimular o cirúrgico. “As cesarianas foram desenvolvidas para salvar vidas, mas estão sendo usadas como regra”, diz André Longo, diretor da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). As cesáreas aumentam as chances de prematuridade da criança e podem triplicar o risco de morte da mãe.

Agora, as grávidas passarão a ter o cartão da gestante, com dados sobre o pré-natal, e o partograma, documento com a evolução do trabalho de parto e as condições da mãe e do bebê. Uma medida mais polêmica, que contraria entidades do setor, é a obrigação dos planos de saúde de divulgar quantas cesáreas e quantos partos normais são realizados por médicos e hospitais conveniados. Com mais informações sobre o histórico do obstetra, a grávida teria mais ferramentas para decidir com quem e onde ter seu filho. Etelvino Trindade, presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), concorda com a necessidade de diminuir o número de cirurgias, mas acredita que a divulgação do número de cesarianas pode prejudicar os médicos: “Muitos profissionais se especializam nesse procedimento. Se a gestante analisá-los apenas com base nesses dados, poderá ter uma concepção errada”.

Embora o objetivo seja louvável, não é fácil mudar algo já arraigado à nossa cultura. Uma pesquisa da Fiocruz com 437 mulheres no Rio de Janeiro mostrou que 70% não tinham preferência pela cesárea no início do pré-natal, mas 90% delas acabaram optando pela cirurgia antes mesmo de entrar em trabalho de parto. “O comportamento do brasileiro de valorização do corpo desencoraja a mulher a optar pelo parto normal. A gestante ainda se questiona se será sexualmente aceita”, afirma Trindade, da Febrasgo. Pesam contra o nascimento natural também o desejo de evitar a dor e a conveniência de agendar a data. Os valores pagos pelos planos aos médicos são os mesmos para a cesárea ou para o nascimento natural, mas vários profissionais cobram taxas extras das mães para acompanhar o trabalho de parto, que pode levar horas. É uma realidade difícil de mudar. 

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