Carlos Magno
Iara e Michele entraram na PUC-Rio: agora, ajudam outros alunos

Ingressar na universidade sempre foi para o estudante pobre uma meta quase inatingível. As instituições públicas, que na teoria deveriam garantir aos jovens de baixa renda a possibilidade de cursar o ensino superior, na prática estão tomadas por alunos de classe média que pagam boas escolas para atender ao alto nível de exigência de seus vestibulares. Segundo o MEC, 59,5% dos universitários têm renda familiar de, pelo menos, 20 salários mínimos. As faculdades particulares de qualidade têm mensalidades caras e, nas mais baratas, o ensino é sofrível, como mostra o Provão. Na falta de uma política oficial para mudar esse quadro, ONGs, centros universitários e até instituições particulares empenham-se para transformar a realidade dos jovens que chegam despreparados para disputar vagas nas melhores instituições de ensino. Em todo o País, cerca de 800 cursinhos pré-vestibulares comunitários atendem a quase 60 mil alunos e têm levado centenas deles a conseguir lugar nas melhores universidades brasileiras. Além disso, o movimento tenta agora multiplicar as bolsas de estudo nas faculdades particulares e abolir as taxas que dificultam a entrada do aluno carente nas universidades públicas.

Helcio Nagamine;Ricardo Giraldez
Rodrigo e Andrezza passaram pelo cursinho da Educafro e garantiram vagas na Fatec e Unesp, em São Paulo

Os cursinhos comunitários surgiram em 1992, na Baixada Fluminense, e se espalharam pelo Brasil. Um dos pioneiros dessa ação é o frei franciscano Davi dos Santos, que fundou o primeiro curso pré-vestibular para negros e carentes, no município de São João de Meriti, um dos mais pobres do Rio. Não faltam exemplos para comprovar o sucesso do trabalho. Moradora de Bangu, na zona oeste do Rio, Iara Sarmento, 41 anos, terminou o ensino médio em 1982. Há quatro anos, resolveu estudar pedagogia. Fez o cursinho e depois prestou vestibular para a PUC-Rio. Ficou em quarto lugar e agora está prestes a se formar. “Sonho abrir minha própria escola”, diz Iara. Outra que saiu do curso comunitário para a PUC foi Michele Oliveira, 20 anos. Moradora de São João de Meriti, passou no vestibular, em 1998, para letras. “A inteligência não é exclusividade da classe média alta”, afirma. Agora, Iara e Michele voltaram ao curso comunitário da Baixada Fluminense, como coordenadoras pedagógicas. “Queremos devolver um pouco do que esse curso fez por nós”, comenta Iara.


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