Há cinco anos, a direção do instituto Itaú Cultural, liderada por Eduardo Saron, assumiu um grande desafio: reunir em um único espaço expositivo 500 anos do pensamento artístico e cultural brasileiro. A iniciativa partiu do desejo de disponibilizar para o público nacional e estrangeiro itens das coleções “Brasiliana Itaú” e “Itaú Numismática”, que contemplam um dos mais ricos acervos da produção artística sobre o País. São mapas, gravuras, livros, documentos, moedas e pinturas a óleo que registram a história do Brasil, desde seu descobrimento até o início do século XX. As obras, que começaram a ser adquiridas em 1969 pelo engenheiro Olavo Setubal (1923-2008), ex-presidente do banco Itaú, agora têm residência fixa no novo espaço batizado com seu nome, inaugurado em 13 de dezembro no prédio do Itaú Cultural, na avenida Paulista.

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NATUREZA SUSPENSA
Em torno da escada que  conecta os dois andares do espaço expositivo,
a cenógrafa Daniela Thomas e o arquiteto Felipe Tassara elaboraram
uma montagem que passa para o público a impressão de que as
centenas de gravuras da coleção flutuam no espaço

Estão expostas de forma permanente 1.364 peças do total de 12 mil itens da coleção privada de Setubal. A difícil missão de selecionar quais obras de arte, documentos históricos e moedas entrariam para a exposição ficou a cargo do economista e historiador Pedro Corrêa do Lago, responsável pela seleção das peças da “Brasiliana Itaú”, e do também historiador Vagner Porto, que escolheu as moedas históricas. Para facilitar a visitação, a mostra permanente foi dividida em nove módulos, que percorrem, em ordem cronológica, cinco séculos de história. Do primeiro módulo, “Brasil Desconhecido”, que traz os desenhos de índios e paisagens feitos na Europa a partir do relato de viajantes, ao último, “Brasil dos Brasileiros”, dedicado às manifestações artísticas da República, o acervo traz representações feitas pelos holandeses, no século XVII, pelos Naturalistas europeus, no século XIX, e por pintores também da Europa sob encomenda da corte imperial brasileira.

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Entre os destaques, há peças raríssimas e de alto valor histórico como o óleo sobre tela “Panorama da Cidade de São Paulo”, pintado em 1821 pelo francês Armand Julien Pallière (1784-1862), obra que Corrêa do Lago descobriu, sem querer, na coleção privada de uma família carioca. “Este é o único registro a óleo da cidade de São Paulo antes da invenção da fotografia, daí a sua importância”, diz Lago. Já o quadro “Casamento de D. Pedro I”, de autoria do francês J.B. Debret (1768-1848), registro da cerimônia de casamento de dom Pedro I com sua segunda esposa, dona Amélia, foi descoberto de uma forma curiosa. “Uma pesquisadora brasileira encontrou a pintura em um antiquário da Espanha, com retoques e outra assinatura. Desconfiada de se tratar de um Debret original, ela trouxe a peça para o Brasil, onde o quadro foi restaurado, tendo sua autoria confirmada”, conta Lago. Também faz parte da mostra a primeira obra comprada por Setubal, o óleo sobre madeira “Povoado numa Planície Arborizada”, do holandês Frans Post, datado do século XVII.

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OLHAR ESTRANGEIRO
Litografia colorida à mão de Johann Moritz Rugendas

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Acomodar todas as peças raras que compõem a exposição, no entanto, não foi uma tarefa fácil. Há cinco anos, os dois andares ocupados pelo Espaço Olavo Setubal abrigavam escritórios, ambientes projetados para receber diariamente funcionários em sua rotina de trabalho. O projeto de reestruturação, assinado pela cenógrafa Daniela Thomas e pelo arquiteto Felipe Tassara, precisaria não só adequar os andares para a circulação como resolver exigências de conservação de obras de arte como isolamento térmico, para evitar que o calor da fachada de vidro e aço do prédio danificasse as obras. “Estávamos divididos entre a necessidade de preservar esses itens e a vontade de democratizar o acesso a eles”, diz Eduardo Saron. A solução foi recorrer às mais avançadas tecnologias em conservação e expografia de objetos de arte do mundo. “Trouxemos da Alemanha um vidro especial que não distorce a cor do papel e é antirreflexo”, contou Daniela.

Foi ideia da cenógrafa expor as obras feitas em papel, como gravuras e mapas, sem moldura. Para conseguir esse efeito, Daniela e Felipe descobriram uma espécie de cola que não danifica o papel, e com ela fixaram as obras em pedaços imperceptíveis de papelão branco, que por sua vez estão fixos às paredes brancas da exposição. O efeito é deslumbrante. As obras parecem flutuar, e o fundo totalmente branco deixa as cores de algumas figuras de pássaros, plantas e índios brasileiros ainda mais vibrantes, como na sala de entrada da exposição, repleta de gravuras do chão ao teto. “Esta é uma exposição de arte, e não de história. Queremos que o novo espaço seja uma referência tanto para turistas quanto para os próprios brasileiros”, diz Corrêa do Lago.

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Foto: Michel Filho/Ag. o Globo, Gabriel Chiarastelli/Ag. Istoé 


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