A comunidade científica brasileira está encerrando 2014 com duas notícias bastante animadoras. A primeira é o sucesso do lançamento do satélite sino-brasileiro Cbers-4, que decolou da estação de Tayiuan, localizada a 700 km de Pequim, a bordo do foguete chinês Longa Marcha 4B. A segunda, e mais importante, é a confirmação pelo Observatório Europeu do Sul de que finalmente será construído o E-ELT, o maior e mais impressionante telescópio já construído no mundo, com capacidade superior à do Hubble, o responsável pelas mais impressionantes imagens espaciais já captadas pelo homem. A grande notícia para a comunidade científica nacional é que o Brasil foi confirmado como o único país não europeu a participar desse projeto gigantesco que vai consumir mais de US$ 2 bilhões e só estará operacional dentro de dez anos.

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ESTRELAS
Cerro Amazonas, no Atacama chileno, onde será
instalado o E-ELT a partir do ano que vem

O E-ELT – sigla em inglês para Telescópio Extremamente Grande – será um colosso de mais de 74 metros de altura – algo como um prédio de 20 andares – instalado no alto de uma montanha no meio do deserto do Atacama, no Chile. Com um diâmetro quatro vezes maior do que o mais potente telescópio em atividade hoje na Terra, o E-ELT terá a capacidade de captar imagens do centro de galáxias distantes mais de 300 milhões de anos-luz. Para se ter uma ideia do que isso significa, a Alpha Centauri, o sistema estelar mais próximo do Solar, está distante “apenas” 4,37 anos-luz do Sol. “Temos a expectativa de que seremos capazes de analisar corpos muito parecidos com a Terra”, afirma o professor de astronomia da USP Amâncio Friaça.

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Essa incrível potência do E-ELT se explica por uma nova tecnologia que permitirá a construção de sistemas de espelhos de até 40 metros de diâmetro. Hoje o VLT citado por Friaça tem apenas dez metros de diâmetro. O tamanho do espelho primário desses sistemas de observação são essenciais na qualidade das imagens detectadas. Quanto maior a distância de um objeto no espaço em relação à Terra, menor é a quantidade de luz que chega ao planeta, já que os raios luminosos tendem a se dissipar. Assim, uma grande superfície de espelho consegue coletar quantidade maior de luz, o que aumenta a definição da imagem quando ela é concentrada em um ponto.

De acordo com a astrofísica Beatriz Barbuy, professora de astronomia da USP e membro da Academia Brasileira de Ciências, o E-ELT conseguirá procurar planetas habitáveis em outras galáxias. “A ideia é encontrar mundos próximos à Terra que sejam similares. Até conseguiríamos achar corpos assim em outras galáxias, mas eles não interessam, já que ficam muito longe. Levaríamos um tempo grande demais para chegar”, explica Barbuy, que desenvolve um dos instrumentos do projeto, responsável pela observação de aglomerados de galáxias em expansão durante sua formação. “Só na nossa galáxia existem 100 bilhões de estrelas, muitas delas parecidas com o nosso Sol. A probabilidade de haver planetas como o nosso por aqui são gigantescas.”

A adesão ao ESO custará ao Brasil cerca de R$ 81 milhões por ano pela próxima década, mas o investimento vale a pena. “A construção do E-ELT já está incluída no acordo. Não há nenhum adicional. Estamos entrando em um consórcio que tem muitas outras vantagens e estruturas e teremos poder de decisão”, diz o professor de astronomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Thiago Gonçalves. Com isso, cientistas brasileiros terão acesso ao telescópio e poderão, inclusive, propor projetos para serem desenvolvidos em parceria com cientistas de outros países que compõem o consórcio.

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