CLAUDIO ELIZABETSKI

TRAUMA
A convivência com problemas sexuais como o vaginismo pode causar ansiedade e depressão

Falar de sexo é fácil. Difícil é conversar francamente sobre as dificuldades que atrapalham a vida sexual de homens e mulheres. Prova disso é que o vaginismo, uma disfunção que prejudica muito o prazer feminino, é um tema pouquíssimo discutido nos consultórios de ginecologia. Trata-se de uma contração involuntária do períneo, um feixe de músculos localizado entre a vulva e o ânus. Seu papel é dar sustentação aos órgãos da pélvis, como o útero e a bexiga. Quando essa musculatura se contrai excessivamente, a entrada da vagina se fecha, como se tentasse proteger o corpo de agressões.

O problema atinge três em cada 100 mulheres, aparece em todas as idades e se manifesta de duas maneiras. Uma delas é generalizada: o acesso ao canal da vagina fica bloqueado para qualquer situação que envolva compenetração, desde exames médicos até o uso de remédios e a introdução do pênis.

“A outra forma é circunstancial. Ela só ocorre na relação com um determinado parceiro”, explica o médico Ricardo Cavalcanti, da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia.

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O que muitas mulheres não sabem é que o vaginismo pode ser curado. “É um assunto penoso. Algumas nem sequer aceitam falar dele e abdicam da vida sexual. Mas, com tratamento adequado, esse distúrbio é reversível em 80% dos casos”, encoraja a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Projeto Sexualidade do Hospital das Clínicas, São Paulo. A abordagem que tem dado melhores resultados, segundo a especialista, combina os cuidados de ginecologistas e terapeutas. Os recursos vão das longas conversas em sessões de terapia ao uso de técnicas de relaxamento ligadas ao comportamento sexual. Nos encontros com os psicólogos, a proposta é encontrar as origens do trauma por meio do relato de sonhos ou pistas surgidas no bate-papo.

O objetivo é ajudar a mulher a tomar contato com os medos e os conflitos que podem estar na origem da retração muscular. “Essa estratégia leva a pessoa a compreender a ligação entre o seu problema sexual atual e o trauma vivido anteriormente”, explica a sexóloga Gerusa Figueiredo, professora da Universidade de Brasília. Nos casos em que se recorre também à terapia sexual, é comum o casal fazer exercícios em casa. “São atividades para a mulher explorar a sua anatomia e a sexualidade. Algumas são realizadas com o parceiro”, diz Gerusa. Acrescentar doses de namoro à relação é outra recomendação dos especialistas.

A psiquiatra Carmita alerta que a convivência prolongada com o vaginismo pode desencadear depressão. Por isso, em muitos casos, o tratamento inclui ansiolíticos e antidepressivos. “A qualidade da vida sexual tem influência indiscutível no equilíbrio emocional e no bem-estar. As pessoas precisam entender que devem procurar ajuda”, sentencia Carmita.


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