Depois de passados 33 anos após o surgimento dos primeiros casos de Aids, cientistas ingleses surpreenderam o mundo na semana passada com a afirmação de que o HIV – o vírus causador da doença – está ficando mais fraco. Ou seja, sua capacidade de efetivamente desencadear a enfermidade está menor, além de hoje ser maior o tempo para começarem a aparecer os primeiros sintomas após a infecção. A constatação é o destaque do artigo sobre o assunto, publicado na última edição da revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, uma das mais renomadas do mundo.

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A pesquisa foi realizada por cientistas da Universidade de Oxford, na Inglaterra, com participação de estudiosos da África do Sul, do Canadá, do Japão e da Universidade Harvard (EUA). O trabalho investigou o estado de saúde de mais de duas mil mulheres infectadas em Botsuana e na África do Sul, dois dos países africanos mais atingidos pela epidemia de Aids.

Eles verificaram que em Botsuana – onde o vírus está presente há pelo menos dez anos a mais do que na África do Sul –, a capacidade de multiplicação do HIV está cerca de 10% mais baixa do que no outro País. “Estamos observando a evolução do HIV ocorrer diante de nós e é surpreendente o quanto rápido o processo está acontecendo”, afirmou Phillip Goulder, da Universidade de Oxford. “A capacidade de o vírus causar a doença está se atenuando e isso contribuirá para sua eliminação”, completou o cientista.

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De acordo com o estudioso inglês, há 20 anos uma pessoa levava em torno de dez anos, após contrair o vírus, para manifestar os primeiros sintomas da Aids. “Mas nos últimos dez anos, em Botsuana, esse período aumentou para 12,5 anos. Pode parecer um tempo pequeno, mas visto dentro de um contexto mais amplo é uma mudança rápida. Pode-se imaginar que, a continuar assim, no futuro teremos pessoas que poderão ficar sem apresentar sintomas por décadas.”

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Há duas explicações para a chance de isso ocorrer. A primeira reside na própria mecânica de infecção associada ao HIV. Ao entrar no organismo e misturar seu material genético ao das células invadidas – as CD-4, que são parte do sistema de defesa do organismo –, o vírus passa a usar essas células como se fossem fábricas e segue seu curso de replicação. Porém, em alguns indivíduos com sistema imunológico mais forte, o HIV muitas vezes sofre mutações para poder sobreviver. Nesse processo, ele pode se enfraquecer.

A outra tese diz respeito ao uso dos remédios para impedir a multiplicação viral (antirretrovirais). Depois de aplicar um modelo matemático para investigar o efeito dessas medicações, os cientistas verificaram que o tratamento seletivo dado a pessoas com baixa contagem de CD-4 irá contribuir, por diversos mecanismos, para que prevaleçam as formas mais brandas do vírus.

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