Cunhado não é parente, mas irmão é. E, na última semana, irmãos de gente graúda do governo do PT se tornaram fonte de problemas. Na quinta-feira 27, a Polícia Federal desbaratou uma quadrilha que fraudava terrenos da reforma agrária. No topo do negócio de R$ 1 bilhão estavam Odair e Milton Geller, irmãos do atual ministro da Agricultura, Neri Geller (PMDB/MT). No mesmo dia, o Ministério Público Federal apresentou denúncia contra José Ticiano Dias Toffoli (PT) por desvio de R$ 57 milhões do Fundo Municipal de Saúde, quando era prefeito de Marília, interior de São Paulo. O ex-prefeito vem a ser irmão mais velho do ministro do Supremo Tribunal Federal e atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), José Antonio Dias Toffoli.

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Os dois casos vêm à tona na mesma semana em que Adarico Negromonte, que estava foragido da Justiça, entregou-se à Polícia Federal. Irmão do ex-ministro das Cidades Mário Negromonte (PP), Adarico é réu na Operação Juízo Final, sétima fase da Lava Jato que investiga um megaesquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo o alto comando da Petrobras e presidentes e diretores das principais empreiteiras do País. Em ordem de grandeza, o caso envolvendo a estatal é muito superior aos demais, embora Adarico, pelo que se sabe até agora, tenha tido papel pouco relevante.

No caso de Mato Grosso, segundo inquérito da Operação Terra Prometida, Odair e Milton integrariam o principal grupo do esquema formado por empresários e fazendeiros que consistia em pressionar assentados com propostas de compra de lotes da reforma agrária, por valores muito abaixo do mercado. A documentação era falsificada e a terra, regularizada em conluio com o sindicato rural e servidores do Incra. Os irmãos Geller, que se entregaram à PF no final da noite da quinta-feira, negaram participação no esquema.

Em Mato Grosso, houve desvio de lotes da reforma agrária

O episódio envolvendo o irmão do ministro Dias Toffoli tem aspecto distinto. Ele, outro ex-prefeito e três secretários de Fazenda do município de Marília são acusados de desviar recursos destinados à saúde e à educação para custear a folha de pagamento dos servidores. Em depoimento, Ticiano Dias Toffoli admitiu a irregularidade. Ele era vice-prefeito e, quando assumiu o cargo após renúncia de Mário Bulgareli, encontrou um déficit de R$ 8 milhões no caixa da prefeitura. Por isso, foi obrigado a cobrir o rombo. Caso a Justiça aceite a denúncia, ele responderá por crime de responsabilidade. A pena é de três meses a três anos para gestores que apliquem indevidamente verbas públicas.

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