No sistema privado de ensino, há uma disputa concorrida pelos alunos, a oferta de vagas é grande e a inadimplência é alta. Por isso, os donos de escolas e faculdades estão buscando novas formas de se capitalizar. A estratégia agora é abrir capital na Bolsa de Valores. Neste ano, três grupos colocaram ações à venda na Bovespa e a perspectiva é que outros quatro sigam o mesmo caminho nos próximos 12 meses, segundo estimativa da consultoria Hoper Educacional.

O Anhanguera Educacional, dono de 23 unidades espalhadas pelo Brasil, tornou- se a primeira instituição da América Latina a entrar na Bolsa, em março passado. A empresa decidiu vender ações porque percebeu que estava em uma encruzilhada: ou arrumava uma forma de se capitalizar para continuar crescendo ou passava adiante tudo o que conquistara para um grupo mais poderoso. O Anhanguera colocou 28% de suas ações à venda e em seis meses elas valorizaram 70% e a empresa amealhou R$ 512 milhões, dos quais R$ 360 milhões foram reinvestidos. Em seis meses, comprou as Faculdades Integradas da Zona Oeste (em São Paulo) e as Faculdades Atlântico Sul (no Rio Grande do Sul) e o número de alunos saltou de 24 mil em dezembro de 2006 para 53 mil em julho deste ano.

Investidores dos Estados Unidos, Inglaterra e Cingapura compraram a maioria das ações. “Eles têm vindo ao País para conferir o resultado e estão muito animados”, diz Antonio Carbonari Netto, presidente do Anhanguera Educacional. Também entraram na Bovespa o grupo mineiro Kroton Educacional (através da marca Pitágoras) e o carioca Estácio Participações, que é a maior instituição de ensino superior do País em número de alunos – são mais de 185 mil. O Grupo COC, de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, já deu entrada na papelada e em breve entra no clube.

Para obter autorização para abrir capital, o grupo educacional tem de ser uma instituição com fins lucrativos, ter os últimos três balanços financeiros auditados por empresas credenciadas e, principalmente, ter um plano de negócios consistente. “Com mais recursos, o grupo ganha capacidade de investir, melhorando suas instalações, tecnologia e processos, com reflexos na qualidade de ensino”, acredita César Lange, diretor financeiro e de relações com investidores da Estácio Participações.

Como o objetivo dessas empresas é se capitalizar para conquistar mercado, a questão é: ainda há espaço para crescer? “Em São Paulo, no Rio de Janeiro e Distrito Federal, por exemplo, a oferta de vagas no ensino superior já é maior que a demanda de alunos”, diz Paulo Rizzo, presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior. “Crescer por aquisição é o melhor caminho. Os grandes compram os pequenos, que muitas vezes têm problemas sérios de gestão”, diz Ryon Braga, da Hoper Educacional.