A inflação vem rondando os lares brasileiros nos últimos tempos e o grande vilão é o setor de alimentos. O índice oficial calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra um número próximo ao teto da meta estipulada pelo Banco Central de 6,5% – o IPCA-15 de novembro, prévia do IPCA, ficou em 6,42% –, mas os produtos que enchem as mesas das famílias têm subido muito mais.

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À MESA
A carne é um dos vilões da inflação. A abertura do mercado russo e a
desvalorização do real favoreceram as exportações,
o que fez o preço subir no mercado interno

Itens como carne, com alta de 17,6% nos últimos 12 meses, laranja-bahia (56,49%), tomate (18,7%), cebola (18,16%) tangerina (45,21%) e limão (15,87%) têm tornado a conta nos supermercados cada vez mais salgada. Para 2015, as perspectivas não são positivas. A preocupação maior está na variação de preço da gasolina, impactada pelo represamento dos últimos anos e pela desvalorização do real, da energia elétrica, cujos custos são crescentes, e da carne, que deve continuar em alta.

São vários os fatores que explicam essa escalada de preços. Em épocas mais quentes é comum um aumento nos preços agrícolas. Mas a seca dos últimos meses agravou a situação. A escassez de oferta resultou na elevação dos valores cobrados do consumidor. “Por conta da falta de chuvas, as lavouras foram prejudicadas e menos produtos foram postos à venda”, explica Otto Nogami, professor de economia do Insper. No caso da carne, além da questão climática, há outro aspecto relevante que é o comércio exterior. “A abertura do mercado russo para o Brasil e a desvalorização do real fizeram com que o produtor nacional exportasse mais”, completa Nogami. Em 2015, esse item deve continuar em alta porque, além da Rússia, o Brasil pode expandir ainda mais as suas fronteiras comerciais se a China liberar a importação da carne brasileira. Segundo ele, a curto prazo, os preços não se acomodarão num patamar favorável para o consumo interno.

No próximo ano, gasolina e energia elétrica também deverão exercer pressão inflacionária. “São dois serviços muito importantes para a economia”, afirma André Braz, economista da Fundação Getulio Vargas. O governo controla o preço da gasolina e não permite que a Petrobras repasse integralmente seus custos para o consumidor. Por um longo período, a empresa teve prejuízo ao importar petróleo mais caro do que podia vender internamente. Recentemente, o preço do insumo caiu no mercado internacional, diminuindo o dano financeiro à estatal. Ainda assim, há um represamento acumulado que o último aumento de 3% está longe de cobrir. O escândalo do petrolão também deve impactar a empresa. “O custo de captação de empréstimos por parte da estatal deve aumentar e a tendência é que isso seja repassado”, acredita Nogami. Já a energia elétrica é grande candidata à vilã de 2015. Nos últimos 12 meses, o insumo subiu 16,7% por conta da defasagem de preços e da falta de chuvas que encarece a energia. Com as hidrelétricas sem grandes volumes de água, o governo precisa acionar as termelétricas. “Teremos outro ciclo de aumentos fortes, pois a seca não contribui para que esse recurso seja gerado a baixo custo”, afirma Braz, da FGV. No campo dos serviços, o item educação e as passagens de ônibus municipais, congeladas em algumas cidades desde 2012, também devem pressionar a inflação.

Para driblar a espiral inflacionária, os especialistas aconselham as pessoas a economizar e trocar produtos mais caros por mais baratos, como chegou a sugerir o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland – que no início de outubro disse que as famílias deveriam substituir a carne por frango, ovos ou aves. Os preços dos laticínios, por exemplo, vêm caindo. “Ao racionar o consumo, mesmo com o preço mais alto, controlamos a proporção do orçamento gasto com tais itens e evitamos entrar no vermelho”, finaliza André Braz.

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