Faz exatos 40 anos que Emerson Fittipaldi conquistou o segundo – e último – título de campeão mundial de Fórmula 1. Homenageado aqui e acolá, Rato, como é conhecido no automobilismo, virou personagem de cartoon, desenho animado e inspirou um filme em ações patrocinadas pela McLaren, a escuderia inglesa com a qual triunfou em 1974. Nenhuma delas, porém, o tocou tão profundamente quanto as três voltas que deu no circuito inglês de Silverstone à bordo do lendário M23, o bólido guiado por ele naquele longínquo bicampeonato. “Imagina, o carro com o qual ganhei aquele mundial saiu do museu da escuderia para eu guiar”, falou à ISTOÉ. “O carro estava espetacular e brinquei com o Ron Dennis (um dos donos da McLaren): ‘Se você encher o tanque e colocar pneus novos, largo em um Grande Prêmio’.” Pois a comichão de competir, visível neste episódio, vai se tornar realidade.

abre.jpg
EMPRESÁRIO
A etapa brasileira do Mundial de Endurance, promovida por Fittipaldi,
movimentou R$ 130 milhões na capital paulista em 2013

Depois de seis anos de inatividade, Fittipaldi, aos 67, voltará a disputar uma prova em um campeonato oficial de automobilismo. O retorno será na última etapa do Mundial de Endurance, as 6h de São Paulo, que acontece entre os dias 28 e 30 deste mês no circuito de Interlagos. Desde 2012 na condição de promotor da prova que colocou o Brasil no calendário desta competição oficial da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), o veterano brasileiro, de quebra, irá escrever mais uma conquista em seu currículo: guiar uma Ferrari. “Nunca achei que fosse esperar tantos anos para realizar o sonho de pilotar uma Ferrari. É o momento de renascer mais uma vez. Dá frio na barriga”, diz Fittipaldi. “Sinto falta de correr. E quando você tem a possibilidade de entrar para ganhar, é um desafio maior ainda. Não é só entrar para participar de corrida.”

Fittipaldi, que vai para a pista com uma Ferrari F458 Italia GTE, pela escuderia AFCorse, assume não estar tão adaptado ao carro e nem ao ritmo dos companheiros – Gianmaria Bruni e Toni Vilander –, mas se diz bem fisicamente. Na segunda-feira 17, treinou com um Porsche no autódromo Velo Città, em Mogi-Guaçu, interior paulista. Dois dias depois, terminou uma entrevista à imprensa e correu para um kartódromo, localizado na Grande São Paulo. A última participação de Fittipaldi em uma competição oficial – em 1996, ele havia anunciado a aposentadoria depois de se acidentar e fraturar duas vértebras no circuito oval de Michigan – havia sido em 2008, quando guiou um Porsche 997 no extinto campeonato GT Brasil. Fora do cockpit, sua ligação com a Ferrari já vinha se acentuando. Seu neto, Pietro, atual campeão da Fórmula Renault inglesa, que tem o avô como conselheiro, passou, recentemente, a fazer parte da academia de pilotos da escuderia. Trata-se de um passo importante rumo à Fórmula 1.

IEpag58e59_Emerson-2.jpg

A 6h de São Paulo, que está em sua terceira edição no País e reúne protótipos esportivos e carros de turismo de algumas das principais montadoras do mundo, é inspirada na centenária 24 Horas de Le Mans. A competição tenta se firmar como um evento que vai além da paixão por velocidade. Configurada como um festival, tem no pacote de atrações food trucks, shows, exposições, feira de motor homes, escola de educação no trânsito para crianças com pequenos veículos motorizados, entre outras (leia quadro). “É um evento que reúne entretenimento e automobilismo para a família”, diz Fittipaldi em sua porção empresário. “Temos um gap de geração desde a morte do Senna que prejudica o automobilismo nacional. Eventos assim podem despertar o interesse de jovens e crianças para o esporte.”

Cerca de 70 mil pessoas – mais do que o dobro do ano passado (30 mil pagantes) – devem participar dos três dias da etapa brasileira. O Mundial de Endurance é transmitido para 110 países e movimentou no ano passado, na capital paulista, R$ 130 milhões. “É um evento de nível internacional, o segundo campeonato de automobilismo mais impactante do mundo. O brasileiro merece ver esses carros”, diz o ex-piloto Paulo Gomes, diretor de planejamento e marketing da Confederação Brasileira de Automobilismo.

PIC_Emerson.jpg

Fotos: Fernanda Freire/Ag. R4 – Lotus/Renault