i67001.jpg

A maré está boa para quem quer se lançar ao mar. De iates de milhões de reais até lanchas para a família que custam o mesmo que um carro popular, está cada vez mais fácil ter um barco. A classe média, definitivamente, pode ter um modelo para chamar de seu, mas existem mudanças até no público de iates de luxo, que costumava negociar diretamente com os estaleiros e hoje usa as financeiras para fechar transações milionárias.
Como em todo mercado de bens de consumo, o de iates também vive de tendências. "Uma delas é o uso mais extenso de vidros, que ampliam a iluminação natural e a integração com o mar. Na opção final de compra, o design tem uma importância absurda", conta Allysson Yamamoto, gerente de marketing da Intermarine. O estaleiro lançou no Boat Show, maior feira do setor estaleiro do Brasil, que aconteceu entre 26 de setembro e 1º de outubro, o iate 430 Full, com 43 pés (13,33 metros), um modelo com pegada esportiva e acabamento interno que lembra um loft. Outro fator indispensável nos barcos de luxo é a tecnologia. No 430 Full, por exemplo, os comandos estão centralizados em painéis digitais. Wi-fi, telas de LCD e mobiliário inteligente, como a mesa de jantar que vira de centro com um toque no visor ou no controle remoto, também são presença constante. O barco pode chegar a custar até R$ 3 milhões.

Conforme diminuem as medidas dos barcos e os itens de luxo, mais fácil fica encaixar as prestações no bolso. Uma das opções mais baratas no mercado brasileiro é a Mr. Nineteen, da Bmyd Boats, que na versão básica, sem tantos acessórios de conforto, como ducha de água doce ou frigobar, sai por R$ 23,5 mil. Esse segmento de lanchas menores, leves e acessíveis cresceu muito, de olho na classe média. "O financiamento é a maior arma de venda", diz André Novaes, gerente regional de crédito da Aymoré Financiamentos. O valor mínimo de manutenção mensal, entre limpeza e aluguel de estaleiro, é de cerca de R$ 300.
De acordo com a Associação Brasileira dos Construtores de Barcos e seus Implementos (Acobar), existem 53 mil barcos no Brasil, número bem aquém do de mercados como o americano, com 17 milhões de embarcações. Ernani Pacionik, presidente da GR Um Editora e um dos organizadores do evento, acredita que o mercado ainda tem muito a crescer. "O salão lotou, foi o melhor que já tivemos. As vendas bateram R$ 160 milhões", diz.

i67003.jpg

Segundo Novaes, da Aymoré, 95% dos compradores que acionam as financeiras são homens, na faixa de 45 anos e com renda mensal entre R$ 10 mil e R$ 15 mil. "Cerca de 35% das vendas no ramo náutico brasileiro são parceladas. Em eventos como o Boat Show, o interessado faz a avaliação de crédito e já pode sair com o barco comprado." Se 70% dos financiamentos estão na faixa entre R$ 30 mil e R$ 100 mil, há também um segmento mais específico, que financia valores bem mais altos. "Quem compra o primeiro barco não quer abandonar a náutica. É um vício", brinca Novaes, que, minutos antes, havia fechado um financiamento de R$ 4 milhões. "A pessoa compra uma lanchinha, vai passar o fim de semana no mar, vê os amigos com um barco melhor na marina e acaba não resistindo", explica. Para fazer o upgrade, não faltam opções. Com barcos mais robustos, o navegante de fim de semana consegue ir um pouco mais longe da orla e passar a noite na água. A partir de R$ 50 mil, lanchas maiores, de 22 pés, oferecem cabines que acomodam de duas a quatro pessoas, ducha de água doce, acabamento em madeira e outros mimos que variam de acordo com o fabricante, como os suportes para esqui ou espaço para acomodar equipamentos de pesca. Quem está disposto a encarar brincadeiras mais sérias, pode se aventurar em um hidroavião, como o SeaMax, que sai por R$ 189 mil e chega a 180 quilômetros por hora. Nele, um percurso entre São Paulo e Angra dos Reis dura uma hora e meia.