O uso do streaming – transmissão online de áudio e vídeo sem a necessidade de downloads – está crescendo cada vez mais graças ao preço baixo e à facilidade de serviços por assinatura. Os canais a cabo, de olho no filão, começaram a criar segmentos só de programação online – quase sempre de graça, como um brinde para seus assinantes. É uma corrida contra o tempo, pois nos Estados Unidos a TV fechada tem perdido público rapidamente para serviços como o Netflix – que oferece um extenso catálogo de filmes –, e eles não querem que o mesmo aconteça aqui.

No Brasil, o número de assinaturas de TV a cabo, segundo a Anatel, cresceu de 16,6 milhões em 2013 para 19,4 milhões em 2014, com um aumento de mais de 20%. Já o número de assinantes de banda larga fixa cresceu quase 10% em relação ao ano passado: foi de 21,7 milhões para 23,7 milhões em setembro. Cerca de 21% dos 168,3 milhões de internautas brasileiros usaram streaming em 2013, ou seja, 33,6 milhões de brasileiros, conforme pesquisa realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), reconhecida pela Unesco.

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Para Sergio Amadeu da Silveira, pesquisador de cibercultura e professor multidisciplinar da UFABC (Universidade Federal do ABC), o crescimento do streaming no Brasil é um processo irreversível. Ele acredita que essa expansão está atrelada aos baixos preços (e, em alguns casos, à gratuidade) do serviço. “A internet é uma rede de compartilhamento. Se o preço é pequeno, as pessoas tendem a pagar, do contrário, não.” No entanto, a democratização do streaming no País enfrenta dois grandes entraves: o alto preço cobrado para se ter uma assinatura de banda larga e a baixa velocidade. “Melhorar a qualidade da banda larga é tão importante quanto construir estradas”, diz.

Mas ele é otimista em relação ao futuro desse tipo de serviço no Brasil, enxergando seu uso como ferramenta educativa e as possibilidades de disseminação de focos de cultura regional. Silveira acredita, porém, que esse será um processo lento e gradual, e que grandes empresas de comunicação farão lobby para manter o controle sobre os serviços disponíveis. “A internet tira verba de publicidade da televisão, e isso é algo que incomoda muito as grandes empresas”, opina.

Uma dessas empresas é a Sony, que lançou em agosto no Brasil o Video Unlimited, no qual os clientes podem comprar filmes (que ficam armazenados no computador) ou “alugá-los”, ou seja, ter o direito a assisti-los por um período de dois dias, via streaming. Os preços ficam entre R$ 3,90 e R$ 9,90 o aluguel, contra R$ 24 e R$ 43 para compra.

Lucio Pereira, gerente de marketing digital da Sony Brasil, explica que a empresa decidiu investir nisso quando descobriu que a maior parte dos usuários do Playstation 3 (ou PS3), videogame produzido pela empresa, também usava o aparelho para ter acesso ao Netflix. Quem usa esse serviço hoje no Brasil paga R$ 19,90 mensais e pode assistir quantas vezes quiser a cerca de 600 filmes no catálogo. Já o Crakle, também ligado à Sony, reúne filmes e séries em sistema rotativo, ou seja, eles ficam no ar por cerca de três meses e não é cobrado nada. Só neste ano, o serviço, que lucra com publicidade, já teve 1,8 milhão de visitantes.

O Now, da Net, usa uma estratégia mista ao disponibilizar tanto o conteúdo de canais a cabo quanto o aluguel virtual de filmes, além de um serviço de assinatura com mais de cinco mil opções de programas, semelhante ao Netflix. “É possível que o próprio cabo se torne um serviço de streaming no futuro”, diz Marcio Carvalho, diretor de marketing da Net. Segundo ele, 70% dos assinantes já fizeram uso do recurso em algum momento. Entre os planos da empresa está o aumento da transmissão ao vivo. A Globo lançou este ano o aplicativo Globosat Play. Exclusivo para os assinantes da Globosat, disponibiliza gratuitamente a programação de canais como Globo News e SporTV em streaming.

Os números nesse segmento ainda são rarefeitos. Apenas agora, os institutos responsáveis por medir audiências estão começando a avaliar a nova área. O Ibope anunciou que começa a mensurar o número de usuários de streaming em 2015.

A GfK está implementando este ano uma medição da audiência de streaming realizada pelas empresas que oferecem o combo, programação fechada mais streaming, ou seja, as audiências do Netflix Brasil (que é só streaming) continuarão sigilosas ainda por um tempo. Mesmo sem os dados, especialistas e empresas concordam: esta será a nova forma de ver televisão no Brasil.

Fotos: Richard Newstead/getty images; Divulgação; Phil Bray/Netflix; Lewis Jacobs/Still Photographer