BLACK SCALPEL CITYSCAPES /White Cube São Paulo/ Até 31/1

Já faz 23 anos que Damien Hirst causou convulsão no sistema de arte internacional, ao embalsamar e expor em vitrine um monstruoso tubarão-tigre de quatro metros, em posição de ataque, como se fosse um frame congelado do filme de Steven Spielberg. A obra provocou todo tipo de reação. Alguns reconheceram nela uma genuína exploração dos limites da arte. Para outros, foi o indigesto reconhecimento da influência do dinheiro e do espetáculo no mundo da arte. Para o autor, a obra “The Physical Impossibility of Death in the Mind of Someone Living” representa o medo e a fascinação da humanidade pela morte e pela imortalidade do corpo, questões sobre as quais ele se debruça até hoje, quando vem ao Brasil apresentar “Black Scalpel Cityscapes” (Negras Paisagens Urbanas com Bisturis), na White Cube São Paulo.

ARTES-ABRE-IE-2347.jpg
ATUAL
Para a exposição em São Paulo, ele trouxe 17 trabalhos
baseados em vistas aéreas de cidades

Os 17 trabalhos inéditos expostos em São Paulo são vistas aéreas de cidades, feitos com colagem de objetos cortantes e instrumentos cirúrgicos. Segundo o artista, fazem referência à estratégia militar conhecida como “ataque cirúrgico” usada nas guerras contemporâneas. A representação de Bagdá, a capital iraquiana bombardeada pelas tropas americanas em 2003, com ajuda do aplicativo de mapas EarthViewer, é talvez o mais impactante dos trabalhos expostos na White Cube. Há também Nova York, Londres, Pequim, Rio de Janeiro e São Paulo, entre outras. Todas as paisagens aéreas foram criadas a partir do Google Earth (desenvolvimento do EarthViewer) e aplicativos de mapas. “Há sempre uma violência subliminar a cada cidade. Há perigo em toda parte”, diz Hirst à ISTOÉ. “No momento que os mapas passam a existir é quando a violência começa. Antes dos mapas, as pessoas viviam em paz, conhecendo seus limites. Uma vez que você desenha fronteiras, as pessoas passam a lutar por elas.”

O tubarão – financiado pelo colecionador Charles Saatchi e vendido em 2005 por US$ 12 milhões – foi apenas a primeira das convulsões praticadas por Hirst. Logo vieram os carneiros, as vacas e mais tuba­rões-tigre embalsamados, parte da série “Natu­ral History”. Depois, “For the Love of God” (2007), a caveira humana cravejada de diamantes, que foi vendida por US$ 50 milhões, batendo todos os recordes de preço de obra de um artista vivo e levando Hirst a rivalizar com Jeff Koons a fama de artista mais valioso do mundo. Essa hipervalorização lhe rende até hoje dividendos proporcionais em desafetos e céticos. Para os que lhe acusam de fazer da arte uma mercadoria, ele rebate: “Todos queremos que os artistas sejam heróis. Quando vemos Johnny Rotten fazendo anúncio de manteiga ficamos deprimidos. Espero não ter que fazer nenhum anúncio de manteiga”, declarou sobre o ex-vocalista da banda Sex Pistols, em 2012, na ocasião da retrospectiva na Tate Modern, que o colocou no “topo da cadeia alimentar da arte moderna”, segundo o jornal “The Guardian”.

01.jpg

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

O cara é uma lenda viva. Foi criado em Leeds, norte da Inglaterra, onde trabalhou em construções e em um necrotério, foi recusado em duas escolas de arte, até ser admitido pela Goldsmiths College, em Londres, onde formou o grupo que se tornaria a Young British Artists (YBA), geração que nos anos 1990 colocou Londres na ponta de lança da arte mundial. Autênticos herdeiros da animosidade punk, eles fizeram tudo diferente de como mandava o figurino. E se deram muito bem. Fizeram barulho com trabalhos taxados de vulgares, agressivos e pornográficos, dando um sonoro “basta” para as galerias locais e montando suas exposições nas docas abandonadas de Londres.

“Nós ignorávamos o mundo da arte. Não estávamos nem aí. Você só tem que acreditar. Fazíamos grandes pinturas, mesmo que nos dissessem que elas não vendiam. Acho que em qualquer lugar do mundo, se você tem um grupo de amigos, entusiasmado, que acredita no que está fazendo, então as pessoas irão comprá-lo. O dinheiro te segue, o mercado te segue”, diz Damien Hirst, que em 2015 completa 50 anos, com mesma chama dos 20.

02.jpg

Foto: PAULO D’ALESSANDRO, BEN STANSALL/AFP Photo; PAULO D’ALESSANDRO 


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias