Alan Rodrigues
Bom cabrito: Alckmin diz não ter mais vacas e chama de “absurdos descabidos” usarem a cooperativa para criticá-lo

Os sinos pendurados no pescoço de um pequeno rebanho leiteiro, começam a fazer barulho na campanha do tucano Geraldo Alckmin à Prefeitura de São Paulo. O vice-governador do Estado, que viveu o tempo das vacas magras quando patinava nos 3% nas pesquisas de intenção de votos, cresceu tanto que acabou virando boi gordo para o comando do PSDB, de olho nas eleições de 2002. A imagem do equilíbrio e da capacidade administrativa – adquirida na Prefeitura de Pindamonhangaba e nos primeiros oito meses em que substituiu o governador logo após a reeleição – pode transformar-se em boi da cara preta. Principalmente se o assunto for o Vivaleite, projeto do Estado para distribuição gratuita do produto para crianças carentes em 645 municípios, incluindo a capital.

O candidato foi, até maio deste ano, um dos produtores a fornecer, através da Cooperativa de Laticínios do Médio Vale do Paraíba (Comevap), leite para o programa criado e gerenciado pelo governo do qual ele faz parte desde 1995. Na relação de bens entregue à Justiça Eleitoral, baseada na declaração à Receita e acrescida de alterações ocorridas até 5 de julho de 2000, Alckmin atesta ter participação no capital social da cooperativa (R$ 6.106,17) e ser dono de um sítio rural de 12,3 hectares no bairro de Tetequera, em Pinda. Também figuram na declaração, com 17 itens que totalizam um patrimônio de R$ 532.097,65, três equinos e 33 bovinos.

Fotos: Alan Rodrigues
Bateu-levou “Exótico é o diretor do seu jornal matar uma mulher pelas costas”
Pro Zé “Alckmin empregou parentes e fez contratos sem licitações em Pinda”
Serra e Erundina “O sr. (Maluf) é mentiroso. Nem mesmo crê no que fala”

Documento da Secretaria de Agricultura, que coordena o Vivaleite, comprova que a Comevap ganhou a concorrência pública 04/99 para fornecer de janeiro a setembro deste ano 54.270 mil litros ao mês, a fim de atender a 3.618 famílias. Para Pindamonhangaba, saíam dos cooperativados, entre eles Alckmin, um reparte de 9.600 litros. Ele mostra ainda que o litro do produto é vendido pela cooperativa ao Estado pelo valor médio de R$ 0,68, o segundo maior da licitação. A Processadora Alvorada entrega, por exemplo, o leite para o programa em Pompéia por R$ 0,48 o litro, o menor valor obtido na licitação para o Interior.

O presidente da Comevap, Nicola di Angelis, nega qualquer favorecimento do governo à participação da cooperativa no Vivaleite e ressalta ter entrado novamente na licitação para continuar no programa. Nicola, ao mesmo tempo que acusa o PSDB de afundar o País, defende Alckmin. Segundo o produtor, o tucano não usou a cooperativa da qual faz parte desde 1989 para ganhar dinheiro do Estado. Ele explica que são 920 cooperativados nos sete municípios que a Comevap abrange. Em Pinda, são cerca de 260. Ao todo, a produção diária da cooperativa chega a 125 mil litros por dia, sendo o município de Alckmin responsável por cerca de 30% desse montante. Sobre os ganhos do candidato com o programa, Di Angelis alega: “É um cooperativado seco, não está produzindo desde abril ou maio deste ano. Ele não tem o que receber.” O presidente da revelou que o candidato era um pequeno produtor: 130 litros por dia, ou 3,9 mil/mês, pouco mais de um terço da quantidade enviada mensalmente pela cooperativa para o Vivaleite em Pinda. Partindo da declaração de bens, o tucano não estaria tirando leite de pedras. Se todos os bovinos declarados (33) são leiteiros, sua produção, ainda que pequena, estava acima da média brasileira por vaca. Segundo Nicola, ela é de 3, no máximo 3,5 litros por dia. As vacas de Alckmin produziriam quatro litros por dia cada. O candidado alega, no entanto, que a produção diária variava na entressafra, caindo quase à metade na seca. Sobre o preço do produto vendido ao Estado, Di Angelis ressalta que hoje o seu leite C chega ao varejista a um custo de R$ 0,90. “Nosso preço é mais caro porque nosso leite é o melhor. Ganhar uma concorrência para ter prejuízo não interessa”, afirma o produtor, para quem existe um conluio contra o tucano. “A preocupação dos outros em prejudicar o doutor Geraldo está aumentando. Eu não gosto do PSDB, que afunda o País, mas gosto dele.”

Fotos: Alan Rodrigues
Maluf: “A sra. (Erundina) não fez nada em São Paulo e foi mal-avaliada”
Tuma: “Cristo existe e a população precisa acreditar que ele estará conosco”
Covas e Alckmin: “Maluf realmente faz. Fez o Pitta e a falência da cidade”

Para Alckmin não serão “golpes baixos e absurdos descabidos, como esse tipo de insinuação de favorecimento” que empurrarão a campanha para o brejo. O tucano disse ter parado de produzir em maio deste ano e que possuía 10 vacas. “Hoje tenho só duas, uma seca e outra que produz para um empregado do sítio. Agora, eu produzia e mandava para a única cooperativa da cidade. Não sou responsável pelo que ela faz com o leite, por quanto ela vende, que concorrências ganha. A maioria dos vencedores em licitações estaduais são cooperativas”, afirmou o candidato.

Debate – Há duas semanas, logo depois do horário eleitoral tê-lo alavancado nas pesquisas, Alckmin disse a ISTOÉ que tinha entrado no ringue e que estava pronto para os ataques. De ilustre desconhecido e ignorado pelos adversários passou à condição de vidraça. O tucano foi alvo do primeiro debate, na segunda-feira 4, entre os Zé, madames e doutores que disputam o Palácio das Indústrias. A tevê Bandeirantes obteve um pico de 10 pontos de audiência, no confronto que teve um pouco de tudo, mas não convenceu. Os candidatos se embolaram em números e explicações pouco convincentes sobre suas propostas. Marta, Alckmin e Marcos Cintra (PL) optaram por ficar distantes da baixaria. Enéas (Prona), Maluf (PPB), Collor (PRTB), Zé de Abreu (PTN) e José Maria Marin (PSC) mantiveram o estilo característico. Collor chamou FHC de banana ao falar da reação do Planalto às ocupações do MST e reagiu com violência a uma pergunta do jornalista do Grupo Estado, Sandro Vaia. Ao ser indagado se não considerava exótico estar num debate discutindo problemas de São Paulo após ter sido presidente, Collor foi brusco: “Exótico é o diretor do seu jornal matar uma mulher com um tiro pela costas.” Entrava em cena Pimenta Neves, que assassinou a jornalista Sandra Gomide. Por fim, chamou o jornalista de idoso. Para fechar o estilo bateu-levou, se recusou a fazer perguntas a Enéas, por considerá-lo “nanico”. Collor tem 1,3% das intenções de voto nas pesquisas. Erundina (PSB) duelou com Maluf, que abusou de grosserias para atacar a ex-prefeita. Marta, ao responder uma pergunta de Zé de Abreu, que a chamou todo o tempo de madame, estocou Alckmin. Zé, que quis saber do vice-governador o que ele tinha feito “de importante em Pinda”, não obteve resposta e Marta, pouco depois, aproveitou a deixa: “Ele contratou sem licitação empresas de ônibus para explorar o transporte público e empregou parentes. Taí, Zé de Abreu, o que você queria saber!” Irritado, o tucano ironizou: “Logo a senhora, dona Marta, fazendo dobradinha com o candidato do Pitta!” Alckmin esteve pela primeira vez acompanhado, num compromisso de campanha, do governador Mário Covas e de dois ministros muito próximos de FHC: José Serra (Saúde) e Paulo Renato (Educação). Ele pode ter se transformado em vidraça, mas São Paulo é vitrine para o PSDB. A estratégia dos adversários, de golpear firmemente o tucano nos programas eleitorais, fez com que ele interrompesse seu crescimento. Conforme mostram os Institutos Brasmarket (leia quadro) e DataFolha, Alckmin estagnou e Marta sobe um pouco. O tucano reage aos números e cita o Ibope, que aponta uma subida pondo-o no patamar dos 14, dos 16 pontos. “Não dá para continuar subindo na mesma velocidade em pouco tempo. Esperava estar com 7% no dia de hoje e já estamos com o dobro, em segundo lugar.”

Colaborou Ines Garçoni

Inferno astral
Ciúme: Ciro voltou a circular com a ex-mulher Patrícia Gomes e desagradou Patrícia Pillar

Nem a dedicação integral de Ciro Gomes à campanha da ex-mulher Patrícia, candidata à Prefeitura de Fortaleza, impediu que ela despencasse nas pesquisas. Está em terceiro lugar, atrás do candidado do PCdoB, Inácio Arruda. Para piorar, a outra Patrícia, a Pillar (namorada de Ciro), anda enciumada com a reaproximação da ex e a relação estremeceu. Coordenador-geral, Ciro não desgruda de Patrícia Gomes: onde ela vai, ele vai atrás. Aparece ao seu lado nas caminhadas, nos palanques e programas eleitorais. O reatamento do casal corre à boca pequena. Entre uma fofoca e outra, o certo é que a Pillar, depois de muito reclamar, fez um pacto com Ciro: não dará o ar da graça em Fortaleza até o fim das eleições. Ela tem sido vista nas badaladas estréias no Rio e em São Paulo sozinha. Mas quem está sendo chamado de pé-frio é mesmo Ciro. No DataFolha, Patrícia Gomes caiu nove pontos em 12 dias. Tem agora 20% contra 24% de Inácio Arruda (PCdoB), que subiu seis pontos. O atual prefeito Juraci Magalhães (PMDB) é líder isolado na disputa (33%). Cláudia Carvalho e Liana Melo