Para Ana Michaelis, a pintura é uma mentira em que ela acredita piamente. Por isso, há dez anos, a artista pinta paisagens imaginárias, que não se referem a nenhuma geografia conhecida. São imagens que poderiam remeter a uma natureza nórdica, influência direta de Caspar David Friedrich e dos românticos alemães, mas ao mesmo tempo tropical. Trata-se, segundo a artista, de uma paisagem mental, que resgata memórias coletivas, coletadas de posts em redes sociais na internet. “Roubo imagens”, diz Ana, que publica regularmente a documentação de seus processos de pintura no instagram e utiliza suas redes como matéria de trabalho.

abre.jpg

“Ilusão” é o título de sua nova individual, no D’Concept Escritório de Arte, em São Paulo, a charmosa galeria de Cecília Isnard localizada na Vila Modernista projetada por Flávio de Carvalho, em 1936, na alameda Lorena. A galeria divide-se em dois espaços: uma sala da Casa 3 e outra em frente ao imóvel, instalada na antiga garagem da casa. A exposição é composta por uma instalação e dez telas. Na antiga garagem, Ana compôs uma paisagem penetrável, pintada diretamente sobre as paredes. A instalação obedece aos princípios do ilusionismo e pretende envolver as pessoas na pintura de 7,5 metros quadrados. É uma caixa de transporte para outra dimensão, que suga o espectador.

Já as telas têm pequena dimensão. São também compostas por paisagens, sempre em branco e preto, sempre diáfanas. Mas, desta vez, elas escondem frases enigmáticas. “Todo cuidado é pouco” e “Não olhe para trás” são palavras mimetizadas aos brancos que remetem às névoas. Trata-se também de frases colhidas em redes. Com isso, mesmo trabalhando com o mais tradicional dos meios, a pintura, Ana Michaelis se aproxima de uma das tendências mais contemporâneas da arte: a estética do banco de dados.