Minutos antes de a presidenta Dilma Rousseff proferir o seu primeiro discurso, depois de reeleita, uma cena chamou a atenção de todos que se amontoavam à sua espera. Ao entrar no palco armado num hotel em Brasília, Dilma ergueu um dos braços do ex-presidente Lula, o agradeceu pela vitória e o saudou como “militante número 1 das causas do Brasil”. Estava sepultada ali a tese que previa Lula exercendo menos influência num futuro governo Dilma. Não bastasse aquela reveladora e simbólica imagem, os dias que sucederam a data do segundo turno das eleições mostraram que Lula está e estará mais atuante no governo do que há quatro anos, quando carregou Dilma para o seu primeiro triunfo eleitoral.

abre.jpg
EMBLEMÁTICO
Cena ocorrida depois do resultado das eleições sugere que
o ex-presidente Lula terá mais espaço no governo

Na última semana, o ex-presidente sugeriu nomes para o novo ministério e, a interlocutores, disse que espera ser atendido. A principal indicação de Lula é Henrique Meirelles. O ex-presidente do Banco Central durante os oito anos de seu governo – período de inflação baixa, forte crescimento, acúmulo de reservas internacionais, baixa volatilidade e alta confiança empresarial – é o preferido de Lula para o Ministério da Fazenda. Por mais que correntes à esquerda do PT bombardeiem o retorno de Meirelles e considerem sua nomeação uma “rendição ao mercado”, sua confirmação seria, na verdade, uma rendição da presidenta aos anseios de seu antecessor e eventual sucessor – uma vez que Lula já manifestou a aliados sua intenção de concorrer em 2018. No Instituto Lula, o raciocínio que se faz é que, com Meirelles, o segundo governo Dilma daria um sinal positivo ao empresariado, o que não ocorreria se a escolha recaísse sobre o nome de Aloizio Mercadante, chefe da Casa Civil, hoje um dos ministros mais alinhados com a presidenta Dilma. “Não comento indicações para o ministério, mas não há dúvidas de que Lula terá um protagonismo maior no segundo mandato”, afirma o presidente do PT, Rui Falcão.

Para o PT que se perfila sob Lula, as indicações para o primeiro escalão de Dilma serão apenas o começo de uma relação mais direta e de maior ascendência sobre o governo. O círculo lulista também aposta que encontros com futuros ministros, tendo como palco a sala de reuniões do Instituto Lula, serão mais constantes neste segundo mandato. “Há quem aposte num governo paralelo”, afirmou um petista ligado ao ex-presidente. É claro que Lula saberá manter a discrição e deverá dosar as aparições e pronunciamentos, para não alimentar dúvidas sobre quem governará de fato. Mas, nos bastidores, tentará exercer o máximo de influência, reconhece um companheiro.

IEpag44e45_Lula-2.jpg

Em recente conversa com a presidenta Dilma, antes mesmo da reeleição, Lula afirmou que pretende ser acionado para apagar possíveis incêndios na relação com o PT e partidos da base aliada. Esse papel já foi cumprido em alguns momentos no primeiro mandato. A expectativa é que essas ações se intensifiquem no segundo. Até porque o cenário para o PT no Congresso é menos favorável a partir de 2015. Além da fragmentação de partidos, o PT reduziu sua bancada na Câmara de 88 para 70 deputados e de 15 para 12 senadores. O PT também se depara com uma oposição ainda mais forte e com apoio popular, que será capitaneada pelo senador e ex-candidato à Presidência Aécio Neves (PSDB). O fim da eleição deixou o País numericamente dividido e essa força será usada pelos tucanos e seus aliados no Congresso, também visando às próximas eleições presidenciais.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

No primeiro mandato, Dilma deixou de ouvir Lula em diversas ocasiões, causando descontentamento à ala lulista do PT, como quando o ex-presidente havia pedido a substituição do ministro da Fazenda, Guido Mantega, para reconquistar a confiança do mercado, e a saída de Arno Augustin, do Tesouro, mas foi ignorado. Desta vez, dizem os petistas nos bastidores, situações como essas serão encaradas de outra forma.

De olho já na sucessão de 2018, aliados de Lula também ponderam que o ex-presidente precisará atuar de forma mais incisiva para evitar que a petista insista nos erros cometidos no primeiro mandato. Entre eles, o distanciamento dos movimentos sociais, a falta de diálogo com empresários e o excesso de centralização nas ações. Na avaliação do PT mais próximo de Lula, se Dilma fizer uma administração impopular a partir de janeiro, o ex-presidente encontrará mais dificuldades para se candidatar daqui a quatro anos. É tudo o que ele não quer. 

Foto: Eraldo Peres/AP Photo


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias