Entre muitos brasileiros, uma dor de garganta é o que basta para apelar a antiinflamatórios facilmente comprados nas farmácias. Mas, se depender da vontade dos médicos, esse tipo de remédios está com os dias contados. Em menos de um ano, eles passaram de mocinhos a bandidos, em função de pesquisas que apontaram que o estômago está em perigo devido ao consumo desenfreado desse grupo de drogas. No lugar delas, se consolida uma nova classe de medicamentos, que não agride o órgão. Atualmente, ela é uma das campeãs de vendas da indústria farmacêutica nos Estados Unidos.

Os números apresentados no Congresso Internacional de Gastroenterologia, realizado em San Diego (EUA) no mês passado, apontam que é melhor evitar os antiinflamatórios comuns. Segundo o pesquisador Jay Goldstein, professor da Universidade de Illinois, 20% dos americanos que tomam esses remédios têm úlcera. Deles, 2% têm complicações graves e 0,2% morrem, índices que não parecem alarmantes por serem pequenos. Mas essas consequências podem ser anuladas com a nova geração de antiinflamatórios, que nasceu com a descoberta de que é possível dividir em duas partes uma enzima chamada COX, responsável pelo processo inflamatório. Os atuais remédios atacam apenas a COX2, produtora de substâncias que provocam dores. A COX1, que ajuda a defender o estômago do ataque de bactérias, fica preservada da ação do medicamento.

Primeira droga da nova geração, o Celebra (celecoxib) foi lançado há um ano e já é o mais receitado nos Estados Unidos, segundo Goldstein. Também é consumido no Brasil. Foi graças a ele que o carioca Gilvan Araújo, 39 anos, resolveu suas dores de estômago. Ele sofre de espondilite anquilosante, uma espécie de inflamação na coluna. Durante 21 anos, virou escravo dos antiinflamatórios e ganhou uma úlcera. Há um ano começou a se tratar com Celebra e agora vive melhor. O reumatologista Cristiano Zerbini, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP, diz que os inibidores de COX2, como o Celebra e o ainda pouco conhecido Vioxx (rofecoxib), por diminuírem efeitos colaterais como náuseas e gastrite, acabam com a necessidade de exames e remédios extras para cuidar do estômago.
Acostumado a atender as vítimas dos antiinflamatórios comuns, o gastroenterologista Antônio Frederico Magalhães, de São Paulo, afirma que agora é preciso vencer outro desafio: a automedicação. “Tem muita gente que se queixa do estômago, mas não revela que toma antiinflamatório. As pessoas devem ir ao médico para que ele autorize a troca de medicamentos”, afirma.