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Após um início promissor, com algum espaço para discussão de propostas de governo, o debate dos candidatos à Presidência da República deste domingo 7 descambou, mais uma vez, para um festival de ataques e acusações de parte a parte. O clima ficou especialmente quente quando o escândalo de corrupção na Petrobras entrou na pauta.

Nos estúdios da tevê Record, Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) participaram do penúltimo encontro do tipo antes da votação do segundo turno, no próximo domingo 26.

O debate se iniciou com a pergunta de Dilma sobre a lei do Simples, que facilitou a tributação de pequenas empresas. "Temos que ampliar o alcance do Simples", afirmou Aécio. "Se eleito, apresentarei proposta para simplificar o atual sistema tributário." A candidata do PT, em seguida, comparou o desempenho de seu partido ao governo FHC. "Conosco, o simples cresceu 101%", afirmou Dilma.

A questão da criminalidade também foi discutida. Segundo Aécio, o governo Dilma falhou no combate à violência. Na réplica, a candidata à reeleição voltou a colocar Minas Gerais – Estado que foi governado pelo tucano – no centro do debate, e afirmou que Aécio não foi capaz de conter o aumento dos homicídios.

Ao debaterem crescimento econômico e inflação, os candidatos fizeram acusações mútuas e disseram que os dados apresentados de cada lado eram imprecisos. Aécio aproveitou a menção de Dilma à baixa taxa de desemprego para alfinetar: "O meu governo não gerou mais ou menos emprego que o seu porque eu não governei o Brasil, candidata."

Aécio, como tem feito nos últimos debates, voltou a citar o escândalo de corrupção na Petrobras. "Devo fazer um reconhecimento público e citar que a candidata finalmente reconheceu que houve desvios de dinheiro", afirmou o tucano. Dilma respondeu dizendo que seu governo é marcado pelo combate à corrupção e citou que, diante dos indícios, haverá investigação completa das denúncias do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa, delator do esquema. "Faltou governança na Petrobras. Não foi só corrupção", replicou Aécio.

A menção ao escândalo da Petrobras foi o gancho para o início de uma série de ataques diretos. Ambos se acusaram de serem coniventes com a corrupção, e Dilma chegou a acusar Aécio de ter prevaricado. "Eu mando investigar, não transfiro delegado para outro Estado para não investigar, como no caso da Pasta Rosa", afirmou Dilma. “Triste do país em que o presidente manda ou não investigar. Quem investiga são as instituições”, respondeu Aécio.

A saúde, tema que praticamente ficou de fora da campanha eleitoral, foi brevemente mencionada no primeiro turno do debate. Dilma citou o “Mais Médicos”, programa que trouxe profissionais de saúde estrangeiros para atuar no Brasil, e lembrou que o PSDB votou pelo fim da CPMF, imposto cuja arrecadação era destinada à saúde. Aécio replicou: “Não quero um programa para chamar de meu, quero mais saúde.” O candidato tucano também criticou o fato de a remuneração dos médicos cubanos ser diferente daquela dada a outros profissionais. “Vocês desviaram mais de R$ 7 bilhões da saúde em Minas Gerais”, acusou Dilma.

O segundo bloco do debate começou com mais uma menção ao escândalo de corrupção na Petrobras. Aécio Neves afirmou que o aparelhamento da estatal favorece os desvios e lembrou o mau desempenho da empresa no mercado financeiro, com reflexos negativos para o cidadão que investiu o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço na companhia. “Não é só sobre corrupção, é sobre gestão”, disse o tucano. Dilma retrucou afirmando que o valor de mercado da Petrobras passou de U$ 15 bilhões nos tempos de FHC para U$ 100 bilhões hoje.

Com a segurança de volta à pauta, Dilma afirmou que pretende integrar a atuação de forças federais às polícias estaduais, como ocorreu durante a Copa do Mundo de 2014. Aécio rebateu: “Pena que você não fez nos últimos quatro anos o que propõe agora, candidata. A senhora diz que vai fazer algo que já poderia ter sido feito.”

O candidato do PSDB criticou a gestão de Dilma Rousseff à frente dos bancos públicos, afirmando que o governo retém repasses e os coloca na conta dessas instituições. “No nosso governo, os bancos públicos serão fortalecidos”, disse Aécio. Dilma respondeu e disse que o BNDES é, hoje, o grande financiador do desenvolvimento nacional.

No fim do segundo bloco, Dilma citou as realizações de seu governo no Pronatec, o programa de incentivo ao ensino técnico. “Em 8 anos vocês fizeram 11 escolas técnicas”, disse a Aécio. “Eu em 4 anos fiz mais de 200.” O tucano repetiu, como tem feito nos últimos debates, que Dilma “tem obsessão por chamar os programas de meu”. E continuou: “O Pronatec precisa avançar.”

O bloco seguinte começou – com algum alívio para o eleitor – com Dilma questionando sobre a importância do Enem e do acesso amplo às universidades. “Quando penso em educação, também penso em creche”, provocou Aécio. “Aquelas 5 mil creches que a senhora disse que iria construir e que não construiu.” A petista retrucou e disse que os governos tucanos “sucatearam” o ensino superior e votaram contra o ProUni. “Assim não é possível tratar a educação”, afirmou Dilma.

Em seguida, Aécio questionou Dilma sobre as obras de infraestrutura prometidas, mas não entregues, como a transposição do rio São Francisco, no Nordeste. “Nós investimentos R$ 200 bilhões em infraestrutura apenas no meu governo”, respondeu a presidenta. “Os nordestinos não receberam uma gota d’água da transposição”, replicou o tucano.

A última parte do encontro foi reservada para as considerações finais dos candidatos. Dilma afirmou que os governos tucanos condenaram o País ao desemprego. "Eu sei que ninguém é uma ilha nem ninguém consegue crescer sozinho, por isso tenho certeza de que você (eleitor) cresceu porque o Brasil mudou, e o Brasil mudou porque o governo tomou providências", disse.

"Nós temos dois projetos para o País", disse Aécio. "Um que se contenta em comparar o presente com o passado, como o da candidata. Outro que olha para frente, que é o nosso", afirmou o tucano. "Eu não sou mais o candidato de um partido, sou o candidato dos brasileiros que sentem que o Brasil pode ser muito mais do que é hoje."

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