Se os institutos de pesquisa da Bolívia estiverem certos sobre a intenção de voto para presidente, o atual governante Evo Morales, 54 anos, se reelege, com folga, para um terceiro mandato de cinco anos no pleito deste domingo 12. As últimas medições indicavam 59% dos votos para ele, contra 18% do empresário Samuel Doria Medina e 9% do ex-presidente Jorge Quiroga. Também está previsto que ele consiga, graças ao efeito de suas práticas populistas, maioria absoluta no Congresso. É um fato importante para a realização dos novos desafios que Morales pretende enfrentar, como avançar na industrialização e colocar o país como um centro energético nos próximos anos, inclusive dando início a um programa nuclear civil com fins pacíficos e investimento de US$ 2 bilhões até 2025.

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PLEITO
A eleição será no domingo 12. Morales está com 59% das inteções
de voto e o ex-presidente Jorge Quiroga tem 9%, segundo as pesquisas

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O pleito na Bolívia acontece duas semanas antes do segundo turno das eleições brasileiras. Seja quem for o vencedor no Brasil, os especialistas acham que não haverá mudanças drásticas no aspecto econômico na relação entre os dois países. Nenhum dos candidatos bolivianos pensa em voltar atrás na polêmica estatização dos hidrocarbonetos, que prejudicou a Petrobras, capitaneada por Morales em seu primeiro mandato. “O Brasil continuará sendo o maior importador de gás da Bolívia e os investimentos da Petrobras em infraestrutura naquele país não devem ser afetados, até porque são controlados por contratos internacionais”, diz o cientista político Rafael Antonio Villa, coordenador-adjunto do Comitê de Ciência Política e Relações Internacionais da Capes.

Do ponto de vista político, porém, há diferenças. Existe mais identidade entre Morales e a presidente Dilma do que entre o governante boliviano e o tucano Aécio Neves. As relações bilaterais estão estremecidas desde que o senador boliviano oposicionista Pinto Molina, que estava refugiado na embaixada brasileira naquele país, fugiu para o Brasil com a ajuda e na companhia do diplomata Eduardo Saboia, atualmente afastado do Ministério das Relações Exteriores. O professor da Universidade de São Paulo e membro do Conselho Superior do Instituto de Estudos Internacionais e de Desenvolvimento (IHEID), Jacques Marcovitch aposta numa reaproximação a partir de 2015. “Uma eventual mudança de governo no Brasil contribuiria  para uma solução do contencioso e a reintegração do diplomata Saboia”, diz ele. Já Villa acredita que Dilma teria mais interesse em refazer os laços. “Aécio não considera a relação com os países da América do Sul tão relevante quanto com os Estados Unidos”, diz ele.

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A prevista reeleição de Morales é resultado do crescimento econômico recorde em seus nove anos de governo, em duas administrações anteriores, e reconhecido por instituições como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, depois de a Bolívia passar décadas no topo da lista de nações mais pobres da América Latina. O país andino reduziu a pobreza extrema de 28% para 18%, mas continua a enfrentar problemas gravíssimos como a corrupção generalizada, a exploração de mão de obra infantil e a superlotação carcerária.

Fotos: Victor R. Caivano/AP Photo; David Mercado/Reuters