Nos primeiros dias após o primeiro turno da disputa presidencial, os eleitores parecem ter se movido numa velocidade maior que a de seus líderes. Um exemplo desse descompasso está em Marina Silva, candidata terceira colocada pelo PSB que conquistou mais de 20 milhões de votos. Até o final da semana, ela não havia definido a forma como pretende apoiar a candidatura de Aécio Neves (PSDB) na segunda etapa da eleição, embora já tivesse sinalizado que não irá marchar ao lado de Dilma Rousseff (PT). Mas as pesquisas já mostravam uma migração de seus eleitores para a candidatura de Aécio. Tanto no Ibope, como no Datafolha, o candidato tucano apareceu à frente da concorrente petista: 46% a 44%. No QG de campanha de Aécio, o resultado foi recebido em tom de euforia. A imprevisibilidade que tem marcado esta eleição presidencial recomenda prudência nos prognósticos, mas reza a tradição eleitoral brasileira que quem larga na frente no segundo turno da disputa presidencial, em geral, vence. Desde a redemocratização, a lógica se cumpriu. Essa constatação impregnou a campanha tucana de otimismo, mas as boas-novas não pararam por aí para o candidato que era dado como carta fora do baralho no primeiro turno e protagonizou uma das maiores viradas eleitorais da história recente – pulou de 19% para 33,5% em duas semanas. Durante os últimos dias, Aécio ampliou seu o leque de apoios no segundo turno. Em apenas uma semana, os tucanos foram reforçados pelo PSB, PV, PSC e PPS. Não quer dizer que os votos recebidos por essas legendas no primeiro turno serão transferidos automaticamente para Aécio, mas numa disputa parelha como a atual, a abertura de novos palanques pode fazer muita diferença no final.

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O gesto mais emblemático foi o do PSB. Aliado histórico do PT, o PSB optou por tomar um caminho oposto ao que vinha seguindo antes de romper com o governo no ano passado. Na quarta-feira 8, o partido declarou apoio à candidatura de Aécio Neves após reunião da executiva nacional, em Brasília. A decisão guarda relação com a campanha eleitoral de Dilma, a qual os dirigentes consideraram “caluniosa” contra a candidatura de Marina e Beto Albuquerque. Dos 29 integrantes que compareceram à reunião, 21 votaram a favor de Aécio, sete indicaram neutralidade e apenas um votou pelo apoio a Dilma Rousseff. Beto Albuquerque, ex-candidato a vice de Marina, já apostava nessa decisão tomada pela legenda. Ele, inclusive, telefonou ao tucano na terça-feira 7, quando Aécio estava em seu primeiro evento de campanha após a apuração dos votos. “Ver defeitos nos outros é um costume do PT. Sua conduta na campanha no primeiro turno foi uma conduta lacerdista de esquerda, que só soube nos ofender, mentir e nos caluniar desde o início”, disse.

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PALANQUES REFORÇADOS
Durante a semana, o tucano Aécio Neves recebeu apoio de
Roberto Amaral, do PSB (topo), de Eduardo Jorge, do PV, do Pastor Everaldo,
do PSC, e de Renata Campos, viúva de Eduardo Campos 
(da esq. para a dir.). Marina
ainda não anunciou sua posição, mas sinaliza em favor do PSDB

O PPS, de Roberto Freire, que estava coligado com o PSB, também assegurou presença na campanha de Aécio. “Nós temos que estar juntos com a candidatura de Aécio para combater o lulopetismo”, declarou Freire na terça-feira 7. O mesmo caminho foi seguido pelos ex-candidatos Pastor Everaldo (PSC) e Eduardo Jorge (PV). Em Pernambuco, Aécio também ampliou apoios. No Estado em que registrou o pior desempenho (6% dos votos), o tucano reforçará a campanha com os familiares de Eduardo Campos, herdeiros políticos do chamado Eduardismo, novo fenômeno estadual que conduziu Paulo Câmara ao triunfo no primeiro turno na disputa ao governo. No sábado 11, o tucano estará no Recife, onde se encontrará com a viúva de Eduardo, Renata Campos.

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Fotos: Adriano Machado/Ag. Istoé; André Desek, Dida Sampaio, Dayvison Nunes – Estadão Conteúdo;Reuters/Paulo Whitaker