Na campanha que marcou o renascimento da democracia no País, também surgiram dois jingles que se tornaram clássicos e são lembrados até hoje. Eles embalaram a campanha dos candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Leonel Brizola (PDT).  “Esses jingles viraram referência daquele momento”, lembra o cientista político e professor da Universidade Federal da Bahia, Luiz Claudio Lourenço, autor do artigo acadêmico “Jingles Políticos: estratégia, cultura e memória nas eleições brasileiras”.

O mais icônico deles, o “Lula Lá”, composto por Hilton Acioli, surgiu em 1989 e acabou sendo utilizado em outras campanhas. Foi adaptado, inclusive, para a campanha de Dilma Rousseff de 2010, como “Dilma Lá”. “O ‘Lula Lá’ é bem interessante pelo conceito político que ele representou, já que o PT era um partido ainda novo”, diz Luiz Claudio. “O jingle passava essa ideia de alcançar o sonho do Executivo, o que na época era quase uma utopia.”

Carlos Manhanelli, autor do livro “Jingles eleitorais e marketing Político”, lembra que o jingle é uma ferramenta multiuso que acompanha toda a campanha, na TV, no rádio, nos comícios, e que também mudou ao longo do tempo. Manhanelli explica que há duas formas de trabalhar o jingle. Uma é enaltecer as qualidades do candidato ou os programas de governo. A outra é colocá-lo como uma música de combate. “O ‘Lula Lá’ tinha a função de resolver o problema de conceito sobre o Lula na época, elevar suas qualidades e pedir ao eleitor para votar sem medo”, afirma.

O jingle composto para a campanha de Brizola, o “La la la la la Brizola”, servia para reforçar a imagem do político. “O uso do coral de crianças foi uma estratégia interessante e atenuou o fato de que o jingle não ia muito além desse refrão”, diz Manhanelli. “Era bem simples, e mesmo assim acabou sendo marcante.”

O autor destaca também o jingle – bastante animado, segundo ele – usado na campanha de Ulysses Guimarães. Segundo o especialista, a canção foi inspirada num jingle de Getúlio Vargas e tinha como objetivo fazer com que as pessoas confiassem e votassem “no velhinho”, que deixassem ele trabalhar, pois ele sabia o que estava fazendo. “Era a valorização da experiência”, diz Manhanelli. Ulysses tinha 73 anos na época da campanha – e esse fator pesava contra ele por conta da proximidade com a morte de Tancredo Neves, um político experiente como Ulysses, que se tornou presidente sem ter assumido em decorrência da doença que o vitimou.

Curiosamente, entre os principais candidatos de 1989, o que tinha o jingle menos marcante acabou ganhando as eleições. “O jingle do Collor foi bastante apático”, destaca Manhanelli. “Acabaram fazendo outro para o segundo turno, que é o mais lembrado, e que reforçava para o eleitor que chegava a hora de confirmar o voto nele.”

Com as novas formas de comunicação entre político e eleitor, Manhanelli diz acreditar que o jingle hoje tem a função de registrar o número do candidato. Até porque é dele que o eleitor precisa lembrar para votar na urna eletrônica, que não existia em 1989. “Hoje eles se concentram muito nas rimas clássicas, principalmente com os números, como ‘6’ com ‘outra vez’, e assim por diante”, diz.

Outra diferença dos jingles de 1989 para os de 2014 é apontada por Luiz Claudio. Se antes as músicas começavam lentas e culminavam em coro apoteótico, com o refrão “chiclete”, hoje elas tendem ao ritmo gospel, sertanejo ou até mesmo aos regionais, como o arrocha e o forró. “É uma forma de se aproximar do eleitor, acompanhando essas mudanças culturais”, diz.

Confira os principais jingles da campanha de 1989:

Lula_640.jpg

   Clique AQUI para ver "Lula Lá"

 

Brizolla_640.jpg

 Clique AQUI para ver "La la la la la Brizola"

Collor_1turno.jpg

 Clique AQUI para ver "Collor Presidente – 1º turno"

 

Collor_2o turno_640.jpg

 Clique AQUI para ver "Collor Presidente – 2º turno"

 

Ulisses_640.jpg

Clique AQUI para ver "Ulysses Presidente"