O cenário é desolador. Troncos esparsos despontam do que parece ser um enorme lago de natureza morta. Não há vegetação e a vida parece esquecida na região do município de Presidente Figueiredo, no Amazonas, a 130 quilômetros de Manaus, onde está localizada a usina elétrica de Balbina. Inaugurada em 1989 durante o governo de José Sarney, ficou conhecida por gerar uma quantidade muito baixa de energia após alagar o local, configurando-se em um verdadeiro desastre ecológico. Daquele lugar inóspito, brotou uma arte de protesto, como revela o documentário “Raízes do Brasil”, que retrata o trabalho da artista plástica Bia Doria. Dirigido por Waldemar Tamagno, o filme mostra Bia em viagem pela região e sua interferência na paisagem, ao pintar uma das árvores de vermelho, denunciando a catástrofe ambiental.

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INSPIRAÇÃO
Cena do documentário "Raízes do Brasil" e, abaixo, Bia Doria
ao lado do polonês Frans Krajcberg, seu mentor

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A artista visitou a localidade pela primeira vez em março de 2013, quando procurava um novo cenário para trabalhar. Ela voltaria ao local em outubro, dessa vez com a equipe de filmagem. Tamagno, também corroteirista do projeto, explica que foi chamado para fazer um filme sobre a artista, e conversando com ela foi desenvolvendo o rumo a tomar. “A ideia inicial era fazer uma espécie de videobook, mas percebi que podia captar seu processo de criação, e com o tempo fui descobrindo uma maneira de contar sua história”, diz.

O curta-metragem é composto de cenas da viagem a Balbina e de depoimentos de amigos e conhecidos, como Romero Britto e o americano Gary Nader, que expôs algumas das obras de Bia em sua galeria em Miami. “Procurei ser o mais natural possível, não houve uma intenção estética. O filme foi acontecendo aos poucos. No final eu tinha um material bruto de mais de duas horas”, explica Tamagno, que estreia como diretor.

O filme de 20 minutos será exibido no canal Arte1 às 20h30 do sábado 4 e, em seguida, ficará disponível no site oficial da artista. Um DVD será lançado em conjunto com um livro, também intitulado “Raízes do Brasil”, que reproduz imagens e depoimentos do curta, a ser lançado em 17 de novembro pela Editora PitCult.

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Filha de fazendeiros do interior de Santa Catarina, Bia explica que o fascínio por temas ecológicos vem da infância, quando vivia em contato direto com a natureza. Seu interesse por artes plásticas só surgiria muitos anos depois, por volta de 2002. Sua maior referência é o polonês naturalizado brasileiro Frans Krajcberg, a quem ela chama de “grande mestre”. Enquanto criava suas primeiras obras, Bia ouvia de amigos que elas lembravam o trabalho de Krajcberg, e por conta disso resolveu entrar em contato com o artista, de quem se tornou próxima. “Ele me ensinou técnicas de como olhar a floresta, escolher o material e observar as formas”, diz ela, que tem planos
de fazer algum projeto relacionado ao deserto de Atacama, no Chile.

Bia terá uma exposição individual na Pinacoteca de Santos a partir de 15 de outubro, e participa da Art Basel, feira de arte em Miami que é considerada uma das maiores do mundo, entre os dias 2 e 7 de dezembro. Uma mostra individual em São Paulo está em negociação e deve acontecer no início
do próximo ano.

Fotos: Divulgação  


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