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Em um movimento de alta que ganhou força neste mês, o dólar atingiu na segunda-feira sua maior cotação desde dezembro de 2008, ano em que eclodiu a crise financeira global. A moeda fechou em R$ 2,45, acumulando uma valorização de 10,45% desde o início da campanha eleitoral, no dia 6 de julho – às 15h48 desta terça-feira, a moeda operava a R$ 2,44. O processo de escolha do próximo presidente da República mostra-se como o principal responsável pela alta da divisa no período.

Com a entrada de Marina Silva (PSB) na disputa pelo Planalto – após a morte de Eduardo Campos, vítima de um acidente aéreo em Santos (SP), no dia 13 de agosto – e sua subsequente subida nas pesquisas de intenção de voto, investidores sinalizaram otimismo com uma eventual mudança de política econômica e menor efeito do governo federal em grandes empresas de capital misto, público e privado.

As últimas pesquisas de intenção de voto à Presidência, no entanto, indicam recuperação da candidata Dilma Rousseff (PT), que venceria Marina na disputa no segundo turno, conquistando a reeleição. O mercado financeiro assumiu o mau humor com a configuração do novo cenário.

A construção da possível vitória de Dilma fez intensificar o ciclo de alta do dólar desde o dia 12 deste mês, quando a moeda alcançou a casa dos R$ 2,30 – fechando a R$ 2,32. Desde então, a divisa não voltou mais para os R$ 2,20, patamar ainda visto entre julho e agosto, mês em que Marina sempre aparecia à frente de Dilma nas pesquisas.

Precaução

Com receio de que a política econômica atual continue pelos próximos quatro anos, investidores têm procurado se proteger com posse de dólares, aumentando a procura pela moeda, de acordo com Silvio Campos Neto, economista da consultoria Tendências. “Quando se intensifica a procura (por dólar), o real perde valor e o dólar ganha.”

A compra de dólares no mercado futuro, medida utilizada principalmente por quem quer se proteger de flutuações cambiais, acaba por afetar o mercado à vista. “O Banco Central oferece essa proteção através dos contratos de swaps, que atende parte dos interesses dos investidores que querem manter ou acompanhar a variação do dólar. Basicamente, compra-se um contrato que garante uma determinada variação cambial.”

Segundo Thiago Souza, analista da XP Investimentos, a alta do dólar acontece por que há um movimento especulativo e de proteção no mercado de câmbio neste momento. “O dólar reflete um movimento generalizado de aversão ao risco, há uma expectativa negativa a médio e longo prazos [com a reeleição de Dilma].”

De acordo com os analistas, o mercado não aposta mais no atual governo em função do cenário de inflação elevada – com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) rondando o teto da meta do Banco Central – e baixo crescimento, além de o governo ter realizado intervenções em estatais para controlar preços e resultados fiscais, destacam.

“Há um temor de que os próximos quatro anos sejam parecidos com os últimos quatro”, diz Campos Neto. “Houve expectativa de que Marina pudesse ser favorita, trouxe otimismo, valorização dos ativos e do câmbio. Mas, em setembro, com a retomada da candidatura governista nas pesquisas, o mercado está preocupado que possa ocorrer um cenário de reeleição.”

Fatores externos

Além da eleição, os analistas dizem que a recuperação da economia dos Estados Unidos e a expectativa de que o Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano, eleve os juros no ano que vem também têm afetado o câmbio. A alta dos juros americanos deve atrair investidores para o país, afetando as aplicações em países emergentes, como o Brasil.