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O ex-governador de São Paulo Mário Covas era o nome de consenso dentro do PSDB para assumir o posto de candidato à Presidência da República em 1989. Depois de desempenhar papel de destaque na Constituinte e de liderar a debandada do PMDB para a criação do PSDB, ele se apresentava como uma espécie de conciliador nacional, o nome que "não estava contra ninguém", mas que se propunha a apresentar "algo concreto" para a criação do novo Brasil que recém entrava no período de redemocratização. Tudo lindo, não fosse o fato de que sua candidatura não decolava nas pesquisas, assunto que lhe causava certa irritação. "Estatisticamente, o levantamento de opinião pública, a pesquisa de opinião pública é, cada vez mais, uma ferramenta de campanha", disse.

 

A candidatura do senador Mário Covas é uma das poucas já colocadas que não sofrem torpedeamento dentro do próprio partido — O PSDB está fechado em torno de seu nome. Por essa razão, Covas pode concentrar esforços na busca de um arco de apoios externos que viabilizem sua empreitada. Nos últimos dias ele intensificou contatos com políticos e empresários, ao mesmo tempo em que aumentava suas aparições na televisão, rádio e jornais. Covas se mostra confiante quanto às chances de sucesso de sua candidatura e ri diante dos comentários de que ela não consegue decolar. Eleições recentes estão aí para mostrar que nem sempre quem sai na frente chega em primeiro.

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Covas
Se escolhido, Ulysses já sai em situação difícil

ISTOÉ — O sr. costuma ser apresentado como candidato de centro-esquerda. É essa, inclusive, a definição da própria imprensa. Mas o sr. se considera um candidato válido contra o monstro Brizula, ou seja, contra os candidatos ditos de esquerda?
Covas—
Eu tenho uma aspiração um pouquinho maior do que essa. Eu acho que este país está complicado demais para alguém se colocar como candidato contra alguma coisa. Eu já estive em algumas reuniões em que a preocupação básica se encaminhou nessa direção: “Mas,afinal, quem é que vai ganhar do Lula e do Brizola?” Como se ganhar do Lula e do Brizola fosse uma tarefa de salvação nacional. Nós estamos é tentando apresentar uma proposta concreta, uma proposta clara, expondo o que a gente pretende fazer se o povo nos der essa delegação. Temos isto, é certo, uma proposta progressista, que tem como objetivo não se colocar contra Lula ou contra Brizola, mas impor-se como a melhor entre todas as concorrentes.

ISTOÉ — Aparecem notícias nos jornais dizendo que Antônio Ermírio de Moraes o apoiaria, que o Olavo Setúbal estava do seu lado. Depois estas informações foram desmentidas. Que há de verdade nessa história?
Covas —
Eu não sei. Realmente não gostaria de falar por quem quer que seja, a não ser por aqueles que, sendo membros desse partido chamado PSDB, hoje se apresentam juntos para concorrer às eleições. Sobre o empresário Antônio Ermírio sempre cito um fato. Vinte dias depois de assumir a prefeitura de São Paulo, estava no meu gabinete, na companhia de um repórter. Era mais ou menos meia-noite e eu recebi um telefonema do administrador de São Miguel, que me dizia que o bairro chamado Vila Nitro Operária, um bairro de mais ou menos cinco mil residências, estava inundado pelo Tietê. Lá na origem, quando a Nitroquímica, empresa do grupo Votorantim, foi construída, passava por debaixo da fábrica uma galeria oval, de mais ou menos uns oito metros de diâmetro, por onde ficava canalizada uma corrente de água de vazão mínima, que hoje se transformou em uma coisa caudalosa chamada Córrego de Itaquera, que deságua no Tietê. Hoje o Itaquera nasce lá na Cohab Tiradentes, e só ali recebe um metro cúbico por segundo de esgoto. É provável que aquela galeria originária fosse suficiente para impedir tragédias, mas já não era quando assumi a Prefeitura e, além disso, lá havia outros pontos de enchentes: um na passagem da estrada de ferro Santos-Jundiaí, a 800 metros a montante da passagem da Nitro, onde havia uma ponte feita com vigas não invertidas, de maneira que acabou virando uma verdadeira barragem. Lembro-me de um cidadão do bairro que tinha o costume de dormir com uma mão para fora da cama, de forma que quando a enchente vinha ele acordava com a mão encharcada. Mas naquela noite a inundação cobria o bairro inteiro. Eu convidei os engenheiros da Nitro para uma reunião, no dia seguinte, no meu gabinete. Concluímos, numa primeira avaliação, que íamos precisar de 40 metros dentro da Nitro para abrir um canal; mas, ao final da reunião, eu, pouco satisfeito com o resultado, embora não tivesse sido decepcionante, resolvi telefonar para o Antônio Ermírio, com quem, nessa época, tinha pouca relação pessoal. Quatro dias depois, ele assinou com a Prefeitura um contrato de comodato cedendo os 40 metros por 40 anos, de graça, o que implicou inclusive a derrubada de certas edificações que havia no caminho. Eu achei que ele tinha manifestado, naquele instante, uma visão social muito clara. Para mim, em particular, a questão teve uma solução muito satisfatória, porque foi a primeira grande obra de conteúdo social que eu pude fazer no início da administração. Depois o Antônio Ermírio foi candidato a governador. E vou fazer um vaticínio: acho que não esgotou a sua vida política, porque alguém que teve a votação que ele teve acaba sendo novamente convocado, de uma forma ou de outra, a participar do processo eleitoral e político. Mas a verdade é que há cerca de um mês começou a se falar na sua candidatura à Presidência. Eu devia a ele um encontro, e até um agradecimento, por causa de referencias que ele havia feito a respeito da minha candidatura. No domingo anterior, eu fui a Araguaína e fui a Imperatriz, no Maranhão, e antes de sair tive oportunidade de falar com ele pelo telefone para acertar que, assim que voltasse de viagem, eu o procuraria. Nesse intervalo, durante a semana, ele desistiu formalmente da sua candidatura. Independente disso, em companhia de José Serra, que é o presidente do partido aqui em São Paulo, no sábado, 18, fiz uma visita a ele. Fomos trocar ideias sobre a situação política em geral, não se falou em apoios eleitorais.

ISTOÉ — Mas o senhor apreciaria o apoio de Antônio Ermírio?
Covas —
É evidente. Vejo até, nas pesquisas que os jornais publicam, que há urna certa superposição de intenção de voto na candidatura dele e na minha. De forma que o apoio dele seria um reforço eleitoral inegável. Portanto, seria bem-vindo.

ISTOÉ — E quanto a Setúbal, de onde saiu a história da sua adesão?
Covas —
Não sei. Não faz muito tempo, fui um jantar de que também participava o Dr. Olavo, e fui levado a colocar os meus pontos de vista, como ocorre normalmente com quem é candidato. Estive conversando com ele. Acho que o Dr. Olavo, na sua passagem pela Prefeitura de São Paulo, deixou algumas marcas positivas. Eu, por exemplo, tive a oportunidade e a possibilidade de intervir no transporte coletivo, em determinado instante, quando os empresários tentaram impor aumento de tarifa pela ameaça de diminuírem 20% da frota. Mas havia um contrato assinado, no tempo dele, que me permitiu entrar na Justiça e ganhar a briga.

ISTOÉ — Sabe-se de um estudo feito pela FIESP, no qual o senhor é apontado como um candidato aceitável e, mais que isso, simpático.
Covas —
Eu sei que a FIESP fez um estudo, destinado à moldura para ver quem é que cabia dentro dela. Parece que eu tenho algumas das qualificações que o estudo determinava e, portanto, poderia ser enquadrado como um candidato com possibilidades de sucesso.

ISTOÉ — Mas parece que o sr. se irrita muito quando se diz que a sua candidatura não decola. Como é que o sr. faz a análise deste momento da candidatura em relação às outras, que já estão na rua?
Covas —
A resposta a uma pergunta dessas sempre soa como uma desculpa. Quando alguém é obrigado a explicar as coisas já começa mais fraco do que deveria. Eu precisaria que a gente definisse o que é decolar. Se decolar é aparecer em primeiro lugar nas prévias, eu não estou em primeiro lugar nas pesquisas de hoje, como a Erundina não estava na última eleição, como o Quércia não estava em 86, como muitos outros que ganharam eleições. Eu acho que essa eleição, a despeito de ser nacional, e também por causa disso, e por ser uma eleição solteira, vai ter no período de 35 a 45 dias antes da eleição o seu período de pico. Isso já aconteceu nas eleições municipais. Mas veja que estas eleições ocorreram em todos os municípios brasileiros e com enorme tipo diferente de alianças. Se você pegar a região da Grande São Paulo, é muito provável que em dois municípios não se encontre o mesmo tipo de aliança. Agora não, agora nós temos um primeiro turno em que você terá oito ou dez candidaturas com oito ou dez propostas, marcando oito ou dez partidos – e isso será a única marcação que será feita ao longo do tempo. Isso me parece que, primeiro, favorecerá a sedimentação de natureza partidária, em segundo lugar, favorecerá a diferenciação, ainda que por nuances, das propostas colocadas. E acho que será nesse instante que efetivamente a comunicação avançará a um nível capaz de produzir o quadro definitivo. Eu nem sei se o quadro definitivo me será mais favorável, naquela altura, do que é hoje; pode até ocorrer de não ser, mas pode ocorrer exatamente o contrário. Hoje nós temos a fotografia do instante. Estatisticamente, o levantamento de opinião pública, a pesquisa de opinião pública é, cada vez mais, instrumento, uma ferramenta de campanha, mas é evidente que ela só pode ter significado se observada de forma dinâmica, ao longo da campanha; não tem um grande significado quando colocada instantaneamente. Que significaria decolar? Como analisar, por exemplo, a candidatura do PMDB, que sequer está colocada?

Que quer dizer decolar? O candidato do PMDB sequer existe…

ISTOÉ — O senhor não acha que houve um momento que sua popularidade alcançou um patamar bem mais nítido e elevado do que as suas cotações atuais?
Covas —
Concordo, houve um instante de visibilidade maior. Quando participei da liderança de uma luta pelos quatro anos de mandato do Sarney. Até pela função que eu ocupava, na liderança do maior partido na Constituinte. Todas as negociações se davam em volta gabinete da liderança, por motivos óbvios. Não era nem pela minha qualificação pessoal, mas porque as coisas eram assim.

ISTOÉ — O que o derrotou depois? O “centrão”?
Covas —
Acho que não. O “centrão” acabou provando, no período subsequente, algumas coisas que eu defendia e que a realidade demonstrou verdadeiras. Eu sustento, ainda hoje, que o trabalho realizado pela Comissão de Sistematização era de melhor qualidade que aquele que saiu do plenário, no final.

ISTOÉ — Mas não foi o “centrão” que acabou tomando conta da Constituinte?
Covas —
Não. O “centrão” nunca chegou a tomar conta da Constituinte em toda a fase de negociação. Eu acho que o resultado básico da Constituição foi o trabalho de negociação feito ainda sob o comando da liderança do PMDB durante toda a votação do primeiro turno, complementado posteriormente, já comigo fora do PMDB, no segundo turno. Quanto ao “centrão”, acabou por deixar claro que não tinha a potencialidade necessária para fazer uma Constituição. Apresentou oito emendas, cada uma delas a um dos títulos da Constituição. Só que, quando convocado a honrar essa apresentação, não foi capaz de traduzi-la em votos.

ISTOÉ — Mas na questão dos quatro anos a presença do “centrão” foi fatal.
Covas —
Eu acho que na questão dos quatro anos o que foi fatal não foi o “centrão”. Foi a presença de governadores do PMDB, foi a presença de Ulysses, a favor dos cinco anos. Mas houve gente dentro do “centrão” que votou pelos quatro anos.

ISTOÉ — A gente se pergunta, hoje, se não está em gestação a tentativa de formar um novo “centrão” em busca do candidato anti-Brizula.
Covas —
Nem sempre a fronteira entre a escolha a favor ou a escolha contra é com clareza. Nós – eu coloquei isto desde o inicio – estamos com uma certa missão dentro desse jogo: a missão de trazer uma proposta que não tenha como referencial derrotar quem quer que seja. A nossa proposta pretende ser é ganhadora e, portanto, derrotar todos os demais.

ISTOÉ — Certo. O senhor recusa-se a ser candidato do “centrão”.
Covas —
Recuso-me. Mas eu estaria sendo injusto se dissesse que sou a única hipótese de candidato que se situa nessa posição. Não sou. Eu acho que há outras candidaturas que certamente não se propõem a ser contra esse ou aquele, mas contra todos, num sentido afirmativo.

ISTOÉ — Por exemplo, quem?
Covas —
A rigor, o que quero dizer é que não reivindico para mim, com exclusividade, a posição de ter uma proposta afirmativa que vale por si só.

ISTOÉ — Mas Jânio Quadros não seria o candidato do “centrão”?
Covas —
Sim, sem dúvida. Mas, de resto, eu acho que neste momento Brizola e Lula já assustam menos que logo após as últimas eleições. Então, houve um momento de quase paranoia, por causa de uma análise que considero apressada do resultado da eleição. Na minha visão, o povo votou muito parecido em 86 e 88, paradoxalmente votando em gente completamente diferente. Mas acho que as razões que levaram o povo a votar dessa ou daquela maneira não se alteraram. Em 86 o povo votou na mudança. Que mudança? Na mudança que ele identificou no Plano Cruzado, e o Plano Cruzado foi indiscutivelmente uma enorme mudança, enquanto durou. Como é que ele traduziu e como é que ele canalizou esse voto? Ele canalizou esse voto da seguinte maneira: havia uma aliança sustentando o governo, o PMDB e o PFL; no entanto, ele canalizou o voto para o PMDB e não para o PFL. Por quê? Porque ele identificou a expectativa de mudança com o partido que tinha um discurso da mudança. Dois anos depois, o que aconteceu? Eu acho que o povo continuou votando de forma progressista, continuou votando na aspiração de mudanças. Só que ele votou contra quem lhe havia prometido mudanças e não lhe deu mudanças.

ISTOÉ — É verdade que o governador Tasso Jereissati poderia ser vice na sua chapa? .
Covas —
Não creio. O Tasso é um nome possível, mas não acho que ele deixaria um governo de Estado, neste instante, para ser candidato a vice. Mas isso é uma opinião muito pessoal. Em todo caso, não quero dizer que estejamos fazendo qualquer restrição, mas também quero deixar claro que não há qualquer esquema montado com esse objetivo.

ISTOÉ — Até que ponto cresceria a sua candidatura se um certo número de governadores do PMDB de repente se orientasse para as bandas do PSDB?
Covas —
A influência de um governador varia de Estado para Estado, independente do prestígio popular que o governador esteja gozando. É evidente que o peso eleitoral de um governador na área do Nordeste é, em igualdade de condições, maior do que o peso de um governador na região Sul. Há uma independência eleitoral muito maior nos Estados do Sul. Há uma enorme massa popular que enxerga o opressor, automaticamente, em quem está no poder. A miséria é tanta, que tem as suas razões para reagir dessa maneira. Agora, é preciso que um governador esteja numa situação de grande desprestígio para que o seu apoio seja mais negativo do que positivo. Por exemplo, não é muito estimulante ter o apoio do governador Newton Cardoso. O apoio do governador Tasso, pelo contrário, seria muito estimulante, como o de Waldir Pires, para citar outro nome.

ISTOÉ — É o case de dizer que a probabilidade de êxito da sua candidatura será tanto maior quanta maior for o racha do PMDB?
Covas —
Sim, certamente.

ISTOÉ — A sua longa experiência dentro do PMDB lhe diz o quê? Há possibilidade de racha dentro do PMDB?
Covas —
Racha que quebre ao meio, não, não creio que acontecerá. Mas eu acho que o PMDB terá defecções.

ISTOÉ — Por exemplo, o Ulysses seria “cristianizado” se for o candidato? Quer dizer, oficialmente apoiado e traído por baixo do pano?
Covas —
Eu acho que o processo dentro do PMDB, se levar à escolha do Ulysses, já chega com o Ulysses na campanha em situação difícil – o que é até uma injustiça em relação a ele. Ele tem sido penalizado no processo interno, dentro do PMDB, de uma forma que até mesmo aqueles que não pertencem ao partido deploram.

ISTOÉ — Quais são, daqui para a frente, as dificuldades de se acertarem as alianças, e como se organiza uma campanha nacional em função disso?
Covas —
Não temos preocupação com alianças, pelo contrário. Nós começamos por outro caminho, porque nos pareceu que a demanda, neste instante, aponta em outra direção. Nós começamos por formular a nossa proposta e começamos isso quando o partido foi instalado. Foi um longo trabalho e, finalmente, no começo de fevereiro a direção ofereceu à militância uma proposta que é um meio-termo entre programa de partido e proposta de governo. A partir daí, começamos a correr este País e a discutir— e eu já fiz isso em 14 Estados – com a militância, com dirigentes sindicais, com dirigentes empresariais, com a Universidade, a nossa proposta. Ela vai culminar agora no dia 31 de março, quando nós vamos dar o contorno definitivo, valendo-nos das contribuições de todos. A partir dai nós teremos a nossa proposta formulada. Em cima disso vai definir-se a política de alianças.

ISTOÉ — Há um candidato que diz que fará aliança até com o demônio.
Covas —
Não é o nosso caso. Nós temos um patrimônio para oferecer. Temos hoje a terceira bancada da Câmara Federal, a terceira bancada do Senado. De forma que dá para você equacionar esse partidário, mesmo não querendo pauta-se pela proposta. Vale então a história de cada um dos integrantes do PSDB. Eles representam uma média cuja resultante está definida. Eu acho que neste país a gente vive a reclamar que não existem partidos políticos, que ninguém tem propostas, que todo mundo faz promessas e ninguém cumpre nada. Eu acho que a gente precisa começar a acostumar este pais, e quanto mais densamente a gente fizer isso, quanto mais a gente mostrar que não está ligado necessariamente no aliciamento de natureza eleitoral em detrimento da verdade que você acredita, mais pontos você marca, inclusive eleitoralmente. Esse vai ser um instante de demanda muito nítida nessa direção, sobretudo porque você vai usar um meio onde você aparece nu, que é a televisão.

ISTOÉ — Parece-lhe que o Brizola ganha pontos na televisão, ou perde?
Covas —
Teoricamente o Brizola ganha pontos na televisão, porque o Brizola é um homem de grande capacidade de comunicação popular. Eu tive oportunidade de participar com ele de comícios. Na campanha da última eleição nós fizemos um comício juntos, em São Luis do Maranhão, porque lá o partido dele e o meu apoiavam o mesmo candidato, que por sinal ganhou a eleição. Brizola tem, no palanque, facilidade de comunicação popular, uma enorme facilidade. E a tem também na televisão. Mas eu acho que esse instante vai ser um pouquinho mais exigente. As pessoas vão querer respostas claras.

ISTOÉ — Este não seria o forte do Brizola?
Covasn—
Não tem sido. Eu detesto esse tipo de apreciação de natureza pessoal, mas ouço comentários a respeito de um programa feito por ele, recentemente, na televisão de São Paulo. Ele teria ficado muito das generalidades. Eu acho que esse instante é menos das generalidades e mais das especificidades.

ISTOÉ — Duas perguntas em uma. O governador Moreira Franco gostaria de ver os tucanos de volta ao aprisco. Qual é a sua opinião a respeito? Segunda pergunta: será que o PSDB não se formou tardiamente?
Covas —
É possível. Mas, em primeiro lugar, no PSDB nem todos são originários do PMDB, embora sua grande maioria seja ex-peemedebista. Agora, é preciso entender o quanto pesou o gesto da ruptura. Eu não tenho nenhum constrangimento em dizer isso. Eu tenho muito orgulho da história que tive dentro do PMDB e da história do PMFB, a história do MDB que afinal, em alguns instantes como espectador, em alguns instantes como autor, eu ajudei a escrever, muito modestamente, mas ajudei. Eu sou um dos 127 deputados que assinaram o ato de criação, o atestado de batismo do MDB em 1965. Portanto, toda a minha vida política é ligada ao MDB, ao PMDB posteriormente. Não deve ter sido fácil para eu tomar uma decisão desse tipo. E, diga-se de passagem, eu a tomei quando ocupava a posição de líder da bancada na Constituinte, que era seguramente uma das três posições mais importantes da Constituinte. Eu tomei porque esse tipo de decisão você não escolhe o momento, você toma quando sente a necessidade de tomá-la, a obrigação. Feita uma escolha desse porte, a hipótese do retorno me parece afastada.

ISTOÉ — Não há a menor possibilidade?
Covasn—
Eu não a vejo como uma hipótese considerável.

ISTOÉ — Se o sr. tivesse ficado, hoje não seria um excelente candidato do PMDB?
Covas —
Se eu tivesse ficado, e fosse um excelente candidato dentro do PMDB, então estaria negando tudo aquilo que eu digo. Quer dizer, se para ser candidato você tivesse de fazer determinadas concessões, então tudo aquilo que eu estou dizendo em relação ao comportamento de natureza eleitoral não tem validade.