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Ainda no começo da corrida eleitoral de 1989, Guilherme Afif Domingos se apresentou como o “empresário do bem”. Um representante da elite, sem dúvida, mas, segundo seu discurso, cheio de vontade para atacar um dos grandes problemas do Brasil até hoje: a má distribuição de renda. À frente do Partido Liberal, entrou na briga pra valer. Atacou, logo de cara, a poderosa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (“uma estrutura que mama nas tetas do governo”) e bateu forte em Brizola (“é o que de mais conservador e anacrônico existe por aí”). Nesta entrevista, afirmou com todas as letras que o caminho para o crescimento justo do Brasil passaria pelo desenvolvimento da agricultura e disse que a divisão entre esquerda e direita estava apenas na cabeça da elite: “O  povo não anda para o lado, anda para frente”, afirmou.

 

Não deve ser difícil, para um homem que passou a vida convencendo os outros de que a morte é um bom negócio, fazer o País acreditar que ele é um candidato viável à Presidência da República. Guilherme Afif Domingos, 45 anos, ex-vendedor de seguros de vida na sua Indiana de Seguros, ex-presidente da Associação Comercial de São Paulo, ex-secretário da Agricultura do governo Paulo Maluf e hoje candidato do pequeno mas atrevido Partido Liberal, entrou na briga para valer. Para isso, Afif se vale do exemplo de Juscelino Kubitschek, de um intenso trabalho por ora ainda restrito ao círculo dos que ele identifica como “formadores de opinião” e também, por que não, de uma profecia da vidente Neyla Alkmin, de Brasília, que viu nos céus a estrela de Afif brilhando como futuro presidente da República. Afif chegou a estar com Neyla, para ouvir pessoalmente o benfazejo agouro, mas, por via das dúvidas, resolveu adotar o lema de que “Deus ajuda a quem se ajuda”.

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O candidato dos liberais
Estado forte é aquele que não se mete

Assim, sem dispensar a mãozinha do sobrenatural, mergulha numa campanha que, por ora, não faz dele um expoente das pesquisas de opinião pública. Afif não se apressa: a campanha presidencial mal começou e ainda haverá tempo para o eleitor perceber, por exemplo, que ele, Afif, é o verdadeiro Collor de Mello. Com lencinho no bolso do paletó e tudo – para Afif, o lencinho compõe sua imagem e ele não vai fazer nenhuma concessão, mesmo porque acredita que vencerá o candidato que for mais verdadeiro.

ISTOÉ – O sr. é candidato à Presidência da República, em 89, ou ao governo de São Paulo em 90?
Afif –
À Presidência da República. Inclusive o PL foi o único partido que já lançou chapa fechada, exatamente para mostrar que nós não viemos para uma barganha política e sim para nos firmarmos como partido, com uma mensagem. O eleitor está absolutamente confuso e nós não estamos aqui para contribuir com a confusão e sim com a solução.

ISTOÉ – Mas é uma candidatura para vencer ou para abrir caminho?
Afif –
Quando você entra numa disputa, entra para vencer. Essa é a típica eleição onde não há nada definido. Quando dizem que o jogador de futebol tem sorte porque, na boca da área, a bola bateu na canela dele e entrou, desculpe, não é sorte, é que ele estava exatamente pronto para fazer o gol. Será uma de bola espirrada, de melê na área, com campo molhado, encharcado. O que vai ter de escorregão nessa área não está escrito. Isso começa a ser demonstrado pela própria confusão partidária. Portanto, tem chance de ganhar esta eleição quem até o último minuto está disputando o jogo.

ISTOÉ – Mas o espaço que o sr. pretende ocupar não está sendo ocupado pelo governador Collor de Mello?
Afif –
Collor está comprovando a minha tese. Ou seja, que ninguém estava com cadeira cativa na pole position. Só o fato de ele ter aparecido num programa de televisão (ele tinha, é verdade, um posicionamento anterior na mente do eleitor) fez com que o crescimento dele, de uma hora para outra, assustasse muita gente. A mim não assusta. Como ele cresceu também pode baixar, porque esta é a eleição do eleitor buscando alternativa. É um eleitorado onde 90% dos 72 milhões de pessoas estão na mesma situação que eu. Eu vou votar pela primeira vez para a Presidência da República acompanhado de meus filhos de 17 e 18 anos de idade. Portanto, o que é essa geração? Será que ela se identifica com as mesmas raposas políticas dos últimos 30 ou 40 anos da vida brasileira? De forma nenhuma. A crise do PMDB é exatamente porque o seu velho cacique (aliás, que eu estimo pessoalmente) tem excelentes condições políticas e péssimas condições eleitorais. O desejo de Ulysses Guimarães não bate com o desejo do eleitor.

ISTOÉ – Em relação ao Collor, o senhor não está, no íntimo, ao ver os resultados da pesquisa, se perguntando, “por que ele e não eu”?
Afif –
Não. Agora ainda não é a hora. Na verdade, eu acho que o Collor teve um problema sério: cresceu muito antes do tempo. Na corrida de São Silvestre ele seria aquele que, quando a corrida está no seu começo, dispara na descida da Consolação; depois, falta fôlego para a subida da Brigadeiro. Esta é uma corrida de fundo.

ISTOÉ – Por que o eleitor de Collor acabaria votando em Afif Domingos? A sua campanha vai frisar que qualidades, quer dizer, aonde é que vão juntar-se essa expectativa meio perdida do eleitorado e a sua proposta política?
Afif – 
Nesta eleição, você não vai inventar ninguém: ou a pessoa é ou não é. Nesta eleição, com comunicação aberta, o candidato vai aparecer nu, com suas qualidades e seus defeitos. Não vai ter maquiagem. Portanto, você tem que ser o que você é, com a sua mensagem, na forma como você se veste, da forma como você pensa, porque o eleitor hoje está buscando verdade. O eleitor hoje é amadurecido. Enganarn-se aqueles que pensam que o eleitor será enganado por este ou aquele detalhe.

ISTOÉ – O sr. está se referindo a quem, especificamente? Ao Collor?
Afif- 
 Não, estou me referindo ao que o eleitor está buscando (pelo menos é o que as pesquisas indicam, hoje). Até a juventude, creiam, terá uma atitude nesse ponto conservadora. Eu vi pesquisas indicando que 75% dos jovens de 16 a 18 anos irão consultar os pais ou os mais velhos na hora de votar. Portanto, não será uma eleição louca, será uma eleição de reflexão; não será uma eleição do emocional, será uma eleição com forte dose do racional.

ISTOÉ – Por que o sr., um empresário, tem atacado tanto a Federação das Indústrias de São Paulo?
Afif –
 Eu ataco estruturas. Quero deixar bem claro que não estou atacando ninguém, pessoalmente. Tenho amigos na Fiesp. Não misturo pessoa física com pessoa jurídica. Mas tenho atacado a Fiesp, sim, porque eu assisti, na Constituinte, o cartorialismo empresarial brasileiro dizendo uma coisa da boca para fora e fazendo outra.

ISTOÉ – Por exemplo?
Afif –
Em primeiro lugar, os democratas pluralistas defendem com unhas e dentes a manutenção da unicidade sindical e do imposto sindical. Vi a liderança da indústria fazendo acordo com o Partido Comunista, fazendo acordo com o Joaquinzão (Joaquim dos Santos Andrade, ex-presidente da CGT), na manutenção da unicidade e do imposto sindical, que é uma herança da Carta del Lavoro, de Benito Mussolini, de um lado, e do programa do Partido Nazista. Está lá, no Mein Kampf, de Adolf Hitler: unicidade sindical e o imposto sindical são as armas de formação de uma estrutura sindical alimentadora do processo político. Na hora em que eu vejo a representação da classe empresarial brasileira aliando-se com o que há de mais anacrônico e totalitário, ela se curva à triste herança do corporativismo do Estado-Novo e se distancia do pluralismo da democracia econômica. Muitas vezes, a Fiesp sai em defesa do mercado, enquanto setores seus falam em reserva de mercado, em manutenção de subsídios e dos CDIs da vida, das políticas industriais autorizadas pelo governo, do cartorialismo, do assistencialismo.

ISTOÉ – O empresariado, por outro lado, acha que o sr. simplesmente está fazendo o jogo de candidato. Em Brasília, já há empresários dizendo: “Deixa Afif vir com aquela conversa da Sudene.” Parece que tem gente armazenando munição contra o sr.
Afif –
 Eu não tenho telhado de vidro. Não adianta vir com ameaça, não adianta vir no estilo Malvadeza, que comigo ninguém pega: na hora em que eu dou o tiro, o tiro é certo. Quem está tentando me ameaçar é exatamente essa estrutura podre de Sudam, Sudene, dos fundos públicos como um todo, onde grassa a corrupção. Eu quero deixar muito claro que o médico quando vai fazer um exame e apalpa a barriga do paciente e ele urra, é sinal que ali tem tumor. Eu nunca vi uma gritaria forte come esta da estrutura da Sudene, na hora em que eu falei que ali é um antro de corrupção: berrou o triângulo de ferro, que é a estatocracia, os empresários que mamam na teta do governo e os políticos a cata de votos. É exatamente a estrutura que mama nas tetas do Estado; uns com a bandeira do social para expandir os empregos; outros com a bandeira do nacional para continuar mamando na teta porque não têm capital e vão buscar no fundo público manipulado pela estatocracia e o político à cata de votos, sempre aliado da estatocracia, porque é essa que expande os empregos para os seus amigos e parentes, e sempre aliado ao capitalista sem capital porque é esse que lhes financia as campanhas. Eu morri de rir quando recebi telefonemas de alguns empresários “sudeneiros” me dizendo: “Olha, você tem razão mas nós não podemos abrir a boca. Desculpe até a crítica que eu estou fazendo a você, porque, se eu não der essa pancada dura, depois não saem os meus financiamentos.”

ISTOÉ – Este cenário é só no Nordeste, ou é o Brasil?
Afif –
É o Brasil inteiro. Grande parte dos “sudeneiros” está aqui, em São Paulo. É perversa, para o Nordeste, essa política de incentivo fiscal que leva a região a crescer 10% ao ano, em termos de industrialização, e a perder 12%, em renda. O sistema de incentivos fiscais é brutalmente concentrador de renda na de alguns poucos e a explosão da pobreza é uma consequência disso. Portanto, a Sudene tem de ser o órgão do desenvolvimento de todos os nordestinos e não de alguns nordestinos. Há a necessidade urgente de uma devassa em todos os fundos públicos existentes no Brasil.

ISTOÉ – Como é que se controla esse tipo de repasse?
Afif –
Quando você quer fazer uma política de incentivos, ela tem de ser automática. Na hora em que uma empresa se instalou em um lugar A ou B, ela passa a ter direito, automaticamente, à redução tributária. Criando-se a automaticidade de um projeto, há muito pouco risco de ter corrupção. Mas na hora em que se criam os conselhos que vão analisar os projetos a serem beneficiados, então cada projeto tem um intermediário e toda uma máfia que serve essa estrutura de assistencialismo. Surge o funcionário conivente com aquele que a gente chama “projeteiro”, ou que faz o projeto, e que normalmente era lá de dentro, ou circula dentro. Quando denunciei isso na Sudene, quase fui agredido.

ISTOÉ – Como e quando a sua candidatura vai ter cheiro de povo?
Afif – 
Queria lembrar que sou o terceiro parlamentar mais votado do Brasil. Lembrar também que na cidade de São Paulo, tive uma votação superior à do Lula. Uma votação de 508 mil votos não configura uma candidatura elitista. Estamos na fase de contato com os formadores de opinião pública. Na hora da comunicação de massa, vou surpreender a muita gente, porque minha mensagem é extremamente popular, entra na cabeça e no coração das pessoas. Nem por isso vou deixar de usar terno e gravata. O povo não se engana.

ISTOÉ – Num momento em que as pessoas estão tão desiludidas, o sr. pretende dizer, “olha, a gente pode ter sucesso na vida, a gente pode crescer, a gente pode ganhar as paradas", é essa imagem que quer passar?
Afif –
No pior cinturão de miséria de São Paulo, ou do Rio, o que mais ouço é: “Doutor, como é que um país tão rico pode ter um povo tão pobre?” Está no inconsciente coletivo do brasileiro que o Brasil será uma grande nação, é questão de acertar o governo que deixe o povo trabalhar. Isso está na cabeça do mais humilde dos cidadãos. Ele não acredita hoje na política, não acredita nos políticos, não acredita nas instituições, que, afinal, estão a serviço dos poderosos que roubam o povo. Mas todo mundo acredita que o Brasil tem saída.

ISTOÉ – E qual é a saída?
Afif –
A saída do Brasil é a volta às origens.

ISTOÉ – Como assim?
Afif –
É voltar para a agricultura: povo não come nem computador nem parafuso, povo come comida. Na hora em que você disser que o Brasil pode ser o maior produtor mundial de alimentos nos próximos 15 anos, o povo concorda, pois sabe que é viável, ele sabe que, neste País, jogando semente brota. Ele veio expulso da terra porque nós abandonamos totalmente a agricultura para darmos ênfase para a industrialização. Ele acabou passando fome, miserável, nos grandes centros urbanos. O Brasil tem um potencial enorme, mas ele não tem o que comer. Como é isso? Alguma coisa está errada. A saída do Brasil está na agricultura: no Centro, Centro-Oeste, Norte, Nordeste. A força dos Estados Unidos está na terra. O maior produto de exportação americano é o grão: milho, trigo, soja. Os americanos levantam, hoje, em relação ao Brasil, a bandeira da ecologia – imagine, o país que mais matou índio na sua história, o que mais produziu agente laranja desfolhante, o que mais fabrica bombas atômicas, cujas experiências são responsáveis pela mudança do ecossistema. Por quê? Porque os americanos perceberam que, apesar do governinho que temos, dos salafrários que estão no poder, nós passamos de 50 para 70 toneladas de grãos.

ISTOÉ – O senhor vê aí o ímpeto produtivo do ministro íris Rezende?
Afif–  
Chego a rir quando ouço isso. JK, sim, tinha essa visão. Seu projeto para reeleição, em 65, era “cinco anos de agricultura, 50 anos de fartura”. Por que Brasília foi para o centro do Brasil? Porque ali seria a porta de entrada de Canaã, a terra prometida. Como ele tinha implantado, antes, a indústria, capaz de fabricar trilho, vagão, trator, caminhão, navio, estava criada a infraestrutura para o desenvolvimento da segunda etapa do nosso processo de crescimento. Isso foi abandonado. Havia nações interessadas em que o Brasil não descobrisse o caminho do crescimento por aí. E hoje nós – custe o que custar – vamos enfrentar essa concorrência internacional para fazer o Brasil produzir 200 milhões de toneladas de grãos até o inicio do próximo século.

ISTOÉ – O sr. é candidato de centro ou de direita?
Afif – 
Essa história de direita e esquerda só está na cabeça de uma determinada elite. O povo não anda para o lado, anda para a frente. Quem pensa que o comportamento eleitoral é ideológico vai quebrar a cara. Comportamento eleitoral é ético. O eleitorado hoje busca os projetos éticos. O que é um projeto ético? É um projeto não comprometido com a estrutura de poder. A Luiza Erundina foi, em São Paulo, a que mais competentemente mostrou que não estava comprometida com o que aí está. Mas, no Recife, foi o Joaquim Francisco quem fez isso. E o Recife é o centro da esquerda, lá no Nordeste. Há hoje, no Brasil, um buraco onde as candidaturas novas podem entrar. A luta é do velho contra o novo

ISTOÉ – Quem é velho?
Afif –
Todos os que estão há 30 ou 40 anos militando na política.

ISTOÉ – Brizola, Jânio… Mário Covas também?
Afif – 
Corre o risco de ser comprovado que sim, à medida que o PSDB, na cabeça do povo, é o PFL do PMDB.

ISTOÉ – O sr. não acredita em ideologia? O projeto liberal não é ideológico?
Afif –
Acredito em projetos doutrinários – eu não os chamo de ideológicos, ideologia é uma coisa horrorosa. Estou partindo para o campo de doutrina e, aí, os únicos partidos com propostas nítidas são nosso e o do Lula, tanto é que fomos nós que emergimos das urnas com votações contundentes, cada um representando uma corrente de pensamento oposta à outra. Sob o ponto de vista ético, estamos iguais, ambos não temos rabo preso com a estrutura de poder. Portanto, a tendência é nós polarizarmos com o PT, em novembro.

ISTOÉ – O Brizola é um candidato de esquerda?
Afif –
Não. É o que de mais conservador e anacrônico existe aí. Ele é um dos herdeiros do corporativismo, tanto é que as oligarquias nordestinas já estão em marcha batida para ele, porque ele é a maior garantia de manutenção do status quo.

ISTOÉ – Quer dizer, o sr. diria que tem um compromisso social mais avançado do que o dele?
Afif –
Jamais posso ser chamado de conservador. Minha posição de fé na mudança está ocasionando essas reações brutais das oligarquias, tanto empresariais como estatais. Nossa proposta é profundamente reformista, com base num conceito liberal que não é do liberalismo do laissez-faire. Ao contrário, nós queremos é um Estado forte. O que é o Estado forte? É o administrador da igualdade de oportunidades, é o administrador dos direitos individuais e coletivos, que assegura a justiça e a segurança. É o Estado que intervém no sistema econômico quando as regras de mercado estiverem sendo subvertidas.

ISTOÉ – E o Jânio?
Afif –
A gente não pode dizer que o Jânio seja novo, ou moderno.

ISTOÉ – O sr. não teme que, ao longo da campanha, alguém lembre seu passado malufista?
Afif –
Eu conheci Maluf como membro da Associação Comercial de São Paulo, não por vinculação política. Pena que ele não tenha sua carreira como ele a iniciou: foi o primeiro a desafiar a Revolução. Desculpem-me os outros, mas quem beijou a boca do tigre dentro da jaula foi ele. O todo-poderoso Geisel, em 1978, e saiu governador do Estado, desrespeitando uma determinação imperial. Isto me fez muito bem, participar daquele processo de entrar no poder pelas portas do fundo, ante o horror de toda a corte. Participei de tudo como diretor da Associação Comercial. Só depois fui surpreendido com um convite para participar do governo.

ISTOÉ – Para o Banco de Desenvolvimento do Estado, não foi? O que houve no Badesp para seus inimigos estarem murmurando: "Vamos contar aquela história do Badesp?”
Afif –
O que houve no Badesp foi que pude dar sequência à minha luta pelo micro, pequeno e médio empresários. Quando entrei para a Associação Comercial, entrei para lutar, porque eu sou pequeno segurador, e aquela era a época do milagre, em que se pregava a fusão das empresas para formar só grandes estruturas e eliminar os pequenos. E eu comecei a minha luta por ali, mas precisei de uma entidade maior para continuar a minha luta. No Badesp, em nove meses reverti a tendência do banco, passei a fazer um banco de atendimento ao micro e pequeno e eliminei toda e qualquer chance de grandes projetos, exatamente para poder pulverizar mais recursos para a massa dos micro, pequenos e médios empresários. Talvez tenha contrariado alguns interesses. Em 83, fui o primeiro presidente de entidade de classe – que em 82, quando terminou o governo, assumi a presidência da Associação Comercial – a ferir de morte o todo-poderoso ministro Delfim Netto.

ISTOÉ – Como assim?
Afif –
Com aquele despacho do presidente Figueiredo, “é possível suportar isso? Até quando?”. Ou seja, eu fui lá, disse o que estava acontecendo no País e enfrentei o poder. Sabia dos riscos que corria. O presidente fechou a porta do Palácio do Planalto para mim, o Delfim Netto me botou o Imposto de Renda em cima. Quero deixar bem claro: essa gente que está aí travestida, hoje, de democrata, na verdade, quando tinha os instrumentos do poder na mão se comportava de forma autenticamente fascista.

ISTOÉ – Como é que um eventual presidente trataria a CUT?
Afif –
Eu convivo com toda a representação autêntica. Líder, para mim, é aquele que se põe à frente da massa e a comanda com a liderança autêntica. Líder, para mim, não precisa fazer piquete nem esconder ônibus na greve. O PT ficou do meu lado contra a unicidade e contra o imposto sindical. No plenário, houve um acordo entre o Joaquinzão e o Mário Covas – o Covas seguia o que o Joaquinzão determinava – para efeito de negociação trabalhista. Tanto é que o Mário Covas ficou ao lado da estabilidade e depois aceitou a proposta alternativa da indenização quando o Joaquinzão deu o sinal verde. Joaquinzão, então, negociou com o Albano Franco a manutenção do imposto sindical e da unicidade sindical. Eu e o PT na tribuna, contra. Rejeitamos as propostas, houve o acordo final, em que entraram a Confederação Nacional da Indústria, a CGT, o PCB. Votei contra. O PT se absteve, porque, na verdade, ao PT interessava aquele tipo de acordo, porque ele tiraria a castanha do forno pela do gato. O PT ficou docemente constrangido, mas agora tem todos os recursos necessários para fazer o que a CUT está fazendo: os piquetes, esconder ônibus e tudo o que vise utilizar a greve como forma de manifestação política. Quem está procurando dinheiro da campanha do PT no Exterior está muito enganado. O PT tem de agradecer ao Albano Franco toda a soma de recursos que está recebendo.