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Nesta entrevista publicada em abril de 1989, quando a corrida eleitoral ao Palácio do Planalto ainda estava morna, com diversos partidos ainda decidindo quem seriam seus candidatos, Fernando Collor já esbanjava confiança. Apesar de liderar as pesquisas de opinião naquele momento, ainda não havia cristalizado o arco de alianças políticas, econômicas e sociais que possibilitariam sua eleição. Ainda assim, afirmava, categórico, que seria o próximo presidente da República. "Lula e eu estaremos no segundo turno", disse, pouco depois de reconhecer, com rara clareza, que aquela seria uma campanha marcada pela força dos candidatos, e não das ideias. "Como estamos vendo, essa não será decidida pelos partidos, mas em torno de pessoas, de nomes, e isso é muito perigoso. A culpa não é da sociedade, não está na opinião pública, o erro está exatamente na prática política equivocada"

  

ISTOÉ – Há muita gente que continua não levando sua candidatura a sério, mesmo sabendo-se que o sr. está, hoje, à frente da pesquisa Gallup. Dizem coisas assim: “O Collor é bonito, as mulheres gostam dele.” Isso explica seu sucesso nas pesquisas?
Fernando Collor –
Estou na frente porque há uma sintonia entre aquilo que eu venho pregando, e fazendo, e aquilo que espera a sociedade brasileira de um político. Só essa identificação explica o sucesso de uma candidatura de um governador de um Estado pequeno, dos menores do Brasil, inserido em uma região como a do Nordeste, esquecida de todos, uma candidatura sem apoio de nenhum governador, sem apoio de nenhum senador, sem apoio de nenhum deputado federal, sem apoio de banqueiros, empresários e do sistema militar. A população já se cansou da figura do político tradicional. Mais importante do que estar em primeiro é ver que, pela primeira vez, em dois anos, o candidato “poleposition” deixa de sê-lo. Não sei até que ponto o cansaço de velhas fórmulas políticas também não esteja ajudando nesse processo.

ISTOÉ – O voto das mulheres não pesa?
Collor –
Eu gostaria que pesasse tanto quanto o dos homens. Numa pesquisa recente, eu tinha muito mais eleitores no sexo masculino do que no sexo feminino. O que está com melhor performance no sexo feminino é Ulysses Guimarães.

ISTOÉ – o sr. se define um político, mas o eleitorado parece estar vendo no sr. a imagem do não-político, o sujeito que não tem partido, que é uma espécie de cavaleiro andante, que vai arrostando as coisas. Isso pode Ihe beneficiar neste momento. Mas é possível vencer uma eleição presidencial no papel de Dom Quixote?
Collor –
E possível estabelecer uma prática política que esteja associada ao caráter, à honradez, sobretudo à autenticidade. Na minha campanha a governador, rompi com todos os pactos de poder até existentes. Foi uma candidatura em que me contrapus ao poder econômico, à estrutura do poder estadual, ao sindicado do crime, à contravenção penal, a tudo isso. Às vezes, as pessoas diziam: "Sem esses apoios que normalmente dão sustentação a qualquer candidatura, você não vai chegar lá." Ficou demonstrado, na prática, que dá para chegar. Não adianta chegar à Presidência da República inteiramente amarrado com compromissos que irão impedir, no exercício do mandato, que você execute o seu programa de reformas. Você vai ter de pensar, para governar, na nomeação da filha de fulano, da sogra de sicrano e assim por diante.

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Fernando Collor
Antes só do que mal acompanhado

ISTOÉ – O sr. diria que substituiu a ideologia das ideias pela ideologia dos princípios?
Collor –
São as duas coisas, se nós entendermos como princípios, na atividade pública, exatamente esses critérios da dignidade, da seriedade no trato da coisa pública, se nós associarmos a isso o ideal, que eu acalento, de ver um Brasil (sem falso ufanismo e sem nenhuma outra conotação extremada de amor à pátria), um Brasil que a gente se sinta orgulhoso de viver nele. A junção desse ideal de um Brasil socialmente mais justo, de um Brasil que cresça economicamente, com um Brasil em que haja o respeito à autoridade e as instituições sejam respeitadas, é o que me anima nesse processo todo.

ISTOÉ – O sr. pertence à categoria das pessoas que acham que o tempo do ideologia terminou?
Collor –
Existe ideologia, sim, e vejo com muita preocupação a ideologia num plano secundário. Outro dia, vi o Carlos Chagas, na TV Manchete, fazendo uma pesquisa com a intenção do segundo voto das pessoas entrevistadas. Ele perguntava: “Em quem você votaria se a eleição fosse hoje?” E a pessoa dizia: “fulano”. Segunda pergunta: “E se fulano não fosse candidato, em quem você votaria?” Então, percebi que um percentual elevadíssimo dos votos que seriam dados ao Lula viriam para mim, caso ele não fosse candidato, e vice-versa. Outro ponto: “E se o Antônio Ermírio não fosse candidato, em quem você votaria?” 36% dos eleitores do Antônio Ermírio viriam para mim. Aí, procurei verificar o que tínhamos em comum, o Lula, o Antônio Ermírio e eu Liguei para um instituto de pesquisa, o Vox Populi, e perguntei como eles analisavam isso. Eles disseram que, primeiro, essa eleição não vai ser decidida pela questão ideológica. Segundo, que nós três seríamos os únicos fatos novos dessa eleição e que o eleitor vai votar pela renovação, em algo que signifique um basta ao sistema convencional de se fazer política. Mas vejo isso com certa apreensão, como vejo também com muita apreensão o fato dos partidos hoje não estarem servindo como canais de comunicação entre as aspirações da sociedade e os centros de poder. Como estamos vendo, essa não será decidida pelos partidos, mas em torno de pessoas, de nomes, e isso é muito perigoso. A culpa não é da sociedade, não está na opinião pública, o erro está exatamente na prática política equivocada.

ISTOÉ – Ideologicamente, então, o que o eleitor pode esperar do sr.? O sr. é um homem de esquerda, de centro, de direita?
Collor –
Sou basicamente um reformista. Sou progressista, tenho uma profunda preocupação social, até porque sou cristão e me orgulho de sê-lo e de praticar a minha religião. Eu me defino como um reformista cristão, com uma enorme preocupação com esta política econômica desconectada da nossa realidade.

Dilson Funaro seria meu ministro da Fazenda

ISTOÉ – Até agora, o que as pesquisas mostravam era a força de dois candidatos de esquerda e uma desesperada tentativa de se achar um candidato de direita que pudesse neutralizá-los. Com a presente pesquisa, os conservadores não podem passar a pensar que esse candidato o sr.?
Collor —
Os conservadores, ao contrário dos reformistas, são conformistas. Desejam manter a situação do jeito que está, seja porque estão tirando proveito da situação, seja porque têm receio das mudanças. Minha candidatura assusta os conservados e assusta não somente a eles, porque é uma candidatura inteiramente descolada desse sistema. Não estou atrás de apoio de governador, não estou atrás de apoio de senador, da Fiesp (inclusive já tive oportunidade de dizer isto para alguns de seus diretores), não estou atrás de apoio de banqueiro, nem do sistema militar, absolutamente de coisa nenhuma. O meu pessoal diz: “Você vai precisar de parlamentares para ter um maior tempo no horário eleitoral.” Não, eu não posso sair lançando políticos que queiram vir para o partido apenas sob esse argumento de que vou precisar deles. Não, eu vou levar à Justiça minha reivindicação.

ISTOÉ – O sr. concorda com a ideia de que o Lula e o Brizola são candidatos de esquerda?
Collor –
Lula sim, o Brizola não. Lula, é um candidato de esquerda, é um candidato autêntico, é um reformista.

ISTOÉ – Numa área vital como a da economia há gente meio sem saber o esperar do sr. O eleitor pode pensar: “Tivemos aí o Delfim, tivemos o Mário Henrique, tivemos o Reis Veloso, tivemos depois o Funaro." No meio dessa gente, qual será o modelo ideal de ministro da Fazenda do presidente Fernando Collor de Mello?
Collor –
Uma pessoa que estivesse animada pelos mesmos ideais que os meus, com a minha proposta, por exemplo, para reativarmos o setor econômico, para enfrentarmos essa questão da dívida externa, que fosse patriota e que, naturalmente, tivesse competência para isso.

ISTOÉ – Dá a ideia de que o sr. sairia para uma certa confrontação no plano externo, é isso?
Collor —
Isso tem que haver, mas civilizadamente, não no sentido temerário do termo. Com exceção do período em que o ministério foi chefiado pelo Dilson Funaro, o que estamos vendo é que estamos engolindo todas as fórmulas que de fora. Acho que devemos ter autonomia suficiente para oferecer uma solução que atenta aos interesses nacionais. Nessa questão dívida externa, não se trata da gente saber quanto será possível crescer, depois de pagar a dívida externa, mas sim de quanto será possível pagar, depois de garantir o nosso crescimento econômico. No ano de 88, o Brasil alcançou o maior nível de exportações sua história: US$ 30 bilhões que proporcionou um superávit de US$ 19 bilhões. Ao mesmo tempo em que conseguimos isso, o PIB nacional decresceu em 1%, o PIB de São Paulo decresceu em 3% e nós atingimos o menor nível de reservas da nossa história. Estamos com as nossas reservas abaixo daquelas que nós tínhamos quando foi declarada a moratória.

ISTOÉ – Dilson Funaro seria um bom ministro no seu governo?
Collor —
O ministro Dilson Funaro foi um homem de uma correção absoluta, um homem que sempre esteve movido pelo interesse nacional.

ISTOÉ — Mas assinou o decreto que criou a Ferrovia Norte-Sul, antes de se demitir.
Collor —
Não soube desse episódio.


ISTOÉ – Ele deu o seu aval.
Collor –
Eu garanto que ele pode ter dado o aval pelo entendimento que tinha de que a obra era uma coisa importante para o País. Eu garanto que não deu aval à corrupção e ao assalto que foi praticado quando da concorrência.

ISTOÉ — Mas o que torna a Norte-Sul ruim é a concorrência ou é a obra em si?
Collor –
Não é somente a obra da Norte-Sul, mas é lamentável que, no Brasil, quando se fala em qualquer obra pública se tenha que associar com a corrupção.

ISTOÉ – O sr. fala em retomada do crescimento, mas de onde viria o dinheiro para financiar essa retomada? Vem do Exterior, da iniciativa privada ou do setor público, que está muito desprestigiado par questões de empreguismo e de corrupção?
Collor –
Sou contra a síndrome: “Não, nada de capital externo, vamos salvaguardar os interesses da empresa nacional.” o capital externo só vem para um país se ele tiver respostas para três perguntas: “Quanto eu vou ganhar, quando eu vou ganhar e em que eu vou ganhar.” Só quem pode dar essas respostas é aquele que estabelece a política econômica do país, no caso o governo. No último dia 11, terça-feira, estive na Comissão da Dívida Externa do Senado e pude apresentar o meu projeto econômico de governo, onde está incluída a questão da dívida externa que, entendo eu, seja o nó górdio de toda essa questão. A proposta que apresentei, com base no entendimento de que nós não podemos abrir mão do nosso crescimento econômico, e com base no estabelecimento de uma taxa de crescimento entre 6% e 7% ao ano como única maneira de fazer ingressar no mercado de trabalho de 1 milhão e 700 a 2 milhões de pessoas por ano, pressupõe isso: caixa. A proposta é retirar o aval da União de todos os contratos da dívida externa e, com isso, acarretar a negociação descentralizada dessa dívida. Essa negociação descentralizada faria com que houvesse uma auditoria compulsória nessa mesma dívida, porque no momento em que você deixa a Petrobras, por exemplo, negociar a sua dívida com os bancos credores, os seus diretores vão se sentar e examinar, ver a origem daquela dívida, qual foi aquela divida contraída não para atender aos interesseses da estatal em si, mas para cobrir buracos de outros lados etc.

Não sou amigo de ACM. Em 86, ele veio ajudar meu adversário

ISTOÉ – O sr. disse que à sua campanha faltariam os apoios tradicionais que cabem a um candidato conservador. Mas Brizola está nos jornais dizendo que o sr. é o candidato do dr. Roberto Marinho e do ministro Carlos Magalhães.
Collor —
Não sou o candidato do dr. Roberto Marinho e tampouco sou o candidato do ministro Antônio Carlos Magalhães.

ISTOÉ — Mas em que se baseia para dizer isso?
Collor –
Não sei. Talvez pelo fato de eu ser de uma família de jornalistas, tradicionalmente ligados ao setor de comunicações. Mas, na verdade, não existe nenhum fundo de verdade nessa afirmação do ex-governador.

ISTOÉ – Ele puxou o Antônio Carlos Magalhães de qual cartola?
Collor –
Não tenho a menor ideia.

ISTOÉ – O sr. é amigo dele?
Collor —
Ao contrário. Eu sofri, ao longo da minha campanha para governador, em 1986, uma ação terrível encetada pelo presidente da República, por intermédio dos seus ministros, em Alagoas. Três ministros estiveram lá com muita assiduidade, os ministros Jorge Bornhausen, Marco Maciel e Antônio Carlos Magalhães, todos os três falando em nome do presidente da República e todos os três embalados pelo sucesso do Plano Cruzado. A bem da verdade, o que se disse pela imprensa, de que o Plano Cruzado serviu para ajudar aos governadores do PMDB, no caso lá de Alagoas foi o contrário, porque o meu opositor era presidente nacional da Frente Liberal. E chegou a ser dito em Alagoas, na campanha, não sei por quem exatamente, mas por um dos ministros, de que esse meu opositor havia colaborado na elaboração do Plano Cruzado. Isso era muito forte, naquela ocasião.

Maluf estava derrotado. Mas eu tinha de respeitar o meu partido

ISTOÉ — Os dois principais partidos ainda não definiram o seu candidato, quer dizer, o quadro eleitoral pode mudar muito. O sr. torce para que o PMDB, por exemplo, saia com quem?
Collor —
As dificuldades que os dois maiores partidos têm, hoje, de encontrarem os seus candidatos são o recibo que o Brasil está passando a duas agremiações que se associaram em um condomínio que levou à falência o edifício da Nova República. Essa fatura está sendo debitada na conta do PMDB e do PFL. Independente do candidato que um ou outro venha a lançar, isso em nada no resultado final.

ISTOÉ – O PMDB está, portanto, batido, qualquer que venha a ser o seu candidato?
Collor —
Qualquer que venha a ser o candidato. Tanto ele quanto o PFL.

ISTOÉ – Se o candidato for o Quércia, por exemplo, ele será “Quércia, o candidato do Sarney”?
Collor –
No meu entender, o candidato que menos desune o PMDB é o dr. Ulysses; o candidato que mais desune o PMDB é o governador Quércia, sendo que o Ulysses, do ponto de vista eleitoral, é muito mais fraco do que o Quércia. O PMDB terá que jogar com essas variáveis para saber qual a custo/beneficio que lhe favoreça.


ISTOÉ – O sr. não acredita na Nova República antes mesmo de ela existir, pois votou no Maluf contra o Tancredo, não é?
Collor —
As atitudes todas que eu venho tomando obedecem a uma profunda coerência. Como deputado federal, eu votei contra os decretos salariais do governo; estive nas Diretas-Já; votei no candidato do meu partido e não fugi assustado para o barco vencedor, que se sabia vencedor dois meses antes das eleições.

ISTOÉ — O que pesou mais no seu voto: o partido, o candidato Maluf, o candidato do outro lado, a debandada geral, o presidente Figueiredo?
Collor —
O que pesou foi o respeito a uma decisão partidária. Quando a gente fala, hoje, sobre por que os partidos se encontram assim, tão sem respaldo, sem confiança, é exatamente por isso: porque as pessoas ingressam em um partido sem terem a preocupação primeira de lerem o seu programa e saberem se estão de acordo, se podem cumprir o seu programa. Então, que prática democrática é essa que só aceita o resultado de uma convenção partidária desde que ela lhe favoreça? Eu cumpri com os meus deveres, em relação ao partido, até o instante, como cumpri em relação ao PMDB. Eu li o programa do PMDB e disse: “Vou cumpri-lo.” Houve a questão da moratória (isso está no programa do PMDB) e eu fui o único governador que defendeu a moratória. Seria muito fácil para mim me associar àquele movimento, no mínimo pouco responsável, de alguns políticos que, enquanto o ministro Funaro negociava fora, estavam tramando a derrubada do ministro aqui dentro, ministro que tinha estabelecido um plano que tanto os ajudou a se elegerem. Na questão do mandato do presidente da República eu fui o único governador que se posicionou, desde o início, por um mandato de quatro anos para os presidentes da República. No dia seguinte à aprovação do mandato dos cinco anos — para a qual concorreu decisivamente o voto do PMDB — eu deixei o partido.

ISTOÉ — Quando o ex-ministro Passarinho diz que se o sr. for eleito presidente, ele se manda para o Paraguai, o que é isso? Ele sabe de alguma coisa que ninguém sabe?
Collor —
Ele não com que se preocupar, porque no meu governo eu vou garantir um julgamento justo para todos.

No segundo turno, estaremos os dois melhores: Lula e eu

ISTOÉ – Do fundo do coração, o sr. acredita que realmente tem chances de ser presidente?
Collor –
Sem nenhuma presunção, eu sou o futuro presidente da República.

ISTOÉ – De onde vêm esses votos que estão na pesquisa?
Collor —
 É multifacetado, como multifacetada é a sociedade brasileira. É a busca em torno do novo, da renovação, da reforma, da coragem de tomar atitudes, da disposição de enfrentar os problemas. Todos aqueles que de alguma maneira estejam indignados com a situação atual são potencialmente meus eleitores, todos eles.

ISTOÉ – Isso pressupõe um voto de protesto. E isso?
Collor –
Não seria somente o de protesto. O descontentamento será canalizado para aquela pessoa que os eleitores identifiquem com capacidade de amenizar ou acabar com essa sua indignação, ou seja, aquele em condições de resolver os problemas que estão afligindo a nação. Não basta se indignar e eventualmente escolher um candidato que sirva apenas como voto de protesto. Mais do que o voto da indignação, é a confiança que esse voto indignado tem de que aquela pessoa para quem ele foi colocado resolva as questões e enfrente os problemas.

ISTOÉ – Então esse voto não iria obrigatoriamente para o Lula?
Collor –
Pode ir. Eu sempre venho dizendo que o candidato que eu reconheço como reformista, que eu entendo ser um candidato que desperta também a vontade do indignado de votar é o Lula. E por isso que acho que estaremos no segundo turno, o Lula e eu.

ISTOÉ – O sr. vai até o fim sem o apoio de um grande bloco partidário? Dá para encarar uma eleição presidencial assim?
Collor –
Lá em Alagoas, nós tivemos uma coligação de onze partidos. PMDB, PC do B, PCB, PTB, enfim, uma frente muito heterogênea. Deus e eu sabemos as dificuldades que eu tive para conseguir diminuir as arestas, acomodar as diversas tendências, sem que esse bloco se rompesse. Quando você coloca essa questão de fazer um bloco, isso me faz tremer nas bases.

ISTOÉ – Agora, esses partidos que estão aí no País de Fernando Collor de Mello, não sobra nenhum. Não sobra o PT?
Collor –
Depende da prática.

ISTOÉ – Mas, digamos, o PMDB é um partido duradouro? O PFL é um partido duradouro? O PDS?
Collor –
Está é uma pergunta que só o futuro poderá nos responder. Há um fato importantíssimo que está prestes a ocorrer, que é a eleição de novo presidente da República. O novo presidente da República será eleito por 40 a 45 milhões de votos, mais da metade dos eleitores. Ele virá numa onda de esperanças renascidas enorme. Ele será o fato novo. À volta dele deve surgir, naturalmente, um partido fortíssimo, com as migrações que nós sabemos que existem, por essa falta de identificação muito clara entre filiados e partidos. Mas eu não posso realmente afirmar que o PMDB venha a acabar. Esperava-se que o PDS se acabasse logo depois do episódio do Colégio Eleitoral e ele continua aí, e renasceu, com alguma força, sobretudo no Sul do País, na região tida como a mais politizada do Brasil.

ISTOÉ – Quem vai ser seu vice, Mário Covas ou Waldir Pires?
Collor –
O meu vice, acredito, deve ser do Centro-Sul, uma pessoa mais velha do que eu… mas isso fica para depois.

ISTOÉ – Você tem um especial preparo físico para a campanha?
Collor –
Tenho. E bom. Inclusive para suprir a deficiência eventual de companheiros.


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